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O ato de brincar é natural a toda criança e elas o fazem nas mais diferentes circunstâncias. Mesmo assim, pesquisadores da educação estão preocupados com os novos hábitos da era digital que estariam reduzindo o tempo que os pequenos dedicam a brincadeiras tradicionais e mais ativas. Vídeos e jogos em tablets ou smartphones têm garantido o sossego de muitos pais, mas limitam o desenvolvimento da imaginação dos filhos.

Nesta entrevista, o educador Nélio Sprea, diretor da Parabolé Educação e Cultura, fala sobre esse e outros aspectos da característica essencial da infância: brincar.

 

Por que é importante falar sobre o brincar? Toda criança já não brinca espontaneamente? Como o brincar pode estar ameaçado?

O brincar nunca foi tão discutido como tem sido atualmente. Isso não ocorre à toa, é um sintoma. Pais da nossa geração têm comparado a rotina que tinham quando eram crianças com aquela que seus filhos estão tendo, e isso os têm preocupado. Sabemos que crianças dão um jeito de brincar mesmo quando estão numa aula de matemática ou de balé e até em contextos extremos como no meio de guerras. Mesmo assim, o tempo que elas têm se entretido com atividades sistematizadas cresceu muito, enquanto o tempo destinado a brincar livremente nunca foi tão pequeno.

Nelio Sprea (foto: divulgação) Nelio Sprea (foto: divulgação)

O avanço tecnológico tem a ver com essa mudança?

Sim. É claro que há benefícios no contato com aparelhos tecnológicos desde cedo. Os games também têm uma função social. É uma preparação para a vida que terão pela frente. O grande problema é o excesso de horas nisso. Muitos pais têm consciência de que isso é um mal, mas têm dificuldade em sair da cilada da rotina corrida, que envolve trabalhar o dia inteiro, chegar cansado e acabar incentivando o filho a se ocupar com games e vídeos em troca de sossego.

Tem alguma dica para que os pais não caiam nesse ciclo?

O tempo que os pais têm com seus filhos pode ser curto, mas é preciso embutir valor nesse tempo. É a única saída. Pode ser simplesmente atravessar um bosque para tomar um sorvete, Um programa simples desses pode ser muito mais proveitoso. Durante a caminhada pais e filhos podem conversar sobre aquilo que veem e brincar com qualquer coisa que encontrem. Há cinquenta anos qualquer criança podia se divertir muito com gravetos e folhas de árvores, agora nós adultos acabamos alimentando a percepção de que é preciso dispor de brinquedos prontos para se brincar, o que não é verdade.

De que forma o brincar interfere no desenvolvimento infantil?

Brincando a criança acessa o mundo. Brincar de ser mamãe ou papai, por exemplo, cuidando horas a fio de sua boneca ou boneco, permite à criança apreender as regras dos comportamentos materno ou paterno. Essas regras sociais, com as quais ela própria interage em seu cotidiano, migram para a brincadeira e são, de algum modo, redistribuídas pela criança de acordo com suas necessidades. Na hora de montar a brincadeira a criança precisa pensar nas escolhas que fará. Embora a cena criada não seja realidade em si, os sentimentos vividos por ela são reais.

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