| Foto: Bigstock
Ouça este conteúdo

Alguns enchem a criança de regras, outros só dão carinho e há ainda aqueles que não apresentam nenhuma das características anteriores, sendo completamente ausentes na vida dos filhos. Mas será que algum desses pais está agindo corretamente? De acordo com estudos coordenados pela pesquisadora norte-americana Diana Baumrind desde a década de 60 e aperfeiçoados por especialistas em todo o mundo, os três estilos parentais citados acima trazem graves consequências ao desenvolvimento emocional do ser humano e, infelizmente, são mais comuns do que se imagina.

No entanto, há um quarto grupo que supre as necessidades da criança e a prepara de forma adequada para enfrentar dificuldades e frustrações no decorrer da vida: “são os pais que apresentam equilíbrio entre a alta afetividade e a alta exigência”, explica a doutora em psicologia e professora sênior da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Lídia Weber. Segundo ela, pais e mães com esse comportamento se esforçam para dosar corretamente regras que darão direcionamento à criança e também as demonstrações de amor, que proporcionarão boa saúde emocional. “Eles dão bastante, mas também pedem muito”, explica.

Só que para identificar em qual grupo você se encontra é necessário conhecer os aspectos desses estilos parentais, tomar consciência de seus pontos fracos e fortes na educação dos filhos e, se for preciso, buscar ajuda psicológica ou em grupos de pais para corrigir alguns erros. Para ajudar nisso, a doutora Lídia explica quais são as particularidades de cada estilo educativo e seus efeitos no desenvolvimento da criança. São eles:

CARREGANDO :)

1. Estilo participativo

CARREGANDO :)

Com as práticas mais bem-sucedidas, os pais que seguem esse modelo estabelecem regras claras para ensinar valores aos filhos e apresentam consequências no caso de algum regulamento ser quebrado. Entretanto, não deixam que isso interfira nas demonstrações de amor pela criança. “Eles educam dando muito apoio, atenção emocional, estrutura positiva e direção para os filhos”, aponta Lídia.

E o tempo de qualidade aliado ao diálogo são as chaves para que mães como a assessora de eventos Lubia Cristina Stabach consigam isso. Preocupada com a educação dos pequenos Lohan e Lincoln, de um e três anos, ela explica tudo aos meninos e faz questão de passar momentos especiais diariamente com eles para conversar a respeito do que podem, ou não, fazer. “Assim, entendem que os limites existem porque queremos o melhor para eles. Afinal, os amamos e protegemos”, afirma a curitibana, que também faz questão de ouvir os garotos. “Inclusive, quando o mais velho vê que outros da mesma idade fazem algo que não permito, ele me questiona, eu explico e ele entende”.

De acordo com a pesquisadora Lídia Weber, esse relacionamento de carinho e preocupação faz com que os pais consigam acompanhar o dia a dia dos filhos, estabelecer regras e transmitir valores morais às crianças com mais facilidade. Só que, para isso, pai e mãe devem sempre colocar em prática o que ensinam. “Precisam ser exemplos de comportamento ético, daqueles que fazem o filho levar ao porteiro a figurinha perdida que encontrou no chão do condomínio”, exemplifica, ao afirmar que os pequenos educados dessa maneira se sentem valorizados, desenvolvem boa autoestima, habilidades sociais satisfatórias, resiliência e ainda têm melhor desempenho acadêmico.

2. Estilo negligente

No entanto, não são todos os pais que se esforçam para instruir e amar seus filhos, e muitos chegam a criar uma barreira entre eles. Assim, dão pouco carinho, quase não se envolvem na rotina das crianças e quase nunca apresentam regras e limites. “São considerados pais ausentes”, lamenta a psicóloga. Além disso, costumam ser intolerantes dentro de casa e se aborrecem rapidamente com o choro natural do bebê ou com pedidos das crianças e adolescentes. “Então, deixam o filho fazer tudo o que quer e, quando a criança chega ao limite ou esse pai sente culpa por sua ausência, passa a controlar exageradamente ou a punir”.

Infelizmente, esse comportamento influencia de forma negativa no desenvolvimento emocional e cognitivo dos pequenos e faz com que tenham dificuldades para se relacionar e se sentir amados. Por isso, tendem a iniciar a prática sexual precocemente, ficam suscetíveis a doenças sexualmente transmissíveis e podem facilmente se envolver com álcool e drogas. “Eles também têm baixa autoestima, com probabilidade maior de depressão, estresse e baixo desempenho acadêmico”, aponta a especialista. Sem contar que “podem desenvolver comportamento antissociais, como mentir, roubar, agredir, machucar e xingar, por exemplo”.

Publicidade

3. Estilo autoritário

Ao contrário dos pais negligentes, os autoritários exigem demais de seus filhos ao estabelecer muitas regras e limites. No entanto, o relacionamento é baseado apenas em exigências, e quase não existem demonstrações de amor. “São pais centrados em si mesmos, portanto, desejam somente a obediência dos filhos”, explica Lídia, ao afirmar que eles se orgulham do fato de serem temidos e “usam frequentemente tapas, gritos e surtos de comandos”.

Com isso, eles não dedicam tempo para ouvir a criança, não oferecem apoio emocional e nem deixam que os filhos se expressem. O clima em casa é tão pesado, que abraços ou palavras de conforto são praticamente inexistentes, pois “eles acham que carinho e elogios estragam as crianças”.

Como resultado, criam filhos com dificuldades de socialização, humor instável, baixa autoestima e altos níveis de depressão. Além disso, quando a coerção dentro de casa é muito forte, a criança pode desenvolver ansiedade, baixar seu desempenho escolar, se tornar um adolescente quieto e passivo ou ainda demonstrar hostilidade e agressividade contra figuras de autoridade, como professores.

4. Estilo permissivo

Por fim, o quarto estilo parental citado nos estudos da pesquisadora norte-americana Diana Baumrind tem medo de ser rejeitado pelo filho ou sente culpa por não estar tão presente na vida da criança. Por isso, ele oferece muito amor, carinho e atenção, mas poucas regras e limites. “São pais centrados no filho. Dão muito apoio emocional, mas pouca estrutura positiva e direção”, aponta Lídia Weber.

Segundo ela, esses pais costumam permitir que as crianças façam o que quiserem e ainda são inconsistentes naquilo que falam ou impõem. “Eles têm o desejo impossível de que os filhos não devem sofrer, não podem ser traumatizados com uma educação muito rígida e devem ter tudo o que eles não tiveram em sua vida”.

Como resultado, os pequenos tendem a desenvolver boa autoestima, baixos níveis de depressão e excelentes habilidades sociais. No entanto, serão crianças mimadas que não saberão lidar com limites, frustrações e que apresentarão baixo desempenho escolar e pouca autonomia. Sem contar que “correm alto risco de se envolverem com drogas no futuro, pois não aprenderam que existem regras no mundo, e acham que podem e devem experimentar tudo”, aponta a psicóloga, que aponta a necessidade de os pais avaliarem seu comportamento e equilibrarem amor e limites para terem sucesso na tarefa de educar.