Família reunida ao redor da mesa, todos comendo e… conversando? Não. Cada um com a atenção voltada para seu celular. Essa é uma cena muito comum hoje em dia. E a prática também continua após as refeições, quando cada um vai para o seu quarto e lá passam horas interagindo com pessoas que estão a quilômetros de distância, enquanto não sabem nem mesmo como foi o dia de quem está na sala de sua própria casa.
Não é preciso muita reflexão para perceber o quanto esse tipo de relação vem afastando marido e esposa, pais e filhos, e até irmãos. Esse enfraquecimento das relações familiares é ainda mais prejudicial para as crianças que, necessariamente, precisam desse contato para o seu pleno desenvolvimento.
Jogos de tabuleiro são ótimos para reunir amigos e familiares
A psicopedagoga Juliana Vargas lembra que estatísticas recentes mostram um grande aumento de diagnósticos de depressão infantil, o que tem relação direta com essa atual desconexão das famílias, com menos vínculos afetivos, e menos orientações e limites – que são fundamentais para a construção da personalidade da criança. “Os prejuízos que essas atitudes trazem são incalculáveis”, afirma Juliana.
Segundo a especialista, as relações humanas e as trocas afetivas são fundamentais para construção da estrutura de cada pessoa. “Uma criança em formação precisa conviver, conversar, ser ouvida e saber ouvir, por meio de sua família e amigos”, explica. “Quando se trocam as conversas do cotidiano e o ‘olho no olho’ por atividade no celular, perde-se uma interação social extremamente saudável”.
Mudança de hábitos
Uma ótima saída para tentar compensar todos esses prejuízos e fortalecer o vínculo familiar pode estar mais perto e mais acessível do que muitos imaginam: as antigas e simples brincadeiras, jogos e atividades em família. “São momentos em que todos relaxam, dão risada, interagem e produzem a serotonina, um neurotransmissor fundamental para o bem-estar e bom humor do ser humano”, explica Juliana.
Retomar as atividades lúdicas entre pais e filhos por meio de alternativas simples – objetos, cartas, materiais escolares, etc. –, além de aproximar a família e gerar troca de experiências, é um estímulo à criatividade e desenvolvimento das crianças. “Há, ainda, os jogos de tabuleiro, que oferecem grandes oportunidades de troca de experiências entre a família”, sugere a psicopedagoga.
Mímica, desenho, jogo da memória, perguntas e respostas, jogo dos sete erros, stop, e até o nostálgico telefone sem fio, são jogos e brincadeiras que todo mundo conhece e podem trazer resultados surpreendentes na convivência familiar, criando – ou retomando – uma relação leve e divertida que gera confiança e interesse mútuo.
Tatiana Suarez, que ministra oficinas para o projeto Escola Criativa da Tris com o intuito de oferecer soluções para problemas relacionais atuais, afirma que é na brincadeira que a criança estabelece vínculos, desenvolve capacidades físicas e motoras, reconhece seus limites, se apropria da sua história e explora o mundo. “Em um mundo tecnológico, devemos ter cuidado, pois brincar não é clicar em um botão e fazer com que o brinquedo faça o resto”, aponta. “Não queremos expectadores. Queremos crianças ativas e curiosas. Então, a minha dica é: esteja realmente presente no momento de brincar com os seus filhos, desligue o celular, deixe a imaginação rolar e brinque – literalmente!”, sugere Tatiana
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