Entre os filhos, é comum que aconteça de os irmãos disputarem a atenção dos pais e outros familiares e, com isso, a convivência em casa pode ser prejudicada. Afinal, não é fácil lidar com as frustações, medos e incertezas de cada filho, e quando há sentimentos de rivalidade, uma grande batalha surge para ser enfrentada pelos pais.
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E há casos em que, mesmo depois que os filhos crescem, os pais percebem que a competição permanece e frequentemente surgem comentários que dão a entender que um deles é o preferido. Por isso, é essencial trabalhar desde cedo o assunto “competição”, mostrando que ela pode ser saudável desde que seja desenvolvida de maneira equilibrada.
Para Michelle Norberto, psicóloga do Colégio Positivo International School, a competição em si não é uma característica ruim. “É fundamental incentivar e propiciar momentos em que essa competição possa ser desenvolvida de maneira saudável e em prol do crescimento físico, emocional e social da criança. Esses incentivos podem envolver a participação em jogos de estímulos mentais e competições de atividades físicas”, explica.
A competitividade possui uma vertente inata e primitiva no ser humano, não apenas com o objetivo de superar limites ou ganhar, mas também por uma questão de sobrevivência e evolução. “Entretanto, a competitividade de uma pessoa é extremamente influenciada pelo seu contexto e história de vida. Tudo dependerá dos estímulos e experiências dados a essa questão e de outras habilidades desenvolvidas ou não – como, por exemplo, o limiar de frustração, empatia, cooperação, respeito e autocontrole”, analisa Michelle.
É importante que as crianças passem por experiências de sucesso em competições, mas que também vivenciem as perdas e frustrações, criando assim um repertório de comportamentos e habilidades que a permitam tratar de situações sem sofrimento. “Juntamente com o trabalho da competição, pais e escola devem propiciar espaços e mediações que desenvolvam o aumento do limiar de frustração, para que a criança saiba enfrentar essas perdas e imprevistos. No espaço familiar e escolar, podem existir situações “controladas” de competição que contarão com a mediação de um adulto, podendo garantir aprendizados que servirão para diversas outras ocasiões de sua vida”, conta a psicóloga.
Experiência em casa
Na casa da família Pagani, a competição está por todos os lados. Para Edinéia Rauta, mãe do Theo, de 8 anos, e Eric, de 3, os filhos competem pela atenção dos pais. “Precisamos reservar tempos separados para cada um deles. Tanto eu, como o meu marido Bruno, fazemos momentos mamãe ou papai e filhinho, ora com um, ora com outro. Nessas ocasiões, focamos neles, deixamos tudo de lado e fazemos as brincadeiras escolhidas, conversamos e nos divertimos.
Edinéia explica, que, como as idades são diferentes, as brincadeiras e prazeres também são, e esses momentos à sós com cada filhos são fundamentais para a conexão com cada um. "Mesmo assim, ainda existe rivalidade. Quando andamos na rua, por exemplo, ambos querem a mesma mão da mãe. Daí vem a disputa, os empurrões, o choro no meio da rua e eu tentando contornar. A solução para esses problemas são os combinados, como garantir uma vez com um, depois o outro", relata.
A mãe do Theo e do Eric aponta, ainda, a dificuldade em ser pais de crianças competitivas. O grande desafio é fazer com que entendam que são amados de forma igual. “Eles adoram disputar quem come mais rápido, faz mais gol, desenha melhor, mas cada um do seu jeito. Disso surgem as brigas e frustrações, porque um perde. Não podemos podar e evitar isso, pois faz parte do crescimento deles. A competição, desde que seja leal e sadia, é importante, pois eles aprendem a lidar com as frustrações e ter mais paciência para atingir os objetivos”, diz.
Para o futuro, Edinéia espera que a amizade entre os dois prevaleça, com menos disputas e mais competição saudável – aquela que faz crescer e permite que se tornem pessoas melhores e alcancem sonhos. O filho mais velho, Theo, confessa que adora competir com seu irmão. “Eu gosto de competir quando jogamos, porque sempre ganho. Daí meu irmão fica bravo e chora. Eu também fico chateado quando perco”, revela.
Mais ação e menos competição
Para a psicóloga clínica especialista em Terapia Cognitivo Comportamental, Simone Steilein Nosima, a competição deixa de ser benéfica quando causa intrigas e dificuldades no relacionamento. “Por isso, é importante tomar cuidado para não incentivar a competição "jogando um contra o outro", mas sim, ajudando os filhos a se enxergarem como uma equipe, em que cada um pode possuir habilidades distintas e igualmente importantes”.
Os maiores desafios são os conflitos e a manutenção de bons valores pessoais. Entender que o relacionamento é mais importante que uma competição vencida. Compreender que é mais nobre perder, do que abrir mão de valores como empatia e ética. “É importante incentivar o olhar para si e não para as evoluções do outro, para que não percam de vista o que realmente importa”, finaliza Simone.