Um estudo da Universidade de Buffalo, nos Estados Unidos, revelou que o relacionamento positivo entre mãe e filhos pode ajudar a impedir que eles tenham um relacionamento abusivo na adolescência e vida adulta. Mesmo que o casamento materno seja rodeado de conflitos, a relação de amor e confiança com a mãe protege as crianças e adolescentes, pois contribui para sua autoestima e para a construção de modelos internos positivos amáveis e dignos de respeito.
Patrícia Guillon Ribeiro, psicóloga e coordenadora da pós-graduação em Abordagens Multidisciplinares da Saúde Mental em Infância e Adolescência da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), afirma que a pesquisa aponta a importância da interação de qualidade na relação parental para o desenvolvimento emocional infantil. Quando não é estabelecido de forma adequada, este relacionamento pode gerar dificuldades na construção de relações afetivas futuras.
“Entretanto, o estudo aponta para a relação da criança com a mãe dentro de um contexto específico, que é o de pais alcóolatras. Apesar de achar que a pesquisa tem suas fragilidades e que os resultados deveriam ser melhor analisados e discutidos, acho que a realidade identificada se repete sim em qualquer família que tenha dificuldades na interação parental, independente da cultura da mesma”, ressalta.
Mais afeto, mais segurança
A professora observa estas questões no seu dia a dia profissional – a pouca demonstração de afeto entre pais e filhos, e não apenas entre mães e filhas, contribui para o envolvimento do futuro adulto em relações abusivas de qualquer natureza, com um padrão de comportamento inseguro nos relacionamentos com seus pares. Além disso, a psicóloga destaca que outras pesquisas também indicam que quanto mais a mãe for afetiva, mais segura a criança se torna, favorecendo o envolvimento com pessoas que a respeitem e gostem dela.
A psicóloga, palestrante e coach Renata de Azevedo concorda e acredita que uma boa relação entre os pais ou cuidadores na infância evita muitos problemas futuros, inclusive em outras áreas da vida. Ao ter suas necessidades atendidas de maneira satisfatória e crescer em um ambiente saudável, cercada de amor, segurança e confiança, a criança terá autoestima elevada e irá buscar relacionamentos mais saudáveis.
“Se for preciso lidar com relações parentais hostis, agressivas ou que não atendam suas necessidades, o indivíduo irá buscar, de maneira inconsciente, relações abusivas em algum grau para reproduzir o estilo de relação que aprendeu. Eu percebo isso tanto no consultório de forma prática como também em toda a teoria que eu estudo”, explica a especialista em terapia de casal e de família.
Para Patrícia, os relacionamentos abusivos possuem uma dinâmica na qual o abusador convence o outro que ele precisa muito dele. Com a autoestima fragilizada, o abusado acredita no argumento e fica dependente. Apesar de não ser uma regra, entre as condições para uma criança se tornar um adulto capaz de evitar abusos está o estabelecimento de relações parentais que valorizem a criança, com afeto, limites e confiança para não duvidar de si mesma.
Renata esclarece que esta construção também ocorre quando o abusado não se posiciona para evitar conflitos. Com medo de expressar suas opiniões, gostos e preferências, a pessoa acaba sendo abusada, por isso é necessário se posicionar para não construir este tipo de relação, sendo que todo aprendizado começa com uma relação saudável com os pais na infância.