Sheri Madigan* e Jennifer Jenkins**, The Conversation
Muitos irmãos quando se encontram já na fase adulta, brincam sobre qual filho era o mais amado pelos pais. Mas isso é realmente uma piada ou há uma pitada de verdade nesse assunto que ainda nos incomoda?
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Em um estudo, pesquisadores perguntaram a adultos se suas mães realmente brincavam de escolher um filho preferido quando eles eram pequenos. Cerca de 85% dos entrevistados disseram que percebiam esse comportamento quando todos moravam sob o mesmo teto.
Mas será que, uma vez que saímos do ninho, nosso aborrecimento em relação ao favoritismo dos irmãos desaparece? Não exatamente. O incômodo favoritismo quando percebido por uma das crianças parece ser duradoura e é provável que nos preocupemos muito na idade adulta com o motivo pelo qual um irmão em particular conseguia acordos melhores com os pais do que a gente.
O favoritismo dos irmãos é algo real ou somente uma sensação?
De fato, os pais se comportam de maneira diferente com os filhos e, é claro, os filhos têm limites diferentes para perceber essas diferenças. Os pesquisadores estudaram o favoritismo observando crianças enquanto elas interagiam com seus pais e pedindo a todos eles para que relatassem suas interações. Com que frequência os pais e o filho riem ou brincam juntos? Com que frequência eles brigam ou discutem?
Essas classificações são comparadas entre os diferentes irmãos para determinar se uma criança recebe mais atenção positiva ou negativa por parte dos pais, do que a outra. Um dos resultados tranquilizadores desses estudos é que, quando as diferenças na forma como os irmãos são tratados pelos pais são pequenas, isso tem pouca ou nenhuma consequência na história dela.
Por outro lado, quando as diferenças são muito grandes é que se percebe links entre a atenção recebida na infância e problemas comportamentais na vida adulta.
O estresse dos pais é relevante
Pesquisas sobre os diferentes tipos de relacionamento nos mostram que, em grande parte, a maneira como lidamos e nos damos bem com os outros tem relação com ajustes de personalidades. Achamos uma pessoa mais fácil ou mais interessante que outra. O mesmo resultado há na relação parental.
Embora a maioria dos pais ame e cuide dos filhos igualmente, eles, inevitavelmente, descobrirão que têm mais em sintonia com um filho do que com outro. Um filho é talvez um pouco mais social; outro tem um temperamento mais propício para se enfurecer com facilidade, e um terceiro aprende o que precisa com mais facilidade.
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Essas diferenças na maneira como os pais tratam os irmãos têm base nos genes das crianças. Os pais tratam gêmeos idênticos, que compartilham 100% de seu DNA, mais similarmente do que os gêmeos não idênticos, que compartilham cerca de 50% de seus genes.
Ainda, quanto mais as personalidades dos irmãos diferem, mais os pais os tratam de maneira diferente. Outro fator determinante para esse comportamento dos pais é, obviamente, a idade das uma criança. Os pais interagem e disciplinam seus filhos com base nas mudanças das capacidades de desenvolvimento, à medida que crescem.
Mas, embora a idade e a personalidade desempenhem um papel importante no motivo pelo qual uma criança recebe mais atenção dos pais do que outra, acima disso ainda estão os problemas de estresse dos pais. Quando os pais sofrem tensão financeira, problemas de saúde mental ou conflitos entre parceiros, o favoritismo entre irmãos fica mais acentuado.
Impactos no bem-estar físico e mental
Infelizmente, o favoritismo quando percebido por um dos filhos pode criar divisão entre os irmãos e está associado ao sentimento de eles se sentem menos próximos um do outro, tanto na infância quanto na idade adulta. Esse achado foi estabelecido tanto para a sensação de favoritismo quanto para o favoritismo observado.
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A sabedoria popular revela que a criança favorita é mais beneficiada em relação à outra. Embora possa ser algo bom quando o favoritismo é leve, a pesquisa sugere que nenhum dos irmãos se beneficia quando é esse comportamento é mais acentuado. Ou seja, quando o favoritismo é considerável, o bem-estar físico e mental de todas os filhos é prejudicado.
As razões para isso ainda não estão claras, mas é possível que as crianças sofram por se sentirem injustiçadas ou, talvez, mesmo quando sejam o alvo do favoritismo dos pais, preocupem-se demasiadamente em cair no “reino dos desfavorecidos”. Mas algo reconfortante para os pais são as descobertas de que o motivo por eles estarem tratando os filhos de maneira diferente têm relação com suas diferentes personalidades, idades ou necessidades. Essa explicação está associada a níveis mais baixos de sofrimento para as crianças e adultos do futuro.
5 dicas para uma parentalidade mais justa
1. Tenha consciência do que faz. O primeiro passo é estar ciente de que isso acontece e procurar ajuda ou apoio de parceiros, familiares, amigos ou profissionais de saúde – para tentar entender por que isso acontece. Lembre-se de que escolher um filho favorito é mais provável quando os níveis de estresse estão altos.
2. Ouça. Quando seu filho reclamar ou você vir brigas entre irmãos, nos quais eles mencionam que um está sendo mais beneficiado pelos pais do que o outro, tente não ignorar esse fato sugerido pela criança. Seja receptivo aos sentimentos dela e pense o que em seu comportamento como pai tem feito com que ela tenha essa sensação.
3. Dê uma explicação. Às vezes, as crianças precisam ser tratadas de maneira diferente, como quando uma está doente, ferida ou tem necessidades especiais. Quando isso acontecer, explique ao outro a situação para evitar qualquer mal-entendido.
4. Evite comparações. Embora possa ser uma tendência natural dizer coisas como “por que você não pode se parecer mais com sua irmã?”, isso estabelece uma comparação injusta. Tente se concentrar no que cada criança faz bem, sem colocá-las uma contra a outra.
5. Estabeleça um tempo individual com cada filho. Na medida do possível, tente encontrar 10 minutos por dia para passar sozinho com cada criança, para que elas tenham sua atenção exclusiva por um tempo. Aproveite para fazer com alguma atividade preferida dele.
* Professora Assistente, Presidente de Pesquisa do Canadá em Determinantes do Desenvolvimento Infantil, Owerko Centre, do Instituto de Pesquisa do Hospital Infantil de Alberta, Universidade de Calgary
** Presidente do Desenvolvimento e Educação da Primeira Infância e Diretor do Atkinson Centre, Universidade de Toronto
Tradução de Janaína Imthurm.
©2019 The Conversation. Publicado com permissão. Original em inglês.
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