Crianças mais pressionadas pelos pais, quando o assunto é comida, são as que desenvolvem maiores níveis de alimentação seletiva| Foto: Elly Fairytale/Pexels
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Uma das preocupações mais comuns dos pais é com relação à alimentação de seus filhos. Porém, se seu filho é muito seletivo ou tem alguma dificuldade na hora de comer, o problema pode estar na sua atitude durante as refeições.

Uma pesquisa recente, feita pelo Hospital de Crianças da Universidade de Michigan, aponta que atitudes dos pais na hora da refeição têm um peso importante no comportamento das crianças. O estudo foi realizado com 300 pares de pais ou responsáveis e crianças de 4 anos de idade, ao longo de cinco anos.

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Atitudes ruins

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Dentre os comportamentos que pais ou cuidadores podem reproduzir, e que têm o potencial de causar dificuldades para as crianças na hora da refeição, estão: exigir que a criança coma determinado alimento, forçando-a a experimentar; obrigá-la a “terminar o prato” antes de sair da mesa; impor muitas restrições às comidas (ou seja, criar diversas regras, como de que determinado alimento não pode comer, outro pode comer um certo tanto).

Tentar persuadir a criança a comer algum alimento (em vez de deixá-la experimentar ao seu tempo) e usar a comida como chantagem (como, por exemplo, oferecer uma sobremesa caso ela coma legumes ou verduras) são atitudes que, tomadas pelos pais, podem incentivar a seletividade. Também atrapalha nessas horas a atitude contrária, qual seja, cozinhar somente o que a criança gosta, sem expor ela a novos alimentos.

O estudo revelou que as crianças que são mais pressionadas pelos pais, quando o assunto é comida, são as que desenvolvem maiores níveis de alimentação seletiva. Enquanto que os pais que pressionam menos e determinam menos regras com relação à alimentação, criam filhos menos seletivos. Basicamente, ações que geram conflitos e tensões entre os pais e os filhos com relação aos alimentos e a refeição, podem criar uma memória negativa da criança com aquele alimento. Com isso, o comportamento seletivo se desenvolve de maneira mais fácil.

Nenhuma das crianças analisadas apresentou melhora no hábito seletivo (ou, como é chamado em inglês, de ser “picky eater”). As famílias eram de baixa renda, mas mesmo com alguma diferença entre elas, a pesquisa não apontou o lado financeiro como relevante para este tipo de comportamento. No entanto,  crianças com problemas de controle emocional, como sendo mais ansiosas ou irritadas, por exemplo, estavam entre as mais seletivas (15% do todo).

A recomendação para tentar evitar o comportamento seletivo, por parte das crianças, é estimular o contato com diversos tipos de alimentos, de diferentes gostos, aromas e texturas. A partir dos 6 meses até os 2 anos de idade é quando essa fase acontece, uma época em que a criança começa a deixar de ter uma alimentação exclusivamente láctea (do leite materno ou de artificiais), e passa a experimentar outras comidas.

“O melhor momento para ensinar ela a comer é nesses dois primeiros anos de vida. O cuidador tem que ter uma postura muito sensível com a criança. É a janela de oportunidade para a criança formar hábitos alimentares saudáveis”, explica Cláudia Choma Bettega Almeida, Professora de Nutrição materno infantil  do curso de Nutrição e pós-graduação em Alimentação e Nutrição da UFPR. O cuidador é o responsável pela alimentação da criança, podendo ser os pais, a escola, uma babá ou avós.

Aliado a esse momento, é preciso ficar atento à maneira como a criança é servida. A refeição precisa ser feita em um bom momento, no dia a dia das crianças. “A própria OMS [Organização Mundial da Saúde] diz que a alimentação tem que ser responsiva. Ela leva em consideração as necessidades da criança, o contexto no qual ela está e a relação mais sensível do cuidador com a criança. Ela atenta ao apetite das crianças e à necessidade, sem autoritarismo”, esclarece.

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Memórias negativas

Algumas práticas podem criar memórias negativas em relação a certos alimentos, que elas irão rejeitar mais tarde. “Quando se tem um cuidador que a força a finalizar o prato, a provar certos alimentos, a alimentação deixa de ser prazerosa e passa a ser negativa, torna a experiência ruim”, afirma a especialista. Por isso é importante não somente não “empurrar” a comida, mas tentar servir em um momento que a criança esteja com fome.

O ambiente à mesa também é importante. Na hora de comer, é melhor evitar clima tenso, de confronto, com a criança ou entre as outras pessoas presentes. O clima agradável na hora de se alimentar torna a experiência prazerosa.

Caso elas deixem restos no prato, não é recomendável tentar recompor a alimentação com outro alimento na sequência (como um leite com achocolatado, por exemplo). Mas, sim, aguardar por um outro momento em que ela possa comer novamente. 

Alguns estudos já comprovam que, para facilitar a entrada de novos alimentos na dieta das crianças, elas precisam ser expostas de 8 a 12 vezes a ele. E não precisa ser somente quando for servido à mesa. “Quando a criança não quer provar, não temos que forçar. Temos que aproximar a criança ao alimento. De que forma? Levar para comprar, ajudar a lavar, no preparo. Ela aí pode sentir a textura, o cheiro e naturalmente ela vai se adaptando ao alimento”, aconselha a professora.

A família é o modelo da criança. Portanto, não adianta tentar fazer com que os menores comam algo, enquanto ninguém mais na mesa se serve daquele prato. Isso também influencia no comportamento seletivo.

Alimentos ultraprocessados, como bolacha recheada, salgadinhos, doces, chocolate, achocolatado em pó, iogurtes industrializados devem ser evitados, diz a nutricionista, que ministra periodicamente oficinas online pela UFPR de Promoção da Alimentação Saudável, abertas à comunidade.

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