Imagine a seguinte situação: uma jovem norte-americana, que nasceu sem as pernas e foi adotada, é aficionada por ginástica desde pequena. Até que, assistindo às Olimpíadas, fica fascinada com a performance de uma jovem ginasta de 14 anos, que leva o ouro. Ela vira então a sua maior fã e passa a se dedicar à ginástica pra valer. E o mais incrível: sete anos depois, a jovem adotada descobre que é nada menos do que irmã biológica da campeã olímpica. Pois bem: essa história é real e aconteceu com Jennifer Bricker e Dominique Moceanu.
Jennifer nasceu em 1987 e foi destinada para adoção assim que nasceu – provavelmente, por causa de sua deficiência. Ela tinha poucos meses quando foi adotada por Sharon e Gerald Bricker, que vivem no estado de Illinois. Jennifer não demorou para aprender a andar – e correr – usando as mãos e o quadril. Cresceu sem medo, subindo em árvores e pulando no trampolim com os três irmãos mais velhos.
“Eles me incentivavam a pular de todos os lugares, e as pessoas ficavam apavoradas”, conta ela à BBC. Ela chegou a receber próteses para as pernas, mas nunca as usava – se movimentava melhor sem elas. “Meus pais não me tratavam diferente e por isso eu não tinha ideia de que era diferente. Eu sabia que não tinha pernas, mas isso não me impedia de fazer o que queria.”
Ela sempre soube que era adotada. “Eu sabia que a minha família biológica era de origem romena e que possivelmente tinha sido entregue para adoção porque não tinha pernas”, diz Jennifer, que foi ensinada por seus pais adotivos a não julgar a sua família biológica. “Você não sabe o que se passava na vida deles. Eles eram de um país diferente. Tinham uma mentalidade diferente”, diziam para a menina.
Campeãs
Quando tinha 9 anos, os Estados Unidos sediaram os Jogos Olímpicos. E lá estava Dominique Moceanu, também de origem romena, competindo pelos Estados Unidos na ginástica. A atleta era apenas seis anos mais velha que Jennifer e, como lembra ela, “muito pequena” também. “Fui atraída por ela porque éramos parecidas e isso era muito importante para mim. Me via nela de tantas maneiras”, conta a garota.
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Quando a equipe de Dominique, que chegou a ser conhecida como The Magnificent Seven, “Os Sete Magníficos”, ganhou o ouro, Jennifer decidiu ser ginasta. Dedicando-se aos saltos acrobáticos, não queria que fizessem qualquer concessão por causa da sua deficiência. Jennifer se lembra da surpresa do público ao vê-la: “Essa garota não tem pernas e está competindo? As pessoas aplaudem e torcem porque eu deixei claro que nenhuma exceção foi feita para mim – em nada”, conta.
Aos 10 anos, ela disputou os Jogos Olímpicos da Juventude. Aos 11, era campeã de ginástica tumbling – que consiste em dar saltos no decorrer de uma pista – pelo estado de Illinois. Ela continuou acompanhando a trajetória de Dominique – que agora estava nos noticiários por outra razão: em 1998, ela processou os próprios pais por gastar mal o dinheiro, um milhão de dólares, que ela havia ganho pela vitória em Atlanta. Dominique ganhou a disputa e conseguiu assumir o controle das próprias finanças.
Busca
Aos 16 anos – em 2003 – Jennifer perguntou à mãe adotiva se havia algo que ela não tinha lhe contado sobre a sua família biológica. A mãe disse que sim, pediu que Jennifer se sentasse e revelou: “O sobrenome da sua família biológica era Moceanu”. Os pais adotivos da garota sabiam que ela era irmã de Dominique desde os Jogos de Atlanta. Quando as câmeras de TV mostravam os pais de Dominique – Camelia e Dumitru – na plateia, Sharon e Gerald reconheceram os nomes dos pais biológicos de Jennifer.
A jovem decidiu entrar em contato com a irmã e inspiradora. “Mas eu não podia simplesmente ligar e dizer: ‘oi, sou sua irmã’. Eu não queria que ela me achasse louca”, conta. Ela então pediu a um tio, que é detetive particular, para entrar em contato com seus pais biológicos. Camelia e Dumitru não negaram que tivessem dado a filha para adoção, mas nunca mais atenderam os telefonemas.
