Ansiedade na adolescência é assunto recorrente e definitivo nas escolas. Pais são frequentemente alertados sobre os sinais emitidos em sala de aula. A luz amarela um dia acesa, hoje faz parte de nosso atribulado dia a dia. Assustadoramente, crianças e adolescentes sofrem de ansiedade desde muito cedo o que nos exige ainda maior atenção sobre filho para ajudá-lo a, senão bani-la, pelo menos mantê-la em nível minimamente suportável e controlado.
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O mundo atual é dinâmico e ágil, e conta com pais atormentados por uma rotina estafante de longas horas de trabalho fora e dentro de casa. Reiteradamente estressados, então, nos desdobramos para dar conta da família e tudo o que vem "no pacote" desta realidade "moderna".
A tecnologia inovadora, extremamente rápida e em constante evolução fomenta conquistas materiais ilimitadas e uma vida perfeita nas redes sociais. E para completar este novo cenário, o adolescente "de hoje" se vê à beira do mundo adulto pela fase aterrorizante das responsabilidades e da busca de realizações.
Neste contexto desafiador, difícil não sofrer de ansiedade na adolescência. Por isso, também, nós pais precisamos mudar nossa lente para enxergar de perto as condições em que nossos filhos chegam à adolescência. A fase por si só já exige esforço de toda a família em acolher este "novo ser" em formação; no mundo de hoje, percebê-lo mais e melhor é vital. A ansiedade na adolescência está à espreita; estar junto de seu adolescente é, portanto, fundamental.
Ansiedade adolescente disfarçada
Em reuniões de pais na escola, é perceptível pais ansiosos relatando - a meu ver, erroneamente – o que julgam ser a "personalidade" dos filhos. São inúmeros – e recorrentes – os exemplos do filho "de temperamento forte" que se nega a seguir regras e de filha "decidida" intolerante a – pasmem! – notas abaixo de 9,5.
Narrados como meras amostras de temperamento ou personalidade, me pego refletindo:
— Será que realmente acreditam nisso? Estariam cegos à ameaça de uma questão mais profunda?
A pressa cotidiana, o estresse diário, as responsabilidades cumulativas contribuem com a automatização de pais. Em suas rotinas, seus dias parecem mesmo privá-los do convívio e da necessária – e devida – atenção a filho. Infelizmente, o mundo moderno e ágil "de hoje" deixa muito pouco ou nenhum tempo para a rica troca de experiências em família. Da parte do filho, então, sobra frustração e ansiedade de se sentir sozinho em uma fase comprovadamente desafiadora; sobra medo de não saber a atitude a tomar, do comportamento a adotar, da decisão a fazer. Sobra sofrimento por não saber como lidar com o presente... quiçá o futuro.
A inevitável ansiedade adolescente
Nascido e criado na era digital, o jovem sofre também a ação da tecnologia nesse quadro alarmante de ansiedade na adolescência. Os incríveis recursos e equipamentos surgem a toque de caixa diariamente e, conjugados com a cultura consumista, ampliam exponencialmente o desejo do ter como medida de valor pessoal enquanto as redes sociais vendem a ideia de vida perfeita em que "o outro é que é feliz."
Não bastasse o contexto externo, a adolescência chega e, com ela, também as cobranças por atitudes, decisões e planos para o futuro. Aterrorizado e cercado de normas comportamentais e sociais, o jovem luta internamente para se acomodar às novas regras impostas, se ajustar às novas exigências e ainda aceitar suas próprias mudanças físicas e emocionais.
Decerto que as responsabilidades e expectativas sobre o adolescente pesam. Como que de repente, passamos a esperar dele autonomia, iniciativa, responsabilidade, decisões, atitude, postura diante da vida o que, invariavelmente leva tempo para se concretizar. Então me pergunto:
— Dá pra não ficar ansioso?
Ansiedade na adolescência
Vivi essa dinâmica e provei desse veneno. Mudei quando percebi filho se fechar para o mundo e, tristemente, para sua vida exatamente o oposto do que esperava ser a fase, ou seja, de abertura a novas experiências. Foram vários os sinais:
— Saco, mãe! Não vou à festa do Zeca porque não sei quem vai estar lá. E se nenhum dos meus amigos for?
— Mãe, você não entende! Era pra eu ter tirado 10 nessa prova! Estudei muito pra tirar só 9! Saco!
— Pô, mãe, não quero voltar de taxi... e se o cara for bandido? E se ele não souber o caminho direito?
Felizmente tive tempo de ajudar meu adolescente a firmar equilíbrio. Percebi mudanças de comportamento e atitude, atentei aos seus comentários que denunciavam o adolescente ansioso e inseguro acima do esperado para a fase. Impactado por excessivo grau de ansiedade e medo em seu dia a dia, via seu desenvolvimento e, principalmente, sua vida ser dolorosamente enfrentada com irrisórios recursos... e ajuda individual.
Papel de pais de adolescente
Sem dúvida que a atualidade potencializou o risco – e os casos – de ansiedade na adolescência. Se por um lado vivemos a incrível era das inimagináveis possibilidades profissionais e tecnológicas, por outro convivemos com jovens mais vulneráveis a esta intrépida – e ainda desconhecida – realidade.
O que me embevece curiosamente também me desqualifica como mãe. Meu adolescente, de fato, conta com inúmeras novas opções de futuro, bem diferente do meu passado o que me faz também entender-me igualmente necessitada de maior conhecimento para ajudá-lo neste inusitado contexto de total transformação dentro e fora dele.
Assim, permanecer junto do filho adolescente virou necessidade o que requer pais conscientes da responsabilidade do que se tornou missão ainda mais complexa de formar adulto física e emocionalmente saudável para o mundo.
A vida decerto continuará em seu ritmo alucinante, o mundo continuará evoluindo (seja lá o que isso significa), a tecnologia continuará avançando. Mas, não nos distraiamos: filho continuará precisando de nosso tempo, nossa disponibilidade e disposição para ajudá-lo a viver a adolescência e se tornar adulto verdadeiramente autônomo e saudável.
*Xila Damian é escritora, palestrante e criadora do blog Minha mãe é um saco!, espaço em que conta as situações cotidianas e comuns que vive sendo mãe de adolescentes, buscando desmistificar clichês sobre essa fase dos filhos, para transformá-la em um tempo de aprendizado.