Steven Petrow, especial para o The Washington Post
Você pode se tornar uma pessoa mais gentil. Mesmo nesta época de irritação e estresse. Sério, de verdade. Muitas organizações têm isso por objetivo, como a Bridge the Divide, que facilita conversas “respeitosas face a face” entre jovens, e uma das minhas favoritas, a Better Angels, um grupo sem fins lucrativos que almeja derrubar os muros “entre as pessoas de todos os posicionamentos políticos e ideologias”.
Entre os guerreiros da civilidade – da gentileza – está Jamil Zaki, de 39 anos, um professor de Psicologia da Universidade de Stanford que centra o seu trabalho em nos ajudar a sermos o melhor de nós mesmos. Nos últimos três anos, ele tem desenvolvido as ferramentas para impulsionar o que ele chama de uma “revolução da gentileza”. Eu sei que se trata de um paradoxo – revoluções costumam estar associadas à derrubada de déspotas e não são, geralmente, gentis. Mas esta insurreição é de um tipo diferente e começa com uma premissa surpreendente: a empatia não é imutável – pode ser cultivada ou reprimida.
No musical South Pacific, a letra de uma canção diz: “You’ve got to be taught to hate and fear – ‘Você precisa aprender a odiar e a temer'”. Bem, nessa mesma pegada, a pesquisa de Zaki mostra que você pode cultivar a bondade e a empatia. Ou que podemos aprender a amar e a se importar.
Boa parte do trabalho de Zaki acontece no campus de Stanford, onde ele leciona uma disciplina chamada “Tornar-se mais gentil”. As aulas pretendem responder à crise da empatia e ajudar as pessoas a combater a crescente tendência de polarização e desconexão. Todos nós já vimos as evidências desse fenômeno através das divisões políticas, e em meio a todas as faixas etárias, mas Zaki o percebeu especialmente digno de nota entre os universitários.
O professor escreveu um novo livro intitulado: The War for Kindness: Building Empathy in a Fractured World (“A guerra pela gentileza: construindo empatia em um mundo fragmentado”, em tradução livre). “Nos três anos que passei escrevendo esse livro, descobri cada vez mais evidências de que a empatia é de fato uma habilidade que podemos desenvolver e que fazer isso é um projeto crucial para nós, tanto enquanto indivíduos como enquanto cultura”, diz Zaki. “Quis colocar os princípios do livro em prática”.
Francamente, sempre achei que a empatia era automática, então fui cético diante da proposta de Zaki. Para citar Lady Gaga, you’re born that way – “você nasceu desse jeito” – ou não. O professor diz que isso é só parcialmente verdade. “Certamente existe um componente genético relacionado à empatia e à bondade”, afirma. “Quando ouvimos que algo é genético, imediatamente pensamos que se trata de algo 100% pré-determinado e que não há nada que possamos fazer para mudar alguma coisa”.
“A empatia é de fato uma habilidade que podemos desenvolver e fazer isso é um projeto crucial para nós, tanto enquanto indivíduos como enquanto cultura”
Mas a sua pesquisa mostrou que “há muitas evidências de que as nossas experiências, escolhas, hábitos e ações desempenham um papel muito importante em predizer quão empáticos nos tornamos”. Então, podemos reprogramar nossos cérebros para nos tornarmos mais empáticos. No cenário fragmentado de hoje, achei essa ideia realmente promissora. Uma das formas de medir a empatia é o Índice de Reatividade Interpessoal – o “questionário da empatia” –, que eu preenchi e enviei a Zaki.
Eu tirei a pontuação máxima em “preocupação empática”, que Zaki disse que está “mais associada à bondade em relação aos outros e ao bem-estar em relação consigo mesmo”. Mas fui muito pior nas outras duas métricas – minha habilidade em ver as coisas através dos olhos de outra pessoa e em me compadecer pelo sofrimento do outro. Isso foi desalentador.