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Foi só quatro anos depois, em 2007, que Jennifer escreveu uma carta para Dominique contando a sua história e sobre como a sua irmã era a sua inspiração na ginástica. “Quase não pude acreditar. Você foi meu ídolo a vida inteira e, de repente, descobri que você era minha irmã!”, escreveu na carta. Ela mandou junto cópias de todos os documentos que tinha e muitas fotos, todas da cintura para cima. “Instintivamente decidi não contar que não tinha pernas porque achei que seria um pouco demais”, explica Jennifer.
Na época, Dominique já tinha 26 anos e não competia mais profissionalmente. Ela já estava casada e grávida do primeiro filho. Foi no carro mesmo que ela abriu o envelope enviado por Jennifer, depois de pegá-lo no correio. “Aquela carta foi o maior choque da minha vida, eu nunca vou esquecer”, diz Dominique. Ainda no carro, telefonou para a mãe e a acordou com a pergunta: “Você deu uma filha para adoção em 1987”? A mãe caiu em prantos, disse “sim” e mais nada.
Reencontro
“Partiu meu coração porque ela havia guardado aquele segredo por tantos anos e nunca pudera lidar com ele”, continua Dominique. As semanas seguintes foram uma montanha-russa de emoções. Dominique escreveu para Jennifer pedindo um tempo para processar a novidade e explicando que estava prestes a ter um bebê.
Dominique descobriu que havia sido do seu pai a decisão de dar Jennifer ainda no hospital. Ele temia não ter dinheiro para pagar o tratamento médico. A mãe não foi consultada e nunca teve coragem de contar tudo às outras filhas.
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Depois que a filha de Dominique nasceu, ela se sentiu pronta para telefonar para a irmã pela primeira vez, em janeiro de 2008. “Ela tinha me dito que era minha fã, que eu a fizera começar na ginástica e achei aquilo lindo. Mas nunca imaginei que ela fazia tudo aquilo sem ter pernas”, conta Dominique. Quatro meses depois, aconteceu o primeiro encontro entre as irmãs: Jennifer, Dominique e a caçula Christina.
“Foi surreal, como um sonho”, diz Jennifer. “Mas por outro lado foi muito natural. O nosso DNA estava muito claro. Ao ver a minha irmã mais nova, parecia que eu estava diante de um espelho.”
Diferenças
As irmãs se encantaram com tudo o que tinham em comum – o jeito de rir e até certos gestos –, mas cada uma tinha uma história bem distinta. “Elas não tiveram o amor e o apoio que eu tive. Passaram por momentos tumultuados, de abusos e segredos. Não tiveram uma infância fácil”, diz Jennifer.
Camelia e Dumitru também tinham sido ginastas e migraram para os Estados Unidos em 1981, fugindo do regime comunista de Nicolai Ceausescu na Romênia. Eles sonhavam que a filha desses fosse uma exímia ginástica, comparável a Nadia Comaneci, o fenômeno da ginástica romena que encantou o mundo nas Olimpíadas de 1976, aos 14 anos.
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Dumitru adorava contar a história de que, quando Dominique tinha apenas seis meses, o casal a fez segurar no varal de roupas para testar sua força. A pequena ficou segurando até a corda arrebentar. “Para eles, aquele era o sinal de que eu seria uma ótima ginasta”, diz Dominique, que recorda que era constantemente humilhada e castigada fisicamente pelos pais por qualquer falha nas suas apresentações ou qualquer aumento de peso.
“Acreditava-se que esses eram os métodos para fazer você vencer”, explica. “Mas são coisas que provocam estragos na autoestima quando você é uma pré-adolescente.” Dumitru morreu antes que Jennifer pudesse conhecê-lo, mas em 2010 ela encontrou Camelia, sua mãe biológica, pela primeira vez.
“Minha mãe biológica foi vítima de um casamento abusivo. Ela não teve uma vida fácil – e não estou procurando uma desculpa, simplesmente é a verdade”, diz a jovem. As duas se abraçaram e Jennifer mostrou os vídeos das suas apresentações, inclusive da que fizera em um show da cantora Britney Spears. “Ela estava maravilhada. Sabia que nunca poderia ter me dado uma vida assim”, diz Jennifer.
Com informações da BBC.
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