Conflitos entre irmãos adultos geram muita preocupação nos pais, mas precisam ser administradas com cautela| Foto: Bigstock
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Se as desavenças entre irmãos na infância e adolescência já preocupam bastante os pais, mesmo sendo passageiras e até compreensíveis, as brigas na idade adulta trazem ainda mais aflição ao coração de um pai e uma mãe. Por isso, é natural deles tentar intervir e resolver as coisas da mesma forma que faziam anos antes quando um brinquedo novo era motivo de discordância entre os pequenos. Mas interferir em um conflito entre irmãos adultos, seja qual for o motivo, é mesmo o melhor caminho?

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Segundo a psicóloga Clarice Ebert, essa não é mais a tarefa dos pais. “Quando os filhos chegam à vida adulta, a relação com a família deve ser reconfigurada", afirma, ao explicar que, nessa fase, os filhos adultos continuam se relacionando com os pais e respeitando a posição deles, mas os pais não têm mais as funções que tinham antes. "Ou seja, não mais serão os guias, educadores, provedores e orientadores, porque seus filhos devem assumir os cuidados de si, como adultos”.

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Nesse contexto, um conflito entre irmãos deve ser solucionado por eles mesmos. “Afinal, as principais características de que um filho chegou à fase adulta não é sua idade, mas a capacidade de usar a autonomia para ser independente dos pais, tanto financeiramente como afetivamente”, diz Clarice. “Pais sábios entenderão que seus filhos precisam alçar o voo da independência e saberão fazer sua retirada gradativa para facilitar esse voo”.

Quando isso não acontece e pai e mãe continuam guiando e interferindo nas situações do dia a dia dos filhos, problemas podem aparecer, como explica o psicólogo Marcos Meier. Segundo ele, a interferência em uma briga de irmãos, por exemplo, pode acirrar os rancores porque, dependendo da forma da abordagem, um irmão pode entender que o outro já cooptou os pais para seu ponto de vista, e não reconhecer mais os pais como figuras neutras. “E é muito fácil entrar no conflito já com uma interpretação, sem ainda ter ouvido os dois lados”, ressalta Meier.

A estratégia é a escuta

Por isso, o especialista sugere ter por princípio não intervir em conflitos alheios. “Mas, se for preciso, use a estratégia de ouvir o outro”, aconselha, ao afirmar que o maior problema das brigas entre adultos é não saber escutar. "Isso a gente chama de monólogo consecutivo: não é um diálogo, cada um fala o que quer sem ao menos ouvir o que o outro pensa”.

Então, se os pais sentirem necessidade de ajudar em um conflito dos filhos, precisam evitar ataques aos envolvidos para não aumentar as rachaduras da relação. Além disso, podem começar dizendo que gostariam de ouvir o que os filhos têm a dizer, sabendo o que pensam e o que estão sentindo. De acordo com Meier, é preciso ter em mente que cada filho tentará convencê-los do seu ponto de vista, mas que não se deve dar um parecer antes de compreender a visão de ambos.

"Lembrando que a interferência dos pais, quando houver, deve ocorrer com cautela, de preferência quando convidados para dar sua opinião, sem serem invasivos ou intromissivos”, afirma Clarice. Afinal, "os pais devem deixar seus filhos voarem e criarem autonomia, ao mesmo tempo em que deixam o acesso livre para que eles possam buscar seus conselhos sempre que quiserem”, finaliza a psicóloga.

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