A mãe que dá colo, o pai que apresenta o mundo. Como numa dança, ou num movimento de sístole e diástole, o papel do pai e o da mãe contribuem juntos para o florescimento das potencialidade de seus filhos. Essas distinções culturais, muito ligadas aos próprios processos biológicos que envolvem a paternidade e a maternidade, não são simples estereótipos – embora possam se tornar quando engessadas e exageradas.
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“Pensando no desenvolvimento infantil, o papel paterno está mais relacionado à abertura da criança para o mundo, à socialização – diferentemente do papel materno, ligado às características de segurança, conforto e proteção”, diz a psicóloga Ana Caroline Bonato da Cruz. “Essas diferenças são compreendidas pelas funções de cada um desde a gestação até o primeiro ano de vida, aproximadamente, sendo o pai – ou aquele que representa tal função – aquele que sinaliza para a criança que o mundo é muito mais do que ela e a mãe”.
O psicólogo João Holanda corrobora: “De modo geral, a gente observa o pai como aquele que coloca o filho ‘para fora’, para explorar, para se aventurar no mundo. É aquela figura que diz: ‘Vai lá, você consegue. E se você não conseguir, estou aqui com você’ – e essa é uma distinção importante para ter em mente: ‘Estou com você’, e não ‘por você’”.
“É importante para o nosso desenvolvimento termos esses desconfortos para sair e explorar, descobrindo do que somos capazes, mas sem entrar em riscos desnecessários”, explica o psicólogo. “O pai é então essa figura que empurra para fora da zona de segurança, mas ainda mantém dentro da zona de cuidado”.
A dinâmica específica desse papel faz toda a diferença. “Tal dinâmica tem sido observada nos resultados de pesquisas recentes sobre envolvimento paterno que sinalizam influências diretas no desenvolvimento infantil, na socialização e na regulação de humor das crianças”, comenta Ana Caroline.
Acima de tudo, a presença
Essas características evitam o estereótipo quando se tem atenção à reconfiguração do papel do pai e da mãe nas últimas décadas. São distinções que, ainda que caracterizem o estilo de cuidado de cada genitor, não vivem do preto no branco, como se houvesse uma linha claramente demarcada entre elas.
“Com a inserção da mulher no trabalho externo e o aumento de número de divórcios, os papéis de mãe e de pai precisaram ser revistos para dar conta de um novo momento. Isso fez com que o papel do pai se expandisse, em especial no que diz respeito a qualidade de vínculo formada com seus filhos. Afinal, o pai deixa seu lugar exclusivo de provedor financeiro e passa a se apropriar e partilhar cuidados de outra ordem na família”, afirma Ana Caroline.
Daí a importância da presença. “Quando a gente fala da paternidade hoje em dia, a presença é o mais fundamental. Isso vai além da presença física. Muitas crianças moram com o pai, mas o pai não diz ‘eu te amo’, não olha nos olhos, não sabe nada da sua rotina, isto é, não está presente afetivamente na sua vida”, sublinha Holanda.
Claro, por uma série de razões, nem sempre está ali a figura que cumpre esse papel parental masculino. “Em tais situações, é comum que uma referência seja eleita. Essa pessoa irá oferecer as crianças um segundo modelo – diferente daquele oferecido pela mãe. Ter uma nova referência para o papel paterno – como um padrasto, tio, padrinho etc. – não é um problema e pode ser muito benéfico. É importante, no entanto, que a criança tenha clareza do vínculo que tem com essa pessoa”, aconselha Ana Caroline.