Lucian Haro, especial para o Sempre Família
Na maioria das vezes é sem querer. Aline era adolescente quando ouviu da mãe uma frase que a marcaria para sempre. Elas tinham ido à uma loja de roupas comprar uma blusa. “Sempre sofri com o excesso de peso e estava bem gordinha naquela época. Experimentei a blusa, saí do provador e perguntei para ela se tinha ficado bom”, lembra.
A resposta foi direta e inesperada: “É claro que não ficou bom, roupa nenhuma fica bem em gorda”, disse a mãe. Hoje, aos 40 anos, Aline ainda sofre as consequências daquele episódio. “Até hoje não consigo entrar numa loja para comprar roupa sem me lembrar de cada palavra que ela disse. Foi muito forte para mim”, revela.
O relato de Aline está no livro “Bullying sem blá blá blá” dos psicólogos Marcos Meier e Jeanine Rolim e mostra a realidade de muitos pais que “derrapam” na difícil missão de educar os filhos. “Na maioria das vezes eles fazem sem querer, mas não sabem o efeito que isso pode ter lá na frente”, explica Jeanine. “Se a mãe estava preocupada com o peso da menina, havia outras formas de dizer isso. Atitudes tóxicas podem marcar a criança para a vida toda, exatamente como aconteceu”, pondera.
Já Marcos Meier compara a educação dos filhos a um trem que anda sobre dois trilhos: um do afeto e outro da autoridade. “Esses dois trilhos precisam ser do mesmo tamanho e seguirem no mesmo caminho. Caso um deles esteja quebrado, o trem pode descarrilhar ”, explica.
A pedido do Sempre Família, os especialistas fizeram uma lista com cinco hábitos tóxicos dos pais que podem contaminar os filhos. Veja:
1. Manipulação
Os pais manipuladores são aqueles que usam as emoções boas do filho para conseguir persuadi- lo. É aquela mãe, por exemplo, que quando a filha cresce diz: “Minha filha, você é tão inteligente e tão querida. Eu tenho certeza que uma pessoa com essas qualidades jamais abandonaria a mãe para morar em outro lugar”. Isso acaba “acorrentando” a filha emocionalmente à mãe. É bem provável que essa jovem deixe de estudar, de aprender novos idiomas e de querer crescer profissionalmente pelo medo de ter propostas boas de emprego e de ter que sair de perto da mãe
2. Comparações
“Como você ainda não fez? Seu irmão já fez”. A comparação entre os irmãos é péssima para a autoestima da criança. Com o passar do tempo, ela aprende a se comparar com os outros e sempre vai achar que está em desvantagem. Se torna uma daquelas pessoas que não se valorizam. Os pais têm que aprender a comparar os filhos apenas com eles mesmos: “Nossa, filho, antes você não conseguia fazer isso e agora já consegue. Parabéns, como você está crescendo” funciona melhor
3. Alienação parental
No caso do fim do casamento, uma mãe tóxica colocaria na cabeça dos filhos que eles foram abandonados pelo pai (mesmo que ele continue tendo contato com as crianças e sendo presente na vida delas). “Seu pai está contra mim”, “ele não gosta mais da gente”, “nunca mais vai voltar”, são frases que elas costumam usar. Com isso, a criança se sente mal e tende a fazer de tudo para agradar a mãe e aliviar a dor dela. Mais um tipo de dependência tóxica que pode refletir lá na frente
4. Falta de autonomia
Outro hábito dos pais tóxicos é não desenvolver a autonomia da criança, aqueles pais que resolvem tudo pelo filho e dizem que fazem isso porque amam muito. Exemplo: a mãe que sempre escolhe a roupa que a criança deve usar mesmo quando ela já é capaz de fazer isso sozinha. Nesse caso, é comum que a criança cresça achando que só a mãe, ou só o pai, sabem tomar decisões corretas – e isso interfere na vida adulta. É aquela pessoa que não se posiciona frente aos problemas e sempre diz: “A minha disse”, ou “o meu pai falou”. Vai enfrentar dificuldades quando precisar se impor
5. Focar no filho e não no problema
“Sai para lá, sua atrapalhada, deixa que eu faço”, “como você é preguiçoso”, “seu relaxado”. Expressões como essas não são nada saudáveis no relacionamento entre pais e filhos, porque focam na criança e não no problema. Aqui vai uma dica: se o quarto do seu filho está bagunçado, por exemplo, você pode até mostrar indignação dizendo “olha só a bagunça que está esse quarto”, mas nunca foque nele como problema. Os pais tóxicos optam por ferir o filho do que se concentrar para resolver o impasse.
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