Se o menino se acostuma a não expressar suas emoções e guardá-las para si mesmo, problemas podem surgir na vida adulta.| Foto: Bigstock
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“Aprenda a ser forte”. “Engula esse choro”. “Larga de frescura”. Infelizmente, frases como essas ainda são facilmente escutadas, principalmente pelos meninos, mesmo quando crianças. 

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É ultrapassado o entendimento de que demonstrar os sentimentos é sinal de fraqueza, afinal as emoções podem, e devem, ser sentidas por ambos os gêneros, independentemente da idade. Contudo, dependendo da construção social imposta ao indivíduo, a forma de comunicar as emoções pode ser negligenciada na educação dos meninos, causando vários impactos negativos em sua vida adulta, como explica a psicóloga Ana Flávia Oliveira Souza.

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Emoção ≠ sentimento 

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As emoções, segundo Ana Flávia, são reações instintivas, ou seja, uma forma de resposta neural e bioquímica para os estímulos externos, que leva o cérebro a responder a tais eventos e estímulos por reações corporais, como respostas a uma necessidade. 

Diferentemente disso, os sentimentos são reflexos de como o indivíduo se sente frente às emoções, diretamente ligados aos seus pensamentos, manifestados como o significado dado às próprias emoções. 

Tal diferenciação, segundo a psicóloga, é importante ser feita e conhecida pelos educadores para contribuir no processo de ensino do autoconhecimento e administração das emoções, já que, visto ser impossível controlá-las, é importante as regular, ato possível a partir do momento em que as compreende e experimenta. 

“Não podemos dividir as emoções apenas entre sentimentos bons e ruins, pois alegria, tristeza, raiva, medo, surpresa, afeto, aversão e confiança são comuns e normais a qualquer pessoa, e podem ser uma coisa ou outra a depender das diferentes situações”, ensina a psicóloga.

Impacto histórico 

Devido à construção ambiental e cultural da sociedade, existem diferenças comportamentais entre os gêneros decorrentes da evolução biológica, que influenciam no instinto de cada ser, conforme os estímulos ambientais recebidos.  

A psicóloga explica que, no início da espécie humana, os homens desempenhavam, de forma solitária, as atividades de caça para o sustento e proteção da família. Enquanto isso, a mulher buscava a proteção e perpetuação da espécie, estabelecendo-se em grupos para facilitar o cuidado e criação das crianças. 

Assim, ainda que centenas de anos tenham se passado, o cérebro humano carrega resquícios de tais habilidades, de modo que, inconscientemente, os meninos muitas vezes são ensinados a não entrarem em contato com suas emoções, para poderem demonstrar valentia e esconder supostas fraquezas. 

Contudo, considerando que as emoções masculinas não são diferentes das femininas, é importante que os meninos sejam ensinados a manejá-las, facilitando sua comunicação, inclusive na vida adulta, e no aceite de seus sentimentos, sem que se sintam inferiores por compreenderem e expressarem suas emoções, explica Ana.

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Como ensinar um menino a lidar com suas emoções?  

Evitar dizer “não pode fazer isso!”, para intervir dizendo “não é assim que você deve usar sua força!” ao receber a notícia que seu filho se envolveu em uma briga na escola, é um exemplo de postura a ser adotada no diálogo com os meninos ao falar dos seus sentimentos. 

“É importante utilizar estratégias que mostrem aos meninos que é natural sentir qualquer tipo de emoção e que expressá-las é ainda melhor para que se sintam bem com seus próprios sentimentos e que consigam resolver seus problemas de forma saudável”, conta a psicóloga. 

Segundo ela, é importante que a criança aprenda a lidar com suas emoções desde a mais tenra idade, de forma adaptada e lúdica e a partir de diálogos francos, sempre estimulando-os sem julgamentos, ou reagindo de forma que possam constrangê-los.  

“Isso demanda muita empatia e conhecimento de que não existe certo ou errado quando falamos sobre emoções, mas sim valores e princípios que vão nortear para um caminho com maior sucesso pessoal na vida desses meninos”, reforça Ana. 

Uma postura muito adequada é incentivar o menino a lidar bem com seus sentimentos, sempre ensinando a usá-los para entender a si mesmos e a ajudar os outros. 

“Além da família, que tem um papel muito importante para o aprendizado das emoções, a partir da escola a criança, inserida em uma maior socialização, aprende de maneira mais fácil a se comunicar e se tornar empática com as outras crianças”, orienta Ana Flávia.

Qual o impacto de aprender a lidar com as emoções?  

É muito importante o menino aprender que tem emoções e sentimentos, e que expressá-los da forma correta não é sinônimo de fraqueza. 

Segundo Ana Flávia, quanto mais esses meninos aprenderem que ter emoções e sentimentos expressos não é sinônimo de fraqueza, mais competentes eles serão em seus relacionamentos familiares, amorosos, afetivos e coorporativos, e em relação a si mesmo. “Serão adultos que saberão ter uma melhor funcionalidade e estratégias mais adequadas para resolver seus problemas”, complementa. 

Além disso, a psicóloga afirma que se o menino se acostuma a não expressar seus sentimentos e guardá-los para si mesmo, na sua vida adulta, segundo a psicóloga, ele pode desenvolver dificuldades no controle das emoções, além de ter as funções executivas de planejamento, controle inibitório, flexibilidade cognitiva comprometidas, o que leva muitas vezes a não se ter um resultado satisfatório nas obrigações e uma imaturidade na forma de lidar com os problemas.