Na empresa familiar tem que se distanciar do lado afetivo e criar a cultura profissional, mesmo que com a sucessão entre pai e filho.| Foto: Bigstock
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Dificilmente alguém inicia um negócio pensando em uma data para fechar. Normalmente a ideia é que as coisas prosperem, a empresa cresça e, se possível, que os filhos e netos sigam trabalhando no ramo e deem continuidade ao empreendimento. Só que nem sempre a vida se encaminha como planejado e, em muitos casos, os filhos não têm os mesmos sonhos do pais. Isso é bem comum, mas não é motivo para gerar discórdia em família.

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“Sucessão é um processo complexo e desafiador. Exige conversa e diálogo, claro, porque os conflitos vão aparecer”, afirma Jocely Burda, psicóloga e coordenadora do núcleo de empregabilidade da Faculdade Estácio Curitiba. Os impasses, entretanto, não precisam ser negativos, de acordo com ela. Mantendo o respeito e a cordialidade essas discussões podem ser enriquecedoras para as partes envolvidas.

A primeira coisa a se pensar, segundo a psicóloga, é que um gestor precisa estar motivado, comprometido e ter competência e conhecimento para assumir o cargo. Se o herdeiro de uma empresa não tem esse perfil ou não reúne essas características, dificilmente a sucessão dará certo. “A empresa vai perder e a relação familiar vai ficar abalada”, alerta Jocely.

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Por isso o mais importante é que os pais saibam respeitar a escolha dos filhos. “Acontece de não ter um substituto. Aí procura um sócio, arrenda, vende, procura outras empresas”, aconselha Jocely. Allan Esron Pereira Inácio, professor e coordenador do curso de Administração da PUCPR, especialista em contabilidade e finanças e mestre em organizações, ressalta que o lado sentimental deve ser deixado de lado ao falar de negócios. “Em uma empresa familiar tem que se distanciar do lado afetivo para criar uma cultura profissional mesmo que ocorra a sucessão entre pai e filho”, diz.

Para o professor essa estruturação é necessária para delimitar o papel de cada um dentro da empresa e tornar a sucessão um processo eficaz. Ele também não acha ruim que uma pessoa da família não queira assumir o negócio pois laços sanguíneos inspiram uma confiança que nem sempre é benéfica. “Usufruir da confiança de um parente é salutar, mas não pode deixar que isso extrapole as fronteiras da boa gestão e da capacitação. Excesso de confiança pode te cegar para premissas que são importantes para a saúde da empresa”, analisa ele.

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Jocely ainda sugere que os pais deixem os filhos escolherem o próprio rumo e revela que muitas vezes, naturalmente, as escolhas acabam trazendo-os de volta. Foi o que aconteceu com a Alessandra Hardt, filha do dono de uma construtora. Ela optou primeiro pela arquitetura e depois estudou direito. Fez estágios durante a faculdade e só perto dos 30 anos tomou a decisão de trabalhar com o pai. “Quando era mais nova não queria nem saber de trabalhar com meu pai, mas com o passar dos anos foi se tornando uma escolha tão lógica e natural, que hoje adoro vir para a empresa”, conta ela.

A advogada explica que não tem regalias por ser filha do chefe e é tratada como todos os outros empregados da empresa. “Eu tenho salário, bato ponto e devo satisfação, assim como todo mundo que trabalha comigo”, admite Alessandra. E esse é outro ponto fundamental, na opinião de Allan. “Governança corporativa é isso. Tem empresa em que filho do dono não vira presidente, diretor, conselheiro se não tiver capacitação”, reforça ele, que conclui: “trocar experiências é o melhor caminho para o sucesso”.