A pequena Lizzie Rezende ainda nem sabia falar e estava começando a interagir com o mundo, mas sua mãe Daiane Cassiano já conversava com ela e não economizava nas palavras de afirmação e elogios dirigidos à filha. “Isso fez com que a Lizzie crescesse com boa autoestima e super sorridente”, afirma a técnica de enfermagem, que hoje se surpreende com a menina de três anos. “Ela é feliz e muito segura do que pensa”, garante a curitibana.
De acordo com a psicóloga e pesquisadora Lídia Weber, isso acontece porque valorizar e encorajar a criança são princípios fundamentais para garantir a saúde emocional dela e fazem com que aprenda, desde cedo, a acreditar em si mesma. Sem contar que o incentivo “ajuda os pequenos a desenvolverem imaginação, criatividade e os motiva a continuar dando seu melhor em diferentes situações”, garante a especialista, que é doutora em psicologia e professora sênior da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
No entanto, enquanto palavras positivas colaboram para o bom desenvolvimento dos filhos, as negativas atrapalham e trazem graves consequências. Um estudo coordenado por pesquisadores da Universidade de Harvard, por exemplo, analisou durante 20 anos o cérebro de vários órfãos da Romênia e provou que a falta de estímulo e socialização entre 0 e 6 anos — e mais gravemente de 0 a 3 — trouxe traumas emocionais e sérios danos neurológicos às crianças.
Além disso, a pesquisa mostrou que o fato de não receber afeto ou palavras de carinho nos primeiros anos de vida também contribuiu para o surgimento de transtornos psiquiátricos e dificuldades de aprendizagem. Afinal, “falar palavras duras demais, ofender, gritar ou ameaçar a criança traz consequências”, garante a psicóloga, ao citar ainda que filhos não valorizados por seus pais sofrem bastante emocionalmente e podem carregar esse trauma até a vida adulta.
Por isso, é necessário ter muita cautela ao repreender os filhos, mostrar limites ou explicar que fizeram algo de errado. “Jamais use frases como ‘você é burro, desastrado ou não faz nada direito’, porque isso é extremamente prejudicial”, alerta Lídia. “E, em vez de ficar gritando ‘não’ toda hora, minimize as chances de a criança cometer erros”, aconselha a doutora, ao sugerir que vasos e outros itens que possam quebrar, por exemplo, sejam colocados em lugares altos da estante, fora do alcance dos pequenos.
Sentenças positivas
Outra dica, segundo ela, é utilizar sentenças positivas, mesmo na hora de mostrar ao filho algo que não deve fazer. “Ou seja, em vez de ordenar ‘não grite’, fale para ele usar tom de voz mais baixo e gentil”. E o mesmo vale para os momentos em que a criança se deparar com fracassos ou frustrações, pois a maneira adequada de lidar com a situação contribuirá para o desenvolvimento da resiliência. “Então, se seu filho tirar uma nota baixa, por exemplo, diga que entende como está sendo difícil para ele lidar com esse resultado, mas que é possível estudar mais na próxima vez e ainda contar com a ajuda dos pais para isso”.
Então, quando o filho se esforçar para alcançar aquele objetivo esperado, é hora de elogiar o comportamento dele para que compreenda o motivo do elogio. “Ou seja, em vez de dizer ‘você é esperto’ ou ‘bom trabalho’ quando o pequeno realizar algo, diga ‘nossa, vi que você tentou diferentes maneiras por um tempão e conseguiu’”.
Essa valorização do comportamento no lugar de afirmações genéricas incentiva a criança a continuar agindo daquela forma e ainda mostra que ela pode acreditar em si mesma, pois é capaz. “Assim, ficará motivada e sua curiosidade natural aumentará ainda mais para conhecer o mundo, tentar coisas novas e se sentir mais forte”, finaliza a especialista.