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Os padres Alejo Nabor Jiménez e José Alfredo Suárez foram encontrados mortos na segunda-feira (19/09), no município de Poza Rica, no estado de Veracruz. Jiménez, de 50 anos, estava no município há seis. Já Suárez, de 28 anos, foi ordenado recentemente e estava na paróquia há apenas um mês.

Os dois, junto com o seu motorista, foram sequestrados na segunda-feira e apareceram sem vida poucas horas depois em uma vala, com as mãos atadas às costas e alvejados por balas de grosso calibre. O motorista conseguiu escapar.

Por não ter havido nenhuma exigência financeira para o resgate dos padres e nem dizeres junto aos seus corpos, uma das linhas de investigação acreditava se tratar de uma mensagem do crime organizado para o exército, que naquele dia havia começado a patrulhar a região de Poza Rica.

Já o padre Juan Jaimes, que trabalha na mesma paróquia em que os dois padres assassinados moravam, sugere que possa se tratar de um roubo, o que faria dos seus colegas novas vítimas de uma onda generalizada de violência, que afeta a todos os habitantes do estado. “Mais uma vez comprovamos que a violência e a insegurança se enraizaram em nossa sociedade”, escreveu em um comunicado o bispo de Papantla, José Trinidad Zapata Ortiz.

A versão final divulgada pelo fiscal de Veracruz, Luis Ángel Bravo, porém, diz que os dois padres estavam em um bar, bebendo e conversando com outros homens, quando houve uma discussão que levou ao assassinato dos clérigos. Segundo Bravo, a conclusão está baseada no testemunho do motorista sobrevivente.

“Mais uma vez comprovamos que a violência e a insegurança se enraizaram em nossa sociedade”

Segundo o padre Hugo Valdemar, porta-voz da Arquidiocese da Cidade do México, as autoridades tentaram manchar o nome dos dois padres para se eximir do crime “o mais rápido possível”. A versão de Bravo foi divulgada no dia seguinte ao assassinato. A família do padre Jiménez também contestou a versão oficial. Seu irmão diz ter conversado com uma testemunha ocular que apontou o crime organizado como culpado pelos assassinatos.

O secretário da Conferência do Episcopado Mexicano, o bispo Alfonso Miranda Guardiola, diz não entender a pressa das autoridades para declarar as investigações encerradas e questiona: “Em que festa entre amigos, com bebida, se atam as mãos às costas para torturar e golpear?”

Na mesma semana, o segundo caso

No mesmo dia em que Jiménez e Suárez foram sequestrados e mortos, outro sacerdote foi dado por desaparecido. O corpo do padre Alfredo López Guillén, de 43 anos, foi encontrado ontem (25/09) em um terreno baldio perto de sua paróquia, em Puruándiro, no estado de Michoacán. Segundo as investigações, ele foi assassinado a tiros e já estava morto há alguns dias, provavelmente desde o dia do seu desaparecimento.

Alfredo López Guillén (divulgação). Padre Alfredo López Guillén, um dos últimos sacerdotes a ser assassinado (foto: divulgação).

Meios de comunicação chegaram a noticiar que López foi visto saindo de um hotel com um jovem de 16 anos no dia em que foi visto pela última vez. Um vídeo, divulgado amplamente em todo o país, parecia confirmar o fato. Porém, uma mulher entrou com um processo contra o jornal que o divulgou, já que quem aparece nas imagens é, segunda ela, seu esposo e seu filho.

O cardeal Alberto Suárez Inda, arcebispo de Morelia, publicou uma carta hoje (26/09) em que diz que essa semana foi “tempo de angústia e de dor” para a sua arquidiocese, mas também de consolos, mencionando o quanto o impactou a proximidade dos outros bispos, incluindo o papa, e a oração fervorosa dos fiéis da paróquia em que o padre López trabalhava.

A Conferência do Episcopado Mexicano (CEM) publicou também hoje um comunicado em que pede o esclarecimento dos dois crimes da última semana. “Com a mesma força exigimos também que não se manche o nome de nenhum sacerdote, nem de nenhuma pessoa, sobretudo quando ainda não se concluíram as investigações”, afirma o texto, assinado pelo presidente e pelo secretário da CEM, o cardeal Francisco Robles Ortega, arcebispo de Guadalajara, e o bispo Alfonso Miranda Guardiola.

No domingo, durante a tradicional oração do Ângelus na Praça de S. Pedro, o papa Francisco disse que está rezando pelo povo mexicano, “para que cesse a violência que nesses dias atingiu também alguns sacerdotes”. O papa já havia enviado suas condolências pela morte de Jiménez e Suárez através de uma carta endereçada ao bispo de Papantla.

 

México é o país mais perigoso da América Latina para sacerdotes

O informe de 2015 sobre liberdade religiosa do Departamento de Estado dos Estados Unidos afirmava que os padres no México são “vítimas de tentativas de extorsão, ameaças de morte e intimidação por parte de grupos criminosos organizados”.

Segundo uma publicação do episcopado mexicano, o México é o país mais perigoso para ser sacerdote da América Latina. Já se contam mais de trinta padres assassinados nos últimos dez anos a ONG Christian Solidarity Worldwide. Além disso, no mesmo período, mais de três mil templos católicos sofreram algum tipo de profanação.

O México é o segundo país com maior número de católicos, atrás do Brasil, e os padres constantemente sofrem represálias após denunciarem a violência de narcotraficantes. Os três padres mortos nos últimos dias trabalhavam em Michoacán e Veracruz, dois dos estados mais violentos do continente americano.

Michoacán tem uma posição estratégica no tráfico de drogas e forte presença de cartéis de narcotraficantes. Mais perigoso ainda é Veracruz, que sofre uma onda de violência sem precedentes. Julho e agosto foram os meses com mais assassinatos das últimas duas décadas no estado.

Com a morte de Jiménez, Suárez e López, sobe para vinte o número de sacerdotes, religiosos e agentes de pastoral assassinados em 2016 no mundo todo. Entre eles, contam-se o padre Jacques Hamel, morto por terroristas em julho, na França, e o frei Antônio Moser, morto em março durante um assalto em Duque de Caxias (RJ).

 

Com informações de El País, O Globo, CNN, Rádio Vaticano e Sala de Imprensa da Conferencia del Episcopado Mexicano.

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