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Além de mudar a relação da criança com os pais e ser um dos fatores mais estressantes para ela, o divórcio também pode influenciar negativamente os relacionamentos conjugais dessa criança no futuro. Por isso, se o fim do casamento não puder ser evitado, o casal deverá minimizar ao máximo os impactos na rotina da família e garantir que os filhos sejam ouvidos durante todo o processo.

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De acordo com a especialista em psicologia clínica Patricia Santiago, a separação dos pais é muito impactante — principalmente para crianças até quatro anos de idade — porque elas não compreendem situações abstratas e precisam ver objetos e pessoas para assimilar o que ocorre ao redor. “A criança entende pelo concreto, ou seja, precisa ver a mãe e o pai juntos para sentir que está tudo bem e saber que eles se amam”, afirma.

Quando isso não ocorre e a rotina é quebrada pelo divórcio, a criança não consegue administrar seus sentimentos ou entender o motivo que levou àquela mudança brusca no dia a dia familiar. “Ver a mãe dormir sozinha ou ficar esperando semanas para ver o pai, por exemplo, traz muito sofrimento a essa criança, e isso pode interferir em sua vida adulta”.

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Além disso, mesmo sem compreender a motivação do divórcio e as dificuldades que os pais viveram durante o relacionamento, os filhos ficam atentos às ações de seus responsáveis e gravam as atitudes que presenciaram. Segundo a psicóloga, a captação dessas ações boas e ruins ocorre devido ao funcionamento dos neurônios-espelho, que disparam no córtex cerebral a fim de imitar comportamentos. “A descoberta desses neurônios nos ajudou a entender como é a relação de empatia, ou seja, de olhar para o outro e sentir o que ele está sentindo”, explica.

No caso da criança, ela percebe quando a mãe é agredida de forma física e verbal, quando o pai age de forma machista ou quando existem discussões frequentes entre o casal. Isso passa a fazer parte do senso de moralidade dos filhos e eles podem simpatizar com as atitudes do pai ou da mãe. “É aí que vem o problema porque, quando entender o que é divórcio, essa criança poderá detestar ou simpatizar com as ações negativas que presenciava”, explica a psicóloga.

Ainda, de acordo com ela, esse padrão costuma ser definido de forma inconsciente e só se revela quando o filho inicia seus próprios relacionamentos na vida adulta. Então, se ele teve um pai machista, por exemplo, pode desejar ter várias mulheres e não valorizar a esposa. “Isso porque o filho tomou como verdade o mesmo processo de autoestima que viu no seu pai”.

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Diálogo e atenção

Esse impacto do divórcio também pode se refletir nas relações das filhas e até influenciar na escolha de parceiros futuramente. Por isso, deve ser amenizado ainda na infância com diálogo e atenção. “A criança precisa falar a respeito do que aconteceu, só que, muitas vezes, pai e mãe não querem comentar a respeito do outro após a separação e não dão espaço para a criança dizer o que sente”, comenta Patricia.

Sem perceber, a fiscal de caixa Silvia Giovani de Castro agiu assim. Moradora de Araucária, na região metropolitana de Curitiba, ela sofreu muito com a separação, em agosto de 2016, e não percebeu que o filho de seis anos precisava falar sobre a mudança. “Eu estava triste porque fomos casados por 17 anos, então chorava e procurei ajuda psicológica. Mas meu filho mais novo brincava e conversava normalmente, então achei que ele estava bem”, relata a mãe.

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De acordo com Patrícia, as crianças tentam proteger seus pais e, por isso, escondem seus sentimentos para não ver a mãe ou o pai triste. “Como essa criança não fala com os pais a respeito do que está sentindo, ela pode apresentar dificuldades de concentração e diminuir as notas na escola ao focar toda sua energia no problema de família”, explica a especialista.

Além disso, os filhos podem contar seus problemas para algum amigo da escola ou parente, e a família deve estar atenta a isso. “No nosso caso, meu caçula comentou com a avó que estava sentindo uma forte dor no coração, e aquilo me deixou muito preocupada”, relata Silvia, que levou o menino ao pronto atendimento da cidade. “Lá, a médica viu que ele estava saudável e começou a perguntar sobre coisas que o preocupavam. Aí percebi que o problema dele era saudade do pai e que ele precisava falar com alguém”.

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Segundo a especialista em psicologia, o diálogo aberto é necessário após a separação e pode ser realizado com os pais ou um terapeuta. “Isso ajuda o filho a expor suas preocupações e evita a repetição de padrões negativos de relacionamento em sua vida adulta”. Ela ainda orienta os pais a deixarem um calendário com os filhos pequenos para que eles risquem à medida que os dias passam e saibam quando receberão a visita do pai ou da mãe. “Após o divórcio, a criança não sabe quando vai sanar sua saudade, então ter um calendário e algum outro objeto do pai também pode ajudar nessa fase”, aconselha.

Já durante o crescimento da criança, os pais precisam afirmar que a separação deles não é algo que precisa se repetir na vida dos filhos. “Um dia essa criança irá se casar e poderá fazer mudanças no casamento para viver feliz. Afinal, é muito mais fácil mudar do que separar”, pontua Patricia.

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