Colocar ou internar os pais em uma casa de repouso é uma decisão familiar difícil e delicada. Este momento requer ainda mais cuidado e atenção já que eles vão perder a convivência com a família e terão que se adaptar a uma nova rotina. É preciso ter em mente que este é um benefício tanto para os idosos, que serão monitorados 24 horas por dia, quanto para os filhos – principalmente quando não moram próximos -, e que terão a tranquilidade de saber que seus pais estão recebendo o cuidado necessário.
Portanto, de forma alguma essa decisão deve ser encarada como uma negligência por parte dos filhos. Mas na teoria parece fácil. A prática, entretanto, fica longe disso. Para a psicanalista Juliane Arrais, quando há a necessidade de recorrer a um serviço oferecido por uma casa de repouso o sentimento de culpa é natural. “Culturalmente somos educados a cuidar de nossos pais e, por isso, não nos planejamos para o momento em que precisamos decidir pela melhor forma de cuidado”, explica. “A falta de planejamento e de uma preparação adequada para a idade avançada, tanto por parte do idoso, quanto da família que o cerca, transforma a decisão em algo extremamente difícil”, acentuou.
Juliane acredita que a escolha de um lugar adequado, visitas periódicas (diárias, se possível), o acompanhamento e o olhar da família, primordiais na garantia da qualidade de vida, podem minimizar o sentimento de culpa. “Somos regidos por valores sociais, religiosos e morais e, em geral, essa decisão vem sempre acompanhada de uma boa dose de culpa”, comenta a especialista. “Mas, na verdade, o sentimento que deve nortear essa decisão é o propósito sincero de encontrar a alternativa mais adequada e segura para todos os envolvidos”, conclui.
Inversão de papéis
Segundo a psicanalista aceitar a chegada da velhice e suas limitações não é fácil nem para aquele que está nesta condição e nem para quem convive com ele. “Na velhice nossos pais se tornam, de fato, nossos filhos”, conta. “É difícil aceitar que, com o surgimento de limitações, esquecimentos e fragilidades advindos da idade, agora o filho se torna um pouco pai de seus pais”, completa.
Por isso, aliada a toda essa alteração natural do corpo humano, a mudança para uma nova casa torna tudo ainda mais delicado. Então, manter uma rotina de visitas ao idoso facilita a compreensão dele de que aquele é um lugar bom para se viver, e que a família pensou em seu conforto e não o está abandonando. Ainda assim, é comum que, inicialmente, eles reclamem do ambiente e até das outras pessoas que lá vivem, e há um período para que eles se adaptem.
O estigma dos asilos
Essa possível relutância em se adaptar ao novo tem bastante relação com o conceito dos asilos. Com o aumento da longevidade, existe, de fato, um grande número de idosos asilados no Brasil e sem qualquer contato com familiares. Isso estigmatiza ainda mais a decisão de recorrer à mudança para uma casa de repouso.
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Segundo Dilva Fernandes, musicoterapeuta e proprietária da Casa de Repouso 3 Arcanjos, em Curitiba, a mentalidade de asilo é negativa, porque muitos idosos são realmente deixados à própria sorte por seus familiares. De acordo com ela, uma casa de repouso precisa se tornar um segundo lar, onde os moradores vão encontrar atendimento exclusivo e com qualidade.
“Aqui as idosas se sentem em casa e vivem em um ambiente seguro, adaptado às suas necessidades, com atendimento 24 horas por dia, realizado por uma equipe especializada em cuidados para a terceira idade”, contou.
Um segundo lar
Depois que Marília P. concordou em viver Casa de Repouso 3 Arcanjos, ela se recuperou de um câncer e ganhou independência. Mesmo com o incentivo da família, a aposentada passou pelo processo comum a todos os idosos quando chegam à uma casa de repouso. Ela foi da rejeição até a total adaptação à nova casa. Foi preciso seis meses, mas hoje o sentimento dela é de gratidão.
Nesse “segundo lar” de Marília, ela participa de uma série de atividades que têm auxiliado no processo de recuperação da cirurgia feita em decorrência do câncer. “Oferecemos aos nossos pacientes uma programação extensa com musicoterapia, fisioterapia, terapia ocupacional e até mesmo Tai Chi Chuan, uma técnica chinesa de relaxamento”, explica Dilva.
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