Entendamos a adoção como medida de proteção à criança, por meio da qual um menino ou menina passa a viver com uma família diferente da sua família biológica.
Constituída esta nova família, a comunicação sobre a história ou origem do menor é de vital importância: integrar a sua história anterior é necessário para a construção de uma identidade positiva e saudável.
Nesse sentido, a Lei Internacional de Adoção de 28 de dezembro de 2007 indica o direito dos adotados de conhecer suas origens biológicas desde a maioridade.
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A pesquisa sobre comunicação sobre as origens é clara: a comunicação aberta e direta sobre adoção e origens está associada a maior satisfação com a experiência adotiva, maior proximidade com os pais adotivos, melhor funcionamento familiar e níveis mais altos de autoestima e menos comportamentos problemáticos.
Seria sobre levar em conta o que comunicamos, bem como quando e como o fazemos. Por exemplo, não podemos comunicar apenas ao filho adotivo que ele é adotado. Ele precisa conhecer sua história, ou seja, dados sobre seu nascimento, as circunstâncias da separação de sua família biológica, a história das pessoas que cuidaram dele até encontrar um novo lar, a história da família que decidiu adotá-lo, etc. Todas essas histórias se juntam em uma só: a história dessa pessoa.
Não apenas informação
Além disso, os especialistas sustentam que a comunicação sobre as origens não se trata apenas de transmitir dados específicos. De fato, em muitas ocasiões, as famílias adotivas não podem compartilhar dados de qualquer tipo porque não os têm. Em vez disso, é fundamental estar aberto e disponível para lidar com essas histórias de menores antes de viver com suas famílias adotivas. Essa atitude dos pais adotivos ajudaria a conciliar o passado e o presente, bem como a integrar o duplo pertencimento às duas famílias.
Esse tipo de comunicação é conhecido na literatura de adoção como abertura na comunicação e enfatiza a promoção de um clima familiar que facilite a expressão das emoções associadas à adoção.
Assim, pais e mães adotivos têm que tentar manter esses canais de comunicação abertos, para que funcionem sem problemas. Além disso, a comunicação sobre adoção e origens e a forma de fazê-la está mudando ao longo do tempo.
Os pais adotivos são os que costumam assumir a liderança no início do processo, mas com o passar do tempo, os adotados passam a ter uma participação mais ativa nessa comunicação, questionando mais sobre suas origens.
Qual a idade certa para começar a falar sobre sua origem?
Estudos indicam que essa comunicação deve começar a partir do momento em que chegam na família. Claro que não é necessário falar sobre a adoção no primeiro dia, mas é importante mostrar desde o início uma atitude aberta e transparente, e favorecer um clima de sinceridade e abertura sobre a origem do menor.
Além disso, é importante salientar que não basta falar em adoção uma vez, mas que deve ser feita sempre que as circunstâncias assim indicarem, seja porque o adotado o exige, seja porque os adotantes consideram que é um momento adequado.
De qualquer forma, é importante sempre respeitar os ritmos e interesses da criança. Assim, quando você pergunta, os adotantes devem dar uma resposta e, quando não, devem estar atentos a qualquer sinal que possa estimular a comunicação. Existem algumas datas especialmente indicadas para falar das origens. Por exemplo, aniversários ou aniversário de chegada em casa.
Um aspecto muito importante também é adaptar as respostas e as informações à idade e capacidade de compreensão dos menores, pois cada idade requer explicações diferentes. Nesse sentido, a complexidade das respostas deve ser aumentada à medida que ocorre um maior desenvolvimento cognitivo e emocional do menor.
Da anedota à construção da identidade
Os pequenos entenderão a adoção como algo anedótico e positivo que os faz sentirem-se especiais, mas a partir dos 6 anos de idade eles podem começar a perceber que houve um abandono anterior à adoção. Essa circunstância pode ser acompanhada de sentimentos de culpa por ter sido abandonado e medo de ser abandonado novamente.
Da mesma forma, pode começar a preocupação em conhecer detalhes de suas origens. Antes da adolescência, se houver um clima familiar seguro, os menores adotados entendem que o abandono não foi sua causa e passam a integrar e superar o luto pelo abandono. A adolescência, com a crise que implica, exige um trabalho adicional, pois tem de integrar o conhecimento das suas origens à construção da sua identidade.
Em resumo, não há dúvida de que a comunicação sobre as origens é uma das tarefas mais importantes para as famílias adotivas após a chegada de novos membros. Essa comunicação passa pela disposição dos pais em acompanhá-los nesse processo.
Existem propostas que orientam e apoiam pais e mães neste processo, cuja finalidade é facilitar um melhor ajustamento psicológico dos adotados, tanto na infância como na idade adulta, e promover o bem-estar da família adotiva como um todo.
*Susana Corral, professora e investigadora em Psicologia; Mireia Sanz Vázquez, professora de psicologia na Escola de Ensino da Universidade Begoñako Andra Mari, BAM e Nerea Martín Bolaños, pesquisadora de pré-doutorado, todas da Universidade de Deusto.
© 2022 The Conversation. Publicado com permissão. Original em espanhol