Nas últimas décadas, surgiram novos tipos de pais. Dos ansiosos pais-helicópteros às ferozes mães-tigresas, esses estilos diferentes têm algo em comum: tendem ao overparenting, a parentalidade excessiva. Isso acontece quando os pais gerenciam a vida de seus filhos nos mínimos detalhes – dando a eles pouca autonomia, pressionando-os demais para alcançar sucesso acadêmico e pessoal e oferecendo a eles poucas chances de experimentar o fracasso e a frustração.
São os pais que voltam correndo à escola quando o filho esquece o estojo, fazem a lição de casa dele e checam com outros pais no grupo do WhatsApp quando o filho diz que não tem lição de casa para amanhã. Esses pais acreditam que seus filhos estão no centro de tudo. Eles enfrentarão professores se a criança sentir que foi tratada injustamente e outros pais se seu filho não for convidado para uma festa.
À medida que seus filhos crescem, esses pais decidem quais cursos eles devem fazer e não permitem que os adolescentes se desloquem sozinhos, porque temem que possam ser sequestrados. Esses pais podem muito bem acompanhar seus filhos em entrevistas para entrar em algum curso especial ou até mesmo em entrevistas de emprego.
Embora não haja dúvida de que esses comportamentos dos pais são atos de amor, o problema é que, ao procurar assegurar que os filhos nunca falhem em uma tarefa ou experimentem penalizações ou decepções, esses pais não estão deixando que eles falhem. Como resultado, através da parentalidade excessiva, eles estão efetivamente impedindo o desenvolvimento de seus filhos.
O poder do fracasso
Ao aprender a superar o fracasso, as crianças desenvolvem a resiliência. Elas aprendem a lidar com a frustração e a regular adequadamente suas emoções. E é crucial que as crianças desenvolvam essas habilidades durante a infância para poder levar uma vida bem-sucedida.
A maioria das pesquisas sobre parentalidade excessiva se deteve em como isso afetou estudantes universitários. Mas a ligação entre pais demasiadamente envolvidos e consequências negativas é encontrada ao examinar crianças de todas as idades. De fato, crianças em nível de educação infantil e nos primeiros anos do ensino fundamental que têm pais assim tendem a manifestar altos níveis de timidez e ansiedade e relações ruins com os colegas.
Quando a pesquisa recai sobre adolescentes e universitários, essas consequências negativas continuam. Por exemplo, estudantes de 16 a 28 anos que relataram ter pais-helicóptero tinham mais probabilidade de ter baixos níveis de confiança em suas próprias habilidades e de ter relacionamentos ruins com seus colegas.
Em pesquisas semelhantes, os jovens que relataram ter pais muito sufocantes experimentaram níveis mais altos de depressão e estresse, menos satisfação com a vida e menos capacidade de regular suas emoções. Eles também relataram um maior senso de privilégio e maior uso de drogas do que outros jovens.
Ruim para filhos e pais
A parentalidade excessiva não tem consequências negativas apenas para as crianças. Os pais que têm essa postura são mais propensos a experimentar altos níveis de ansiedade, estresse e arrependimento. Isso tem, novamente, consequências negativas para os filhos, que podem assimilar a ansiedade dos pais e fazê-la sua.
Essa pode ser uma das razões pelas quais o número de universitários que lutam contra a ansiedade e a depressão está no nível mais alto de todos os tempos. De fato, uma pesquisa recente concluiu que um em cada cinco universitários do Reino Unido sofre de altos níveis de ansiedade.
Então, os pais devem recuar e não se envolver em nada na vida de seus filhos? Nem tanto. As pesquisas mostram claramente que as crianças que têm pais bem presentes tendem a se sair melhor na escola, a ter melhor autoestima e a desenvolver melhores relações com os colegas do que as crianças cujos pais não são tão envolvidos.
Filhos cujos pais são carinhosos, amorosos e têm grandes expectativas em relação a eles tendem a se sair melhor do que filhos de pais frios e indiferentes. A dificuldade está em estabelecer qual é a quantidade certa de amor e exigência. Portanto, o principal aspecto que os pesquisadores estão tentando estabelecer é qual é o nível ideal de envolvimento dos pais.
Não há dúvida de que os pais querem proteger seus filhos e evitar que se machuquem, mas também é necessário refletir a respeito de quando esse nível de proteção se torna excessivo. Então, da próxima vez que seu filho se esquecer de levar o estojo para a escola, pense duas vezes antes de levá-lo a ele.
A vida inevitavelmente traz problemas e decepções. É melhor ensinar as crianças a enfrentar esses problemas em vez de resolver todos os problemas delas. Ao fazer isso, os pais ajudarão os filhos a desenvolver a resiliência e a capacidade de lidar com a frustração – ferramentas que lhes permitirão evoluir quando deixarem a casa dos pais.
*Professora de Psicologia na Universidade de Winchester, no Reino Unido.
©2020 The Conversation. Publicado com permissão. Original em inglês.