Tristeza, melancolia, apatia. Sensações que pouco combinam com a maternidade certo? Errado! Muito mais comum do que se imagina, isso se chama baby blues, e é causado pela forte oscilação hormonal que afeta o corpo da mulher assim que o bebê nasce. Pouco discutido nos cursos de pais, o baby blues atinge de 50% a 80% das mulheres e se apresenta logo após o nascimento do bebê (entre o 3.° e 5.° dia após o parto) desaparecendo em poucos dias e de forma espontânea.
Conversamos com a psicóloga e coach Aline Gomes, que explica um pouco mais sobre esse fenômeno.
Quais os sintomas do baby blues na maioria das mulheres?
Muitas mães relatam sentir melancolia, choro frequente e apatia e nem desconfiam estar em uma depressão leve. Ou até desconfiam que seja um tipo de depressão, mas, por vergonha, não compartilham com o parceiro ou familiares – afinal, a sociedade prega que ela deveria estar na melhor fase da vida, não é mesmo? Outros sintomas são: irritabilidade, distúrbios alimentares e de sono, desinteresse sexual, isolamento social, culpa e baixa autoestima.
Como a mulher deve lidar com esse sentimento?
Deve olhar para si mesma com muito amor. Esse transtorno pode querer te sinalizar ou ensinar algo muito maior. Não sinta culpa ou vergonha. A sociedade diz que você deveria estar como em um comercial de margarina, no qual toda a família é feliz com a chegada do bebê. Mas ninguém vive em comerciais de margarina! Você é uma mãe real!
Como a família pode apoiá-la?
O melhor apoio é não julgar e respeitar o sentimento e o tempo da mãe. A fase de negação do transtorno é comum e faz parte, por isso a importância de respeitar o tempo da mulher. Já o julgamento tende a fazer com que a mãe negue cada vez mais o que está acontecendo e até evite contato com esses familiares, inclusive a mãe e o parceiro.
Qual o limite entre a tristeza passageira e a depressão pós parto?
É comum a mulher chorar, apesar da alegria da chegada do novo filho. Mudança na rotina, no corpo, horas sem dormir, refeições corridas (e frias!). Tudo isso, repentinamente, abala a mulher, e chorar pelo caos em que se encontra a vida é comum. A diferença deste cenário para uma – que seja leve – depressão pós-parto é quando a melancolia se faz tão presente ou maior do que a alegria. A irritabilidade e a apatia se sobrepõem ao bom humor.
Como a mulher e a família podem desconfiar que a situação fugiu do controle?
Geralmente quando a mulher começa a preterir o bebê e a se preterir também. Prefere se isolar a ter que trocar a fralda de um bebê que chora; não sente vontade de estar com o filho; não cuida de si própria (higiene pessoal, alimentação em excesso ou em falta etc.).
Você acredita que esse assunto é pouco discutido (inclusive em cursos de pais) porque há uma visão e cobrança erradas sobre a maternidade ser perfeita?
Com certeza! Há uma romantização exagerada sobre a maternidade. Não que não haja a versão linda, maravilhosa e desejada! Sim, existe, mas ela não é a única. Há também a versão real da maternidade; a versão dos bastidores que é onde faz acontecer toda a magia da fotografia da família feliz.
Como profissional e auxiliadora de mães, o que você poderia dizer às mães que estão passando por isso?
Procure ajuda! Se você não se sente confortável em compartilhar os seus sentimentos com seu parceiro ou com a família, pesquisa na internet e perceberá a quantidade de mulheres que passam pelo mesmo transtorno que você. Pode ser que a partir daí você perceba que é bem mais comum do que imaginamos e se sinta fortalecida para pedir ajuda da família e de um profissional (psiquiatra e/ou psicólogo).