Quando uma mulher se torna mãe, é bastante natural que o filho passe a ser sua prioridade. Pelo menos durante os primeiros anos de vida da criança, muitas mães abdicam de alguns sonhos e projetos pessoais para dar atenção total aos pequenos. No caso da aposentada e, agora estudante, Estela Rita Formenton, de 63 anos, foram 20 anos de “pausa” até ela retomar os estudos e ir em busca de um diploma universitário.
Em sua época de escola, Estela sonhava cursar medicina, mas, por não ter condições financeiras de fazer o curso, optou pela faculdade de Química. Foram dois anos intensos de estudo e muito trabalho, pois também precisava sustentar seu pai e sua irmã, até que uma anemia profunda fez com que ela precisasse trancar a faculdade e deixar esse sonho de lado. Anos depois, Estela procurou um curso de inglês para melhor se qualificar profissionalmente, e lá conheceu o futuro marido. Chegou a hora de realizar um outro sonho, que era se casar e construir uma família.
Foi só quando seus dois filhos já tinham 11 e 13 anos, que Estela tentou voltar à sala de aula, dessa vez, no curso de Serviço Social. Trabalhando fora o dia todo, percebeu que sua ausência em casa também no período da noite estava afetando o comportamento dos meninos. Sem pensar duas vezes, ela fez novamente a escolha de deixar o sonho de ter uma graduação. “Nem vida profissional, nem qualquer outra coisa fazia mais sentido do que dar segurança emocional, formação espiritual aos meus filhos e manter nossa família unida”, afirma ela.
E sua dedicação à família deixou marcas em seus filhos. Giovani Domiciano Formenton, o mais velho, é hoje economista e conta que se lembra do esforço da mãe para estar presente, mesmo com a rotina atribulada. “Uma das coisas que ela fazia era trabalhar até mais tarde para poder almoçar com a gente em casa”, conta o filho. “Mesmo estando cansada à noite e sabendo que teria muitas coisas para fazer em casa, ela sentava e ficava muito tempo do meu lado me ajudando a fazer os exercícios de escola”.
Retomada incentivada pelo filho
No final de 2017, Giovani decidiu fazer o curso de teologia e pensou que talvez fosse o momento de ajudar sua mãe a realizar aquele sonho que ficou para trás. “Quando eu decidi fazer o curso, descobri que o valor da mensalidade era bem baixo, então sugeri que ela fizesse o vestibular para experimentar”, recorda. Ele conta que a mãe ficou um pouco receosa no início, mas na última hora decidiu fazer a inscrição. “Lembro que no caminho para a prova eu falava para ela quais eram os tipos de redação que poderiam cair e que tipo de texto deveria escrever para cada um deles. Foi muito legal porque nós dois passamos na prova”.
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Depois de 20 anos, Estela está novamente em uma sala de aula e, agora, ao lado do filho. Sobre o tempo em que se dedicou à família e não conseguiu concluir os cursos que gostaria, ela afirma que sempre foi muito bem resolvida. “Sempre compreendi que não fiz uma faculdade primeiramente por falta de condições financeiras e depois por optar ficar com meus filhos. Nessa segunda questão, eu entendia que minha presença era muito importante na fase de crescimento e formação deles”, afirma.
Para a família, é um momento muito especial de superação e também de admiração pela mãe. “Foi muito legal ela ter voltado a estudar. É um sonho dela terminar uma graduação”, conta Giovani. “É uma sensação muito interessante estudar com a própria mãe. Nós fazemos quase todos os trabalhos juntos, ela me lembra das coisas que eu tenho que entregar e eu ajudo nas coisas que ela tem mais dificuldade. Mas ela vai muito bem no curso e se destaca em diversas matérias”.
Agora, a disponibilidade de tempo pela aposentadoria, o prazer no processo de aprendizagem e o amor pelo conhecimento fazem com que Estela passe mais de quatro horas no ambiente universitário todas as noites. E para quem pensa que, depois de tanto tempo, as aulas estão sendo cansativas, está muito enganado. “Está sendo divertidíssimo. Só seria melhor se fosse com os dois filhos juntos”, afirma descontraída.
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