Prejudicial em qualquer idade, na infância, os efeitos do acesso à pornografia são ainda mais nocivos. De acordo com Altair Olivo Santin, doutor em segurança, cibersegurança, segurança da informação e segurança computacional e professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), o conteúdo pornográfico pode chegar às crianças de várias maneiras e o acesso acontece principalmente a partir de compartilhamentos em redes sociais, mas, também, pelo uso de navegadores de internet em smartphones e tablets.
“WhatsApp, YouTube, Facebook e Instagram estão entre os aplicativos mais utilizados por crianças no Brasil. O problema é que nenhum destes, à exceção WhatsApp que é de classificação livre e permite o uso para menores de 13 anos. TikTok e Snapchat também são utilizados por muitas crianças apesar de seu uso só ser recomendado para maiores de 12 anos. Toda esta preocupação com a censura é exatamente porque é difícil controlar o que é compartilhado nestes apps”, explica Santin.
A psicopedagoga Fabíola Sperandio Teixeira do Couto, mestre em educação e terapeuta de família, afirma que, assim como muitos adultos, as crianças não têm ferramentas emocionais suficientes ou maduras para ter acesso a pornografia. Ao assistir a vídeos e ver fotografias pornográficas, as emoções e até o corpo ficam aguçados, aumentando a curiosidade pelo assunto.
Diante disso, algumas crianças ficam chocadas e assustadas, enquanto outras querem partir para a imitação, ficam viciadas e passam a ter comportamentos mais erotizados. “A pornografia faz um distanciamento do que é algo prazeroso, de envolvimento emocional e afetivo. Ao chegar na vida adulta, este indivíduo terá dificuldade porque aquelas situações não acontecem na realidade, gerando frustração, baixa autoestima e problemas emocionais”, destaca.
Vigilância é essencial
As famílias precisam ficar atentas e acompanhar cada passo dado pelos filhos ao assistir televisão ou navegar na internet. Em vez de vigiar a brincadeira na rua, como antigamente, hoje, os pais devem monitorar o mundo virtual. “É necessário ver os históricos de acesso, chegar de surpresa e ver o que estão fazendo, observar se há mudanças de comportamento quando alguém está próximo durante o uso das tecnologias. A recomendação é fiscalizar o tempo todo, pois o adulto é o responsável pelas crianças e adolescentes”, ressalta Fabíola.
Santin recomenda o uso de programas de monitoramento e bloqueio de conteúdos impróprios para evitar a exposição na internet. Nas lojas de aplicativos é possível encontrar nas categorias “criar os filhos”, “parental control” e “parenting app” opções para ajudar os pais a controlar o que os filhos acessam. Os melhores são os mais baixados e bem avaliados na categoria. O especialista reforça que é importante não permitir o acesso a localização, câmera e microfone na instalação de aplicativos que serão utilizados por crianças ou utilizar apps que bloqueiem o seu uso.
Ferramentas similares também estão disponíveis para serem instalados em computadores. No caso das "smart tvs", as soluções para controle parental nem sempre estão disponíveis e contam com poucos recursos. O ideal é solicitar que um técnico faça a configuração de uma ferramenta de segurança que filtre os conteúdos impróprios ou não permitir que o aparelho acesse a internet.
Outras medidas de proteção nas "smart tvs" são uso de senhas com habilitação de autenticação em duas etapas, instalação de soluções de segurança para internet (internet security suite) para uso do parental control, controle dos apps instalados e utilização de ferramentas que ajudem a monitorar a histórico de postagem e visualizações de redes e mídias sociais. “É importante ter em mente que nenhum software substitui um ser humano, mas estes podem nos auxiliar com certa efetividade. Então, a melhor estratégia é associar o monitoramento automático das ferramentas com a inspeção humana de pais e mães para oferecer a melhor proteção a nossos filhos”, enfatiza.
Meu filho teve acesso a pornografia e agora?
Fabíola aconselha aos pais calma e priorizar o diálogo acolhedor, sem julgamentos. O ideal é perguntar se a criança entende o que viu e incentivá-la a falar para entender o que se passa na cabeça dela. Deve-se explicar que aquele teatro filmado não acontece na vida real.
Discurso longos, proibições e punições não são eficientes, ao passo que a conscientização é o melhor caminho para minimizar as consequências, mostrando que aquela atitude está reprovada, mas ela continua sendo amada pela família. Também é importante ensinar a ser seletivo e explicar as regras e motivos pelos quais conteúdos como aqueles não são recomendados. “As crianças precisam aprender a viver, a lidar com o mundo, o que é permitido e o que não é permitido pra que elas sejam protegidas emocionalmente”, finaliza.