Zaki diz que quanto mais alguém pratica a gentileza com os outros, mais propenso está a construir uma empatia de longo prazo. Mas como alguém pratica a gentileza? Zaki propõe cinco “desafios da gentileza”, que eu encarei. “Fiéis à sua designação, esses exercícios visam a nos tirar de nossa zona de conforto: primeiro reconhecendo e depois superando os nossos instintos de ser empáticos apenas com amigos, parentes e pessoas que pensam parecido conosco”, diz o psicólogo.
Natalie Stiner foi uma das alunas de Stanford que participaram das aulas de Zaki. Ela e seus 15 colegas leram calhamaços sobre o que significa ser bom, o que é empatia e como ela funciona. Mas, para Natalie, a melhor parte das aulas eram os desafios da gentileza. O primeiro deles foi o seu favorito, porque exigiu o exame de uma falha pessoal. Ela optou por trabalhar o seu relacionamento com a irmã mais velha, Sarah, depois de gritar com ela sem razão. “Foi uma falha minha”, disse. “Não fui bondosa nesse momento”.
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Esse pequeno ato de autorreflexão se tornou o seu foco durante o desafio, que levou uma semana. De repente, Natalie teve um momento de “eureca”: “Eu era mais bondosa com estranhos do que com meus amigos e parentes”. Consciente disso, ela “tentou reconhecer os momentos em que eles foram bons comigo, em que fizeram coisas para mim que não apreciei o suficiente”.
“As melhoras que fiz nas minhas interações foram enormes”, disse ela. “Acho que a empatia é algo que definitivamente pode ser trabalhado e melhorado, em qualquer momento da vida, mesmo na idade adulta e depois”. Esse é o ponto de Zaki: “Podemos aumentar a nossa empatia se quisermos. Nossas emoções não são impulsos animais”.
Julio Ballista foi outro estudante que viu a relevância do curso para os tempos desafiadores que vivemos. “Sinto que há muita inimizade entre os diferentes partidos, entre diferentes pessoas”, disse. “Se eu posso encontrar maneiras de me tornar mais bondoso, então posso oferecer isso a mais algumas pessoas que talvez estejam precisando”.
Essa noção é o que Zaki chama de contágio. É uma parte central de sua compreensão da bondade e da empatia. “A bondade de uma pessoa pode ser um gatilho para que outras espalhem a positividade de outras maneiras”, explica. “Pesquisas apontam que pessoas empáticas se tornam mais felizes e têm maiores chances de sucesso profissional”.
“A bondade de uma pessoa pode ser um gatilho para que outras espalhem a positividade de outras maneiras”
Acho que o desafio mais difícil entre os propostos por Zaki é aprender a “discordar melhor”. Como o professor explica, é crucial “mover-se além da primeira avaliação do que alguém acredita e do porquê de detestarmos a visão dela e passar a uma exploração mais profunda dessa pessoa enquanto ser humano”. Nesse desafio, ele pede aos alunos que encontrem alguém de quem discordem e “deixem claras essas divergências, mas, em vez de debater o assunto ou cutucar um ao outro, tentem cultivar a curiosidade sobre como chegaram a ter essa opinião pela primeira vez – e peçam para essa pessoa fazer o mesmo”.
Eu fiz isso recentemente com uma pessoa que conheci e cujas visões políticas eram diferentes da minha em 180 graus. No processo, aprendi muito sobre o que havia por trás daquelas opiniões e sobre o seu sentimento de privação e desespero. Sinceramente, foi impossível que eu não me sentisse empático, mesmo que não compartilhássemos nenhuma opinião política.
Zaki diz que espera que as pessoas comecem a praticar “hábitos empáticos”, incluindo entrar em contato com pessoas que são diferentes de si mesmas. “Quero dizer: fazer contato individualizado, pessoa a pessoa, com um grupo diferente daquele em que você circula”, enfatizou. Em um mundo envolvido em disputas e raiva, e com muitas pessoas prontas para se encontrar nas festas de fim de ano, não há tempo melhor do que agora para ouvir os conselhos de Zaki.
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