Os encontros com amigos precisaram ser cancelados, os passeios adiados e até seu contrato de trabalho foi suspenso. No entanto, a paranaense Maria Fernanda Calderari, de 52 anos, encontrou na pandemia de Covid-19 a chance de reviver momentos da infância e de fortalecer o vínculo familiar. “Foi como voltar no tempo”, conta a psicopedagoga e professora de História da Arte.
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Filha do artista plástico Fernando Calderari, de 82 anos, ela cresceu vendo o pai produzir quadros reconhecidos mundialmente e dar aulas de pintura na Escola de Música e Belas Artes do Paraná (Embap). “Eu ficava horas contemplando o trabalho dele”, relata Maria Fernanda, que também usava uma pequena tela, alguns pincéis e tinta para pintar com o pai. “Assim eu não passava o dedo ou o pincel no que ele estava fazendo no cavalete”, recorda. “Eu era bem arteira e perigosa”, brinca.
No entanto, ainda que gostasse da diversão como artista, Maria Fernanda não escolheu a pintura como atividade profissional e nem imaginou seguir os passos do pai. “Até a pandemia chegar”, comenta. Segundo ela, a necessidade de isolamento devido aos protocolos de saúde fez com que o idoso deixasse de ir até seu ateliê na região central de Curitiba. “Então, como moro com ele desde que minha mãe faleceu, acabamos passando ainda mais tempo juntos”.
E foi a oportunidade perfeita para que a filha voltasse a observar o pai trabalhando, lembrasse da infância e decidisse pintar novamente. “Estávamos em casa e eu me perguntei: por que não aproveitar essa oportunidade para aprimorar minha técnica e me dedicar à pintura com o pai e mestre de tantas gerações?”, conta. “Foi então que comprei o material que precisava e comecei”.
Momento "pai e filha"
As aulas particulares renderam muitas conversas, lembranças, trocas de experiências e observações importantes para o novo trabalho da curitibana. “Afinal, ele é exigente e crítico”, relata a Maria Fernanda, que também recebeu muito incentivo e vários elogios do pai. “Uma honra para mim como filha e admiradora”.
Além disso, os momentos com o idoso fizeram bem à saúde mental dela e a ajudaram a lidar melhor com as incertezas e temores causados pela pandemia. “Eu conseguia me desconectar, mesmo que por alguns minutos, do que ocorria no entorno. Foi relaxante e terapêutico”, garante a psicopedagoga, que também viu a alegria do pai ao ter companhia durante o trabalho. “Foi muito marcante e saudável para nós dois”.
Por isso, mesmo após voltar ao trabalho como professora de História da Arte – depois de quatro meses com contrato suspenso – a paranaense decidiu continuar pintando com o pai, recebeu diversas encomendas e tornou esta, a sua nova atividade oficial. “Agora eu trabalho no colégio à tarde, e pela manhã e à noite, eu pinto”, diz a paranaense, feliz por ter aproveitado o difícil período de isolamento para se conectar ainda mais com seu pai e aprender tanto com ele. “A pandemia foi determinante para isso”, conclui.
