Jude Beck/Unsplash| Foto:

Ser pai é um desafio para qualquer homem. Durante a gestação, a ideia ainda parece distante e só se concretiza quando o bebê nasce. Neste processo, o medo e ansiedade podem tornar este momento mais tenso. A psicóloga clínica Nicole de Amorim Braga Cristino afirma que este temor é uma construção alimentada socialmente, pois vivemos em uma cultura que supervaloriza a maternidade em detrimento da paternidade.

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Um amor de pai: como a paternidade muda o homem

De acordo com ela, o papel masculino acaba pautado pelas responsabilidades materiais e financeiras.  “Neste contexto social, os medos surgem por causa da associação da paternidade ao sucesso financeiro, pelo distanciamento afetivo e pelas fantasias em relação à sexualidade e as mudanças no relacionamento”. Nicole trabalha com casais que pretendem engravidar, gestantes e mães no pós-parto, e participa de grupos terapêuticos de pré-natal psicológico.

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A psicóloga aponta também que as inseguranças estão ligadas ao desconhecido. Sem referências, muitas vezes, do que é ser pai, o homem ainda lida com a estigmatização dos assuntos afetivos, o que o distancia ainda mais da paternidade. “Todo fenômeno humano traz consigo um receio e não é diferente neste caso. Se perde algo quando se ganha um filho, algo de uma vida pregressa, da juventude e da liberdade”, observa Nicole.

Para Fernando Dias, administrador, pai da Duda, de 8 anos e da Gabi, de 5, e fundador do curso para pais de primeira viagem “Vou ser pai. E agora?”, a falta de informação é o que provoca insegurança. No geral, as mães se envolvem mais e buscam muitas informações sobre o assunto.

Envolvimento com a criação dos filhos ajuda a construir a identidade paterna

O administrador acredita que para superar o medo de ser pai é necessário participar ativamente da criação dos filhos. “Quando o homem se envolve mais, passa a perceber que a paternidade não é um “bicho de sete cabeças” e que ele, com certeza, vai dar conta do recado”.

A esposa deve fazer sua parte e inserir o marido na rotina e nas escolhas antes mesmo do nascimento da criança. Fernando lembra que as mães precisam entender que os pais nunca irão fazer do mesmo jeito que elas, “não vai ser melhor nem pior, apenas diferente”.

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As referências que o homem traz também influenciam sua visão acerca da paternidade. Nicole destaca que o relacionamento com a figura paterna pode exercer um papel fundamental na construção dessa nova identidade. E Fernando concorda – a relação com seu pai, que sempre foi muito participativo, influencia muito a forma como ele cria suas filhas. “Outro ponto é que quando nos tornamos pais passamos a dar o verdadeiro valor aos nossos pais”, acrescenta.

Ele conta que quando suas filhas nasceram, seus principais medos estavam relacionados aos cuidados com o bebê, como trocar fralda e dar banho. Hoje, a educação delas é sua maior preocupação, principalmente pela necessidade de formar e educar pessoas que se envolvam com as questões coletivas e sociais para que o mundo seja um lugar melhor.

Dicas para superar o medo e a insegurança de ser pai

Se o medo da paternidade se tornar incapacitante é possível buscar ajuda especializada para entender este momento, refletir sobre as mudanças e ter insights sobre as experiências familiares. Nicole destaca que é possível construir histórias diferentes das que foram vivenciadas como filho e trilhar novos caminhos.

A especialista salienta que o diálogo com a mulher também é primordial e irá contribuir para a nova estrutura da família, especialmente com as mudanças bruscas na rotina do casal. Buscar todas as informações possíveis, ler e participar de grupos e rodas para trocas de experiências pode ajudar o homem a entender seu papel na paternidade ativa, um movimento em prol da mudança de paradigmas. “É uma experiência de pertencimento, que ajuda a se familiarizar com o assunto e a diminuir os medos”, finaliza.

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