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Emanuelle, Rafaela e Cibele tinham em comum a formação acadêmica, a experiência profissional e uma carreira em construção, cada qual em sua área de atuação. Mas ao se tornarem mães, as três tomaram uma decisão que, muitas vezes, é vista com desdém: fazer uma pausa em suas carreiras para se dedicar aos cuidados com a família. Ao encarar a rotina doméstica, elas ganharam uma oportunidade única: acompanhar de perto o desenvolvimento dos seus filhos.

De volta pra casa

Emanuelle