Mais uma pesquisa Datafolha foi publicada nesta segunda-feira (26/06) sobre as intenções de votos para as eleições presidenciais 2018, e Marina Silva permanece entre os três primeiros colocados. Caso a candidatura se confirme e a ex-senadora tente o pleito novamente, será a terceira vez que as opiniões de Marina serão objeto de análise e, como não há sinais de mudanças significativas na forma de pensar da ambientalista, as várias declarações dadas em campanhas anteriores continuam válidas – e relativamente polêmicas.
Embora sua trajetória política tenha se desenvolvida na esquerda brasileira, Marina é evangélica, pertence à igreja Assembleia de Deus e não esconde as posições moralmente conservadoras que tenta conciliar com a defesa de pautas sociais vistas como progressistas, como reforma agrária, desarmamento e políticas rigorosas de preservação do meio ambiente.
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Aborto, casamento entre homossexuais e laicidade do estado foram temas recorrentes nas entrevistas concedidas durante as campanhas de 2010 e 2014. Na primeira disputa, após ter deixado o Partido dos Trabalhadores (PT), ela concorreu ao cargo pelo Partido Verde (PV) e surpreendeu alcançando 19,3% dos votos válidos. Em 2014, Marina esteve prestes a entrar na disputa com seu novo partido, a Rede Sustentabilidade, mas não houve tempo o suficiente para alcançar o número de assinaturas válidas necessárias para o reconhecimento da sigla pela justiça eleitoral. A situação a fez aceitar o convite de Eduardo Campos (PSB-PE) para ser sua vice. Uma tragédia, contudo, obrigou-a a assumir a dianteira como candidata oficial do Partido Socialista Brasileiro. No início da campanha, Campos morreu num acidente aéreo. Ao fim do primeiro turno, Marina terminou com 21,3%.
Dessa vez, se Marina candidatar-se novamente, será a primeira vez que disputa a presidência da república pelo partido que ela mesma fundou.
Relembre o que a ambientalista já declarou sobre religião e temais morais:
Religião
Evangélica há 20 anos, Marina Silva esforça-se para se distanciar da imagem de candidata que fala apenas ao público evangélico. Em 2015, durante uma palestra em São Paulo afirmou: “Eu tenho minhas convicções religiosas, mas vivemos em um estado laico que garante os direitos dos que creem e dos que não creem”. A resposta foi dada quando, na ocasião, ela foi questionada sobre os direitos da comunidade LGBT.
Em 2014, em um encontro com lideranças evangélicas em São Paulo, Marina afirmou ainda que apesar de sua fé, ela não usa a religião para se eleger. “Há uma visão equivocada de que pelo fato de eu ser evangélica iria transformar os púlpitos das igrejas em palanques e os palanques em púlpitos”. No mesmo evento, ela disse que não faria uso da religião para questionar os adversários da época (Aécio Neves e Dilma Rousseff). Segundo ela, esse não seria um ato honesto: “Nenhum de vocês viram eu criar qualquer situação embaraçosa, usando a fé e a religião contra os meus adversários. Se eu quisesse, poderia fazer isso. Não seria honesto porque nem Dilma, nem Aécio tem obrigação de ter os meus mesmos princípios de fé. O mesmo Deus que me ama, também ama a Dilma, também ama o Aécio, ama todas as pessoas”.
Casamento Gay
Em 2014, quando assumiu o lugar de Eduardo Campos na disputa presidencial, um erro na divulgação do seu plano de governo causou alguns problemas à candidata, que precisou se explicar várias vezes. A parte que tratava sobre a garantia de direitos LGBT, em especial sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo, foi modificada e especulou-se que a alteração foi causada por influência do pastor Silas Malafaia.
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Em entrevista ao Jornal da Globo, Marina reiterou sua posição sobre o tema: “A minha posição é de respeito à liberdade individual das pessoas. Nós vivemos em um estado laico, as pessoas têm o direito de exercitar sua liberdade, independente da condição social, de raça ou de orientação sexual”, explicou. Um dos jornalistas então exemplifica o que poderia ser escrito como a opinião dela, em uma suposta manchete de jornal. “Se eu fizer uma manchete dizendo: a candidata Marina Silva é a favor do casamento gay. Eu estou errado?”, perguntou o jornalista William Waack. A resposta de Marina foi: “em termos da palavra casamento você está errado, porque o que nós defendemos é a união civil entre pessoas do mesmo sexo”.
Ainda em 2014, numa entrevista coletiva concedida em frente à sua casa, em São Paulo, ela reiterou que era a favor dos direitos civis de todas as pessoas e explicou a diferença entre casamento e união civil: “Eu sou a favor dos direitos civis de todas as pessoas e a união civil entre pessoas do mesmo sexo já está assegurada na Justiça por uma decisão do Supremo. Tem muita gente que faz a confusão entre união estável e união civil. A união civil assegura todos os direitos para os casais que têm a união no mesmo sexo. O casamento é estabelecido entre pessoas de sexo diferente. É isso que está assegurado na Constituição, na legislação brasileira, mas os direitos são iguais”, disse Marina na ocasião.
