Tão comum aos nativos digitais quanto assustador aos seus pais é usar a tecnologia como meio de se relacionar com pessoas e com o mundo. Se por um lado o advento da internet causou grande inquietação às gerações anteriores por outro, é sinônimo de conexão aos jovens “de hoje”.
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Como muitos pais de adolescente desta era, me assustei com a vertiginosa dinâmica promovida pela tecnologia em nosso meio social, profissional, familiar e escolar. E, movida por este susto – gerado pelo desconhecimento – travei verdadeiras guerras contra filho adolescente que, como jovem nascido e crescido neste contexto, tem sua vida construída e vivida pelos eletrônicos.
Nascida e criada em uma era bem diferente, duvidei da conectividade que une acreditando no contrário: na que nos afasta de tudo e de todos. Avessa à realidade já instaurada, me mantive distante da novidade tecnológica abominando sua existência e temendo o pior.
Cega às oportunidades também trazidas pelo recurso, sentia perder filho para a tecnologia quando, na verdade, o perdia de mim mesma por me negar a participar, junto com ele, desta era que é de todos nós.
Pais e filhos desconectados
Ainda sem parâmetros de medição, julgava o uso da tecnologia sempre “exagerado”. Desprovida de critérios coerentes com a nova dinâmica da vida a um click, tornei-me forte crítica dos eletrônicos em geral e, por consequência, do modo que meu adolescente nativo digital se relacionava com o mundo.
Os novos modelos de relação virtual me causavam estranheza e consequente desconfiança e descrédito. O medo de ter meu adolescente dominado pela tecnologia me fez teme-la como a um inimigo real capaz de roubar sua vida a olhos nus. Enquanto enxergava o pior desta conectividade “exacerbada” – assim costumava dizer – ignorava seu melhor: a enorme capacidade de conectar pessoas ao redor do mundo! A mesma razão de gloria ainda é também de angústia a muitos pais que, por ignorância, medo ou os dois, optam pela demonização daquilo que desconhecem e não sabem/não gostam de lidar.
O mundo abalado dos pais de hoje
Conheço esta atitude porque vivi esta situação. Por me recusar a aderir a este mundo tão diferente do passado, perdi anos de conexão com filho adolescente. Como resultado, desperdicei anos de convívio e crescimento com ele.
Diferente do filho, sou nascida e criada em uma era absolutamente diferente da atual, de certa forma, previsível pelos caminhos já trilhados que nos serviram de bússola na vida. Portanto, o impacto da brusca mudança para a era digital me atingiu amargamente em cheio.
Diante das inúmeras possibilidades de relacionamento propostas pela tecnologia, tive meus padrões irremediavelmente bagunçados e “minhas verdades” abaladas pela nova dinâmica instaurada.
A superficialidade dos pais
Costumava me surpreender com filho rindo para a tela do celular e, como sempre, assuntava:
— O assunto deve estar bom, hein, filho? Com quem tá falando?
— Nada demais... – respondia segurando a risada – o Dado que mandou mensagem perguntando o que tô fazendo; respondi que nada.
— E que há de engraçado nisso, gente? – reagia mais uma vez sem entender a graça da coisa.
— Saco, mãe! Coisa nossa! A gente zoa quando... ah, esquece, mãe! Deixa pra lá! Você não entende mesmo.
De fato, não entendia: como o uso dos eletrônicos poderia substituir o contato presencial e firmar relações? – questionava enquanto assistia filho de longe em sua divertida “conversa” virtual.
Como se distanciar de filho adolescente digital
Aquela conectividade me parecia irreal e, por isso, falsa. Consequentemente, rotulava a socialização de filho adolescente digital como superficial. Temia que seu mundo fosse fictício e o tornasse escravo de eletrônicos dominadores que o transformavam em um ser socialmente incompetente.
Ignorante e distante, fui presa fácil das opiniões depreciativas dos eletrônicos. Limitada em conhecimento, assumi o discurso contrário ao uso – de novo “exacerbado” apesar de sem métricas – propagado pela mídia e por especialistas sobre o “adolescente digital de relações superficiais” sem notar que cada dia mais me desconectava do meu adolescente – e do mundo – “de hoje”.
Vivemos o drama de não saber conviver com filho adolescente da era tecnológica. Como eu, muitos pais de adolescente assumem a posição de expectadores do ágil e dinâmico mundo digital criticando as relações sociais de hoje sem, antes, conhecer as possibilidades que também nos são ofertadas por este ousado meio de comunicação e relacionamento.
Alijada da internet, assistia passivamente filho adolescente absorto em diversas interações virtuais e me angustiava por não entende-las. Inapta ao novo contexto, me deixei cegar aos potenciais benefícios e me alarmei com os prejuízos amplamente noticiados sobre o tal mundo virtual ainda que desconhecido à grande parte da humanidade.
A nova lente sobre a tecnologia
Extremamente crítica, denegria as relações de filho adolescente julgando-as “rasas comparadas ao meu tempo”, dizia. Duvidava de sua capacidade de construir relações saudáveis a partir de um recurso tecnológico que mais parecia mantê-lo apartado das reais amizades.
Foi quando, às vésperas de seu aniversário, recebi uma surpreendente mensagem por WhatsApp:
— Tia, a turma vai fazer uma surpresa pro Di. Consegue reservar o salão de festas do prédio pra gente? Te mando as informações de dia, hora e tal, pode ser?
Era Nanda, sua namorada, organizando uma festa comigo e com a turma para meu adolescente. Admirada não só com a praticidade e agilidade do plano mas também pela capacidade de congregar amigos de diferentes nichos, pensei se não era hora de rever minha leitura sobre a era atual e o adolescente digital. Sim, era.
A tecnologia a favor das famílias
É possível construir relações saudáveis por meio da tecnologia? Por aquela – e muitas outras situações subsequentes – passei a crer que sim e baixei a guarda para conhecer o tal mundo digital sob uma perspectiva menos preconceituosa e mais flexível. A mudança valeu a pena: foi o primeiro passo de um caminho de (re)conexão com filho adolescente.
A tecnologia entendida e usada a nosso serviço nos propõe novas possibilidades de conexão com pessoas de mundos diferentes; como nós, pais e filhos “de hoje”. De uma forma “diferente do meu tempo” também eu vou aprendendo e crescendo... junto com meus adolescentes digitais.
*Xila Damian é escritora, palestrante e criadora do blog Minha mãe é um saco!, espaço em que conta as situações cotidianas e comuns que vive sendo mãe de adolescentes, buscando desmistificar clichês sobre essa fase dos filhos, para transformá-la em um tempo de aprendizado.