Por mais que você ache que sabe tudo sobre os seus filhos, já deve ter percebido como os interesses deles mudam rápido – ainda mais quando a gente fala dos adolescentes. De um mês para o outro, a banda favorita não é mais a mesma e o joguinho de celular predileto pode ter caído no esquecimento. É normal. Mas, se a ideia é manter a “chama da cumplicidade” sempre acesa entre vocês, a dica é investir nos momentos a sós com eles. Não com todos juntos, um de cada vez.
Siga o sempre Família no Instagram!
“Esse tempo a sós serve tanto para conhecer mais os filhos [em cada uma das fases] quanto para dar um feedback aos pais se as táticas educacionais escolhidas estão surtindo efeito”, garante a psicóloga clínica Marjorie Rodrigues Wanderley, professora da Estácio Curitiba e mestre em análise comportamental. Para ela, é a chance perfeita de avaliar como estão os valores de cada um, o que falta orientar, o que precisa ser reforçado e o que está funcionando. “Você precisa saber quem é seu filho agora, este ano, nesta semana, no contexto atual”, recomenda a especialista.
Foi exatamente o que fez a empresária curitibana Vania Cocchieri, que decidiu “mergulhar” na intimidade dos filhos viajando com cada um deles separadamente. “Meu marido viveu primeiro essa experiência levando os meninos para conhecer a região dos avós paternos, na Itália. Foi um de cada vez, conciliando os períodos de férias. Eu percebi como isso foi interessante e comecei a planejar o mesmo formato de viagem”, diz ela ao Sempre Família.
A primeira experiência foi com o filho do meio, Vinicius, na época com 20 anos. “Iniciamos por Miami e depois seguimos para Orlando e Nova York (EUA). Com ele, tudo se torna mais intenso. Cada passeio era cheio de informação e de cultura. Sempre me surpreendia com tantos detalhes que tinha para contar sobre onde passávamos. Com Vinicius nunca falta assunto. Foram momentos de conversas inteligentes, mas também de muitas risadas e diversão. Nos unimos muito na viagem e descobrimos quantas coisas temos em comum”, lembra.
Já o segundo compromisso foi com o mais velho, Gianni Junior. “Deixei que ele escolhesse os destinos e atividades que faríamos em cada lugar. Começamos por Paris (França), três dias de museus e passeios e um dia de giro pela cidade com direito a oito horas de bicicleta. Depois, voamos para Copenhagen (Dinamarca) e de lá pegamos um cruzeiro de 13 dias que passaria por vários países até chegar à Itália”, conta Vania.
A viagem ainda incluiu uma parada em Londres (Inglaterra) antes do retorno para casa. “Com Gianni estávamos sempre fazendo amigos: canadenses, italianos, chineses. Muitos se aproximavam de nós atraídos por seu sorriso e simpatia. Perto dele, sentia paz e alegria. Com seu espírito aventureiro venci meus limites físicos”, completa.
Última parada
Em 2018, foi a vez de Bruno, de 20 anos. “Em Orlando (EUA), estipulei um valor para que ele usasse em toda a viagem e disse que poderia gastar como quisesse: tudo de uma vez ou administrar para que durasse até o último dia. Uma decisão muito sabia. Descobri que ao dar esse limite dei a ele, também, a oportunidade de fazer escolhas mais seletivas – o que ele fez com muito critério”, avalia a empresária. “Percebi o quanto ele é organizado e consciente dos limites que precisamos nos dar diante de tantas coisas atrativas, mas que não são indispensáveis para sermos felizes”, acrescenta.
Resultado
Hoje, ao reviver cada passo percorrido com os filhos, Vania se considera uma mãe consciente do seu papel e feliz com a decisão. “Sempre soube que cada filho é único, com necessidades individuais e visões diferentes de mundo. Mas, essas viagens me mostraram que os valores entre eles são os mesmos: amor, família, respeito pelo próximo e por si mesmo e gratidão a Deus acima de tudo”, ressalta.
Não precisa ir longe
Como exercício diário para conhecer mais os filhos, a psicóloga Marjorie Rodrigues indica a técnica da escuta ativa e o uso de perguntas abertas que permitam respostas mais profundas. Por exemplo: “Qual foi a coisa mais legal que aconteceu com você hoje?”, “E a mais chata?” ou “O que de mais difícil você está enfrentando?”.
E se a intenção é reconectar os laços de tempos em tempos, também dá para tentar algo do tipo: “Do que você está gostando neste momento?”, “Por que essa banda, esse jogo, esse canal do YouTube?”, “O que que tem de tão legal neles?”, ou seja, é preciso agir como se estivesse desvendando seu filho pela primeira vez. “Você pode nem saber qual é o jogo de videogame ou influenciador digital que ele está se referindo, mas demonstrar interesse genuíno por aquilo vai estreitar o vínculo entre vocês e personalizar a relação. Se é algo que é importante para ele, tem que ser importante para você também”, defende a especialista.
Não complique!
Outra orientação de Marjorie é: facilite esses encontros. “Não precisa, necessariamente, programar uma longa viagem ou achar que tem que ter um fim de semana inteiro livre para ouvir os filhos, porque aí isso nunca vai acontecer. É preciso fazer isso hoje, no café da manhã, no almoço, na janta, na hora de dar boa noite. Só tem que ser um momento de atenção plena, sem estar distraído com outras coisas”, impõe.
Filhos menores
Agora, se os seus filhos ainda são muito pequenos e – pela fase do desenvolvimento – não conseguem sustentar um diálogo e expressar o que sentem usando as palavras, a receita é ouvi-los ao brincar. “Deixar a criança guiar uma brincadeira e participar fazendo o que ela quiser e da forma que ela quiser [por mais bobo que possa parecer], vai mostrar muito de quem ela é. Além de possibilitar que queira ser conhecida pelos pais”, afirma Marjorie.