“Eu gostaria de beijar, abraçar e dizer com facilidade ‘eu te amo’, mas não consigo”, desabafa a curitibana Andrea Silva*, de 41 anos. Abandonada por sua mãe biológica logo após o nascimento, ela foi criada pela avó paterna sem demonstrações de carinho durante sua infância e adolescência. “Cresci sem amor”, afirma a mulher, ao relatar que o pai também não lhe dava atenção e que a idosa citava diariamente que não era sua mãe.
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Andrea engravidou aos 15 anos e não sabia como demonstrar carinho pelo seu primogênito e nem pelos quatro filhos que nasceram depois. “Eu queria ter sido mais presente na vida deles quando eram menores, mas sentia dificuldade”, conta, ao citar que até hoje se esforça muito para expressar o amor que sente. “Tento agir de forma diferente com meus filhos, mas não é fácil”.
De acordo com a psicóloga Mariana Mansur Santos, casos como o de Andrea, de não conseguir expressar afeto pela família ocorrem por diversos motivos, mas o principal é a falta de carinho durante a infância. “A criança aprende por meio da interação com os outros, então, se ela não recebe afeto, pode ter problemas para demonstrar depois”, explica a coordenadora do Conselho Regional de Psicologia do Paraná (CRP-PR).
Isso pode interferir, inclusive, na maneira que a criança tratará sua família no futuro, mesmo que ela queria agir de maneira diferente. “Um pai que apanhava quando era pequeno, por exemplo, pode decidir não bater no seu filho, mas acabar violentando ele com palavras, ações e falta de carinho”, aponta.
E o mesmo pode acontecer com adultos que compram para o filho tudo o que não ganharam na infância, mas não sabem demonstrar amor por eles. “Aí o pequeno ganha coisas, mas não há troca, conversas e nem carinho”, lamenta a psicóloga, ao convidar esses pais para avaliarem suas ações. “Comece lembrando como se sentia quando seus pais não lhe davam carinho”, incentiva. “Você pensava que era rejeitado ou que não era visto por eles? Como gostaria que tivessem agido?”, questiona.
Como demonstrar carinho?
Após essa análise, será importante avaliar quais demonstrações de afeto existem dentro da sua casa e se algo pode ser alterado. “Lembrando que carinho não é somente toque físico”, aponta a psicóloga, ao afirmar que também é possível expressá-lo na forma de cuidado e incentivo. “Ou seja, os pais podem ter dificuldade para abraçar, mas acordam cedo para preparar o café do jeito que os filhos gostam, os levam para lugares que precisam ir ou buscam no ponto de ônibus, por exemplo”.
E como as demonstrações de amor são diversas, é necessário avaliar o contexto do lar para perceber se os filhos realmente sentem falta de mais afeto ou se os pais estão se cobrando porque viram isso na rede social de alguém. Então, “fique atento se eles, seu cônjuge ou outra pessoa têm falado que se sente mal com a forma que você está agindo”, orienta a especialista.
Na maioria das vezes, segundo ela, os pais percebem que o que está faltando não são abraços, mas tempo de qualidade em família. Então, é necessário conversar com o filho, realizar atividades com ele e compartilhar a própria experiência de infância, assim como Andrea* decidiu fazer. “Minha família sabe como fui criada, então entendem que eu transmito amor de outras formas”, relata. “E eu os amo demais! Faço o possível e o impossível para que sejam pessoas boas e honestas”, garante a curitibana, tentando expressar o que sente.
De acordo com a psicóloga, isso é essencial para que os filhos conheçam a dificuldade dos pais, percebam que são amados e até busquem formas de trocar carinho em família. “Afinal, a comunicação facilita tudo”, garante Mariana, ao sugerir psicoterapia para os casos em que o diálogo não acontecer de forma eficaz. “Aí a família precisará estimular isso”, finaliza.