É bem comum perguntar a uma criança o que ela vai ser quando crescer. As respostas são variadas e muitas vezes até divertidas. A questão é que pouca gente se preocupa com o que vai fazer quando envelhecer. Com o avanço da ciência e o aumento da expectativa de vida, a terceira idade tem durado longos anos e, junto com a velhice, vêm questões emocionais e práticas que nem todo mundo está pronto para enfrentar.
Siga o Sempre Família no Instagram!
“Socialmente não somos preparados para envelhecer”, afirma Vitor Brasil, clínico geral e especialista em medicina preventiva do Hospital Nossa Senhora das Graças, em Curitiba. O psicólogo clínico e professor da PUCPR Cloves Amissis Amorim concorda e ainda vai além, dizendo que a sociedade chega a ser negacionista. “Hoje tentamos enganar a velhice para parecermos mais jovens”, esclarece.
O fato é que envelhecer com saúde é um processo lento. E precisa começar cedo. O médico alerta para a importância de conversar com a família antes que os problemas efetivamente comecem e cita o exemplo que vive em casa. “Tenho uma mãe idosa então sempre converso com meus filhos sobre a questão do cuidado. Desde a infância a gente fala sobre ciclos de vida”, comenta.
O clínico geral orienta que o momento para começar a tomar providências é aquele em que a segurança do idoso é colocada em risco. Quedas, alterações de memória e confusão mental são sinais de alerta, de acordo com ele. O ideal é consultar um médico pois as situações podem ser pontuais e, algumas vezes, transitórias. “Demência e depressão podem ocorrer porque a pessoa acabou de ficar viúva, por exemplo. Isso é passageiro quando a família acolhe melhor”, exemplifica.
Planos para o futuro
As mudanças de comportamento devem ser observadas, mas o ideal é aproveitar a lucidez da idade produtiva e traçar os planos para o futuro. Tirar o idoso da casa em que vive há anos, por exemplo, segundo o médico, pode ser mais prejudicial do que seguro. As conversas em família feitas antecipadamente podem auxiliar até no processo de aceitação da velhice. “Da mesma forma que mães conversam com filhos sobre gravidez precoce, devemos conversar com nossos pais sobre a velhice quando eles estão bem”, ensina Cloves.
Como lembra o psicólogo, a composição familiar está cada vez menor e a sobrecarga para o filho pode ser grande demais. Ele diz que são três os dilemas principais:
- Decidir o que é melhor para os pais;
- Não atrapalhar a rotina da própria família;
- Questão financeira.
“Tudo custa muito mais caro para o idoso. Plano de saúde, remédios, tratamento de doenças típicas do envelhecimento”, reforça.
Por isso planejamento é fundamental. Outro ponto importante que o professor defende é que os idosos mantenham a participação social para cultivar o bem-estar. “Uma das formas de manter a saúde física, mental, global, holística do idoso é evitar a morte social. Tem que manter laços, rotinas, aula de pintura, grupo de oração”, argumenta. Cuidar das pessoas mais idosas da família implica pensar, também, que elas têm uma vida própria.
Não infantilizar a pessoa idosa
Vitor concorda que esse aspecto é muito importante e chama a atenção para a mania que muitas pessoas têm de infantilizar a pessoa idosa. “Essa pessoa tem toda uma história de vida, uma capacidade que adquiriu ao longo dos anos. Isso tem que ser respeitado e valorizado. Tem que promover a autonomia com segurança”, defende o médico.
Respeitar os desejos e, na medida do possível, atendê-los, é essencial. Cloves faz uma reflexão importante. “Envelhecer é um processo de ganhos e perdas. A gente perde rapidez e energia, mas ganha sabedoria, paciência, resiliência. Temos frutos e produtos do próprio envelhecimento”, conclui.