O comportamento violento se deve a muitos fatores. Para entender por que nos comportamos violentamente, precisamos analisar uma série de variáveis. Um dos fatores que mais têm recebido atenção é ter sido vítima de violência durante a infância. Mas parece que ter presenciado os pais perpetrando episódios de violência pode ser um elemento igualmente importante.
A exposição a comportamentos violentos durante esse período da vida por figuras tão relevantes quanto os pais ou os principais cuidadores pode ter repercussões importantes no desenvolvimento da criança. Uma delas é a repetição do padrão violento, originando um ciclo de violência.
A vitimologia do desenvolvimento contribuiu para visibilizar esses menores e mostrá-los não como meros espectadores, mas também como vítimas de violência que se veem privadas de direitos e liberdades básicas para o seu bom desenvolvimento.
O estresse crônico provoca danos permanentes
Isso acontece, em primeiro lugar, porque essas crianças vivem em um ambiente de tensão, terror ou angústia repetida, com a consequente perda do sentimento básico de segurança que um ambiente associado a proteção e abrigo, como a família, deveria proporcionar.
Consequentemente, o estresse crônico em uma idade tão nova pode causar danos permanentes às estruturas neuronais e ao funcionamento do cérebro, que ainda está em desenvolvimento. Nessas situações, as crianças aprendem e internalizam crenças ou valores negativos sobre as relações humanas e assimilam a legitimidade do uso da violência como um método válido para a resolução de conflitos.
Pesquisas mostraram que as consequências dos maus-tratos diretos e da exposição à violência familiar são semelhantes. Estudos de revisão sobre esse tema mostram uma relação significativa entre a exposição à violência e a presença de sintomas internalizantes (comportamentos ansiosos e depressivos), externalizantes (baixocontrole das emoções, agressividade e dificuldade nos relacionamentos) e traumáticos.
Ciclo de violência
Uma pesquisa realizada na Espanha observou que 2,9% das crianças e adolescentes entre 12 e 17 anos foram expostos a episódios de violência entre seus pais, enquanto 4,2% presenciaram situações de violência de seus pais contra seus irmãos ou irmãs. Esses percentuais aumentam respectivamente para 28,7% e 23,8% quando a pergunta é feita a jovens que estão no sistema de medidas socioeducativas por terem cometido algum ato infracional.
Em tudo isso, a questão principal é: essa exposição faz com que os padrões de violência sejam repetidos? A resposta não é simples, mas podemos começar com a chamada transmissão intergeracional da violência, que leva algumas vítimas a repetir o que viveram e demonstrarem raiva, ira, comportamentos hostis e intolerantes, especialmente em relação aos parceiros – e, em alguns casos, chegando a maltratar seus próprios filhos e filhas.
Há pelo menos vinte anos, os trabalhos da equipe de Cathy Spatz Widom, psicóloga e professora do John Jay College of Criminal Justice, em Nova York, mostram as fortes evidências empíricas que existem para esse fenômeno. Ter sido exposto à violência aumenta o risco de reproduzir esses padrões em 30%.
Esse ciclo de violência é provavelmente a consequência mais grave da exposição à violência familiar, mas deve-se levar em conta que ele pode ser evitado se esses casos forem detectados precocemente e se houver intervenções eficazes nessas crianças – compreendendo-as como vítimas de violência e não como meros espectadores passivos –, com o objetivo final de promover a resiliência.
*Professores de Psicologia da Universidade de Barcelona.
©2020 The Conversation. Publicado com permissão. Original em espanhol.