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Bastava perder uma partida de futebol com os colegas para que o pequeno João Pedro Aguiar, de cinco anos, visse seu mundo desabar. “Ele chorava muito, ficava bravo e não aceitava a derrota”, recorda o pai Aparício Neto. Segundo ele, o garoto nunca chegou a brigar com os colegas devido ao resultado negativo em um jogo, mas se sentia frustrado e reclamava demais.

Além disso, a situação se repetia quando o menino disputava partidas de videogame e era comum ver o pequeno descontar sua raiva nos equipamentos. “O João Pedro podia ter ganhado 10 vezes, mas, se perdesse uma, arremessava o controle ou o celular no chão e chorava”, conta o técnico em eletrotécnica de 35 anos.

Foto: Arquivo pessoal/Aparicio Ferreira João Pedro não aceitava perder uma partida de futebol e isso preocupava seus pais. Foto: Arquivo pessoal/Aparicio Ferreira

De acordo com a psicóloga Semíramis Maria Vedovatto, do Conselho Regional de Psicologia do Paraná, demonstrações de competitividade em atividades esportivas, na escola e até dentro de casa começam a partir dos dois ou três anos de idade – quando a criança passa a ter interação social com familiares e amigos – e precisam de muita atenção dos pais.

“Nessa fase, a criança deve ser estimulada a superar dificuldades, limitações e a aprender com os próprios erros, sabendo que não será boa em tudo”.

Por isso, pai e mãe devem apresentar a prática esportiva à criança como uma maneira de brincar na companhia de colegas, e não como algo que exija rendimento técnico ou vitórias sucessivas. “Na infância, o esporte deve ser encarado como um aprendizado prazeroso e auxiliar na construção de práticas colaborativas”, pontua a especialista, que orienta a mesma abordagem na vida escolar dos filhos e na realização de outras atividades do dia a dia. “Os pais precisam ensiná-los a buscar a excelência, mas devem mostrar que ninguém ganha em 100% das vezes”.

“Na infância, o esporte deve ser encarado como um aprendizado prazeroso e auxiliar na construção de práticas colaborativas”, pontua a especialista.

Sem essa orientação clara, a criança se cobrará demais, terá dificuldades para aceitar as derrotas e se chateará facilmente quando não alcançar o melhor resultado ou a nota máxima em uma prova, por exemplo. Aos poucos, isso também a tornará “uma criança ansiosa e esse sentimento pode trazer outros problemas como estresse, baixa autoestima, dificuldades para lidar com perdas e frustrações, e uma busca desenfreada pela perfeição”.

No caso de João Pedro, os pais perceberam que o garoto buscava o melhor resultado em tudo o que realizava e que essa cobrança excessiva dele mesmo estava lhe trazendo consequências negativas. “Então, começamos a conversar ainda mais a respeito da importância de saber perder e, aos poucos, fomos percebendo os resultados”, afirma Aparício que, há três anos, não vê mais o filho se desesperar após uma derrota no futebol. “Hoje ele está com oito anos e também está melhorando nos jogos de videogame e na escola, mas é necessário termos paciência”, afirma.

Foto: Arquivo pessoal/Aparicio Ferreira Aos poucos, o garoto começou a entender que não é possível ser o melhor em tudo. Foto: Arquivo pessoal/Aparicio Ferreira

Ajude seu filho a lidar com as derrotas

Além de conversar constantemente a respeito do assunto e verificar se há familiares ou amigos muito competitivos que possam estar influenciando a criança para isso, também é importante ajudá-la a lidar com cada derrota. Assim, ela perceberá que as falhas são comuns e podem se tornar grandes oportunidades de crescimento. Saiba como fazer isso com as dicas abaixo:

1. Dê valor ao seu filho: independentemente de como tenha sido o desempenho dele, fale a respeito das qualidades e pontos fortes que você enxerga nele.

2. Aplauda seu esforço: comente a respeito das horas de treino e estudo que ele usou durante o preparo e o elogie por ter dado seu melhor.

3. Reconheça o que ele está sentindo: dê espaço para que seu filho enfrente e admita emoções difíceis como vergonha, culpa ou constrangimento, e o ajude a refletir sobre o que está vivendo.

4. Conte alguma experiência de fracasso que você viveu: perceber que você também passou por uma experiência parecida, aprendeu com ela e a superou ajudará seu filho a “sobreviver”.

5. Faça perguntas: quando sentir que ele está confortável para falar sobre o assunto, convide-o para examinar o que deu errado. Perguntas como “por que você acha tão ruim ter sido deixado de fora?” ou “o que você pode fazer diferente da próxima vez?” podem ajudar.

6. Cite exemplos: conte histórias de pessoas importantes que ele conheça e que também passaram por fracassos.

7. Evite falsas bajulações: seja autêntico ao elogiar seu filho por quem ele é e por seus talentos verdadeiros.

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