Conforme os filhos vão crescendo e escolhendo os caminhos a seguir na vida, inevitavelmente os pais se preocuparão. Afinal de contas, existe amor nessa relação e aquele que ama tende a cuidar o outro. Mas quando essa preocupação em proteger o filho, seja na idade que for, se torna exagerada e se transforma em ansiedade, uma série de questões podem vir à tona e causar problemas ao relacionamento e aos indivíduos que fazer parte dele.
Especialmente na infância, quando estão descobrindo o mundo, e na juventude, ao buscarem uma profissão e seu lugar no mercado de trabalho, os pais precisam ser apoiadores dos filhos. Impor ou projetar neles seus desejos não realizados ou angústias, não ajudará. Do contrário: poderá trazer uma diversidade de problemas relacionais. Portanto, cabe aos pais exercerem o papel de conselheiros, acima de tudo.
Segundo a psicanalista Juliane Arrais, pais que fazem de seus filhos um reflexo daquilo que desejavam ser, ter ou fazer, podem comprometer o desenvolvimento deles, além de prejudicar a convivência familiar. “Em casos em que essa projeção é mais excessiva, a criança, por exemplo, pode simplesmente assumir os papeis a ela atribuídos, perdendo sua identidade, ou ir para o lado oposto, se rebelando”, observa.
A especialista considera ainda que esse é um cenário perfeito para conflitos. “Na relação com os filhos as dificuldades que os pais possivelmente tiveram em suas próprias infâncias são reeditadas e, a depender da forma que eles conduzem essa relação, o resultado pode ser um filho se comportando de forma exatamente oposta à esperada”, pontua Juliane.
O resultado de assumir um papel que não é seu ou comportar-se de maneira totalmente oposta somente para afrontar os pais, é um só: quebra de confiança entre os dois. Para a psicóloga Vitória Baldissera, ainda, o ato de tentar agradar os pais é muito pior e essa opção está fadada ao fracasso. “É que isso minimiza a ansiedade dos pais por um momento, mas não faz com que ela acabe”, diz. Além disso, o fato de baixar a cabeça e não expor sua opinião ou se rebelar contra todos também torna os filhos ansiosos como os pais.
“Pais ansiosos, filhos ansiosos”
Para Vitória essa frase tem muito de verdade. Quando são criados por pais ansiosos, os filhos crescem com esse mesmo sentimento em relação a si e ao todo. “A visão de mundo deles é formada de maneira equivocada, com a sensação de que tudo pode dar errado e que se arriscar é algo ruim”, explica. O sentimento que tinham na infância de agradar os pais, portanto, segue na vida adulta, se estendendo ao trabalho e às relações sociais.
Por isso é necessário que os pais se lembrem de que jamais os filhos serão uma melhor versão sua. Eles poderão ser influenciados e aconselhados sim, mas é preciso que os pais compreendam que a decisão de seguir em frente sempre será dos filhos, no final. Dificuldades e desafios aparecerão, mas eles forjarão o caráter desse filho.
“Em casos em que essa projeção é mais excessiva, a criança, por exemplo, pode simplesmente assumir os papeis a ela atribuídos, perdendo sua identidade, ou ir para o lado oposto, se rebelando”
Além disso, ao estarem constantemente depositando nos filhos suas expectativas, a ansiedade de vê-los progredir ou as angústias daquilo que não foram, os pais também não vivem suas vidas. “É preciso aceitar esse comportamento e querer mudar. Informar-se sobre educação dos filhos, ter acesso a pesquisas que o ajudem a compreender a faixa etária deles, pode ajudar”, diz Vitória.
Ao pensarem demasiadamente no futuro dos filhos, naquilo que esperam deles, no que não querem que lhes aconteça ou estando numa busca desenfreada por obediência, os pais se esquecem de viver o presente. Estar e aprender com cada fase dos filhos é a melhor maneira de criar adultos mais seguros de si e que farão boas escolhas para si, no fim das contas.
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