Não tem como ignorar o início de um confronto e a possível formação de uma nova guerra. Noticiados pelos canais de comunicação, os ataques russos na Ucrânia tornaram-se assunto nos locais de trabalho, nas rodas de amizade e nos lares, alcançando, também, o ambiente escolar.
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Para tranquilizar os filhos frente ao medo e preocupação com os confrontos divulgados e também proporcionar reflexões humanitárias desde cedo aos pequenos, é importante que os pais saibam abordar o assunto com as crianças, explica Andreia Moessa Coelho, pós-graduada em psicanálise, perinatalidade e parentalidade.
Quando conversar sobre o conflito?
A psicóloga explica que o momento ideal para conversar com as crianças é a partir de quando elas formulam perguntas sobre o assunto, pois é o período em que criam uma hipótese, sendo necessário, portanto, oferecer-lhes respostas com informações verdadeiras.
“É importante que os pais tenham uma relação de diálogo com seus filhos, para que possam averiguar o que as crianças sabem sobre os países e os conflitos. E com base nas conversas anteriores, decidam como dialogar sobre o combate travado no leste europeu”, destaca Andreia.
A fotógrafa Laiz Zotovici, mãe do Antônio, com 11 anos, e do Theo, com 8 anos, conta que os filhos, ao ouvirem as conversas entre ela e seu marido, desejaram saber mais sobre o assunto. Nesse momento, o casal, baseado pelos momentos históricos já conhecidos pelas crianças, explicou a real circunstância mundial, buscando responder todos os questionamentos dos meninos.
“Nós levamos em consideração a idade de cada um para o aprofundamento da resposta, mas nunca mentindo, sempre falando o que está acontecendo, com certo cuidado com o emocional deles”, conta Laiz.
Além do mais, dependendo da relação que a família tem com os países em guerra, Andreia orienta que os pais possam contar mesmo sem serem perguntados, caso possuam ascendentes ou amigos nos países em conflito.
“Meus filhos se preocupam com uma nova guerra mundial, pois sabem o sofrimento que um conflito acarreta, já que a minha bisavó italiana viveu na época de uma guerra”, destaca a fotógrafa, que busca acalmar os filhos conversando sobre a necessidade de paz, igualdade entre os povos e uma sociedade mais justa.
Como responder os questionamentos da criança?
Sandra de Almeida e Rodrigo Souza, ambos da equipe pedagógica do Colégio Integral, explicam que, por volta dos seis anos, antes de aprender a ler e escrever palavras, as crianças conseguem ler imagens, através de um trabalho simbólico nos espaços que estão inseridas.
Assim, é interessante que os pais e professores apresentem imagens que humanizem o tema, para que as crianças busquem uma forma de se sensibilizar a partir das emoções, já que a interpretação de dados não cabe para tal idade.
Diferentemente das crianças menores, Rodrigo e Sandra explicam que os adolescentes, desde que encontrem acolhida para dialogar sobre o tema, conseguem compreender o contexto do conflito, se colocando dentro da realidade das outras pessoas e refletindo sobre os impactos na vida do próximo.
Andreia orienta que, se uma criança perguntar aspectos objetivos da guerra, é porque já imagina algumas possibilidades, como a existência de violência, conflitos, mortes e machucados. Portanto, é imprescindível manter um diálogo levando em conta o que elas estão pensando, suscitando que as crianças apresentem formas de encontrar soluções dentro de sua realidade.
“Se a criança tem pensado na morte dos moradores da região em conflito, é importante tratar sobre esse tema através de uma reunião de família. Além do mais, por uma roda de conversa, os pais conseguem trabalhar uma cultura de paz inserida no dia a dia da criança, tendo como base os conflitos”, explica a psicóloga.
A escola pode auxiliar na compreensão das crianças?
Segundo os coordenadores do Colégio Integral, a escola é o espaço onde as crianças e jovens se encontram com suas particularidades, comungando e partilhando experiências, possibilitando que sejam desenvolvidas as formas de lidar com as circunstâncias que lhe são despertadas.
A guerra sugere temas como a incerteza, morte e conflito. Contudo, os temas que extrapolam o currículo comum são oportunidades para a escola humanizar os alunos e correlacionar tais conceitos com a necessidade humana de valorização das amizades, da vida, do respeito e da ética.
“Através do estudo das situações históricas nas quais as guerras aconteceram, a escola consegue ampliar o olhar da criança tanto para o conflito atual, entre grandes países, como também para o microssistema, em situações de inimizade e falta de tolerância”, exemplificam Sandra e Rodrigo. “Sentindo-se acolhida e protegida, a criança consegue compreender o que é o oposto de um lugar seguro, ou seja, a guerra.”.
Portanto, conclui a equipe pedagógica, é imprescindível que tanto os pais, quanto à escola, estejam atentos ao diálogo com as crianças, ouvindo quais informações elas trazem para ampliar sua compreensão perante o mundo.