Na primeira vez em que se candidatou à presidência, em 2010, Marina fez uma declaração mais direta sobre sua rejeição ao casamento gay. Em entrevista ao portal UOL ela disse: “O casamento é uma instituição entre pessoas de sexos diferentes, uma instituição que foi pensada há milhares de anos para essa finalidade. Eu não tenho uma posição favorável”. Apesar disso, salientou que seu posicionamento não poderia ser “confundido com discriminar essas pessoas do ponto de vista de seus direitos”. Horas depois, em resposta à polêmica gerada na internet pelas declarações, ela esclareceu sua posição e afirmou ser a favor da união civil “de bens” entre homossexuais.
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Em uma conversa com cientistas e estudantes da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), também em 2010, ela afirmou que considera o casamento “um sacramento” e que aceitá-lo para os homossexuais iria contra suas convicções religiosas. Apesar disso, voltou a dizer que era a favor de reconhecer alguns benefícios de pessoas casadas para gays que vivem juntos: “Eu defendo os direitos civis da comunidade gay assim como eu tenho direito. Eu tenho direito de ter um plano de saúde com o meu companheiro. Na herança, às vezes as pessoas se dedicam a vida toda para conseguir um patrimônio e quando morre o companheiro lá vai a família tomando tudo. Isso é injusto”, declarou na época.
Aborto
Foram as várias as declarações de Marina Silva contra o aborto, e ela costuma esclarecer que pensa de tal forma por questões éticas e religiosas. No site da Rede Sustentabilidade está disponível uma série de vídeos retirados de um debate com estudantes nos quais são explicadas as convicções do partido e da própria ex-senadora, inclusive sobre o aborto. Num deles ela expressa sua opinião: “Na questão do aborto eu não me somo àqueles que ficam satanizando e aos que têm teses dizendo que é o caminho. Eu prefiro ir para o embate. Não defendo por questões filosóficas, éticas e religiosas. Eu não defendo, porque eu defendo a vida. E não acho que uma mulher que teve que lançar mão de uma situação extrema como essa deva ir para cadeia. Uma pessoa como essa precisa de acolhimento. Precisa de todo o respeito em relação a sua condição e, a maioria das pessoas que fazem essa escolha, elas pagam um preço emocional muito grande na maioria das vezes”, diz.
Na primeira vez que disputou a presidência (2010), Marina chegou a defender que o tema fosse objeto de um plebiscito. Durante uma entrevista, na época, ao Painel RBS, ela disse que os contrários ao procedimento não poderiam ser chamados de fundamentalistas e os favoráveis não deveriam ser “satanizados”. “Tem uma coisa que nos une, que é a falta de informação. Proponho o debate democrático de um tema que não é fácil de ser enfrentado, na sociedade brasileira inclusive”, pontuou.
Em setembro de 2014, na segunda campanha, em entrevista ao Jornal da Record, Marina se disse “pessoalmente” contra o aborto. Ela explicou que a “sociedade brasileira sabe que esse é um tema complexo, porque envolve questões morais, questões filosóficas, questões ligadas à espiritualidade”. E completou dizendo que o debate deveria acontecer e ser feito de forma respeitosa, em relação àqueles que teriam opinião contrária ao tema.
Desarmamento
A ex-senadora é a favor do desarmamento. Para ela, a ideia de que uma população armada estará mais segura é um erro. Em 2015, Marina gravou um vídeo em que defendia que o Estatuto do Desarmamento, em vigor no Brasil desde 2003, não deveria sofrer modificações pelo Congresso Nacional. Ela afirmou que, se ocorresse, seria um retrocesso e que o número de mortes no Brasil seria muito maior se não houvesse o estatuto. “A ideia de que uma pessoa armada está mais protegida, é um equívoco. A ideia de que ter uma arma em casa torna a família mais segura, é um erro grave”, enfatizou.
Maioridade penal
Marina é contrária a qualquer redução. “Não se resolve o problema da violência colocando nossos jovens na cadeia. Há um adoecimento social que não pode ser atribuído aos jovens e adolescentes”, disse ela em entrevista ao UOL, em 2015.
Na campanha de 2010 ela também fez críticas às tentativas de redução da maioridade, dizendo que essa não era uma medida efetiva contra a delinquência juvenil. “Eu não acho que essa seja a melhor forma de resolver os problemas que nós estamos enfrentando no meio juvenil. São situações dramáticas [os crimes cometidos por adolescentes], mas elas não serão resolvidas enchendo as nossas cadeias de jovens que não saem de lá restaurados. Pelo contrário, é lá que eles se degradam cada vez mais”, disse ela em uma sabatina com alunos de 14 a 17 anos de escolas particulares de todo país.
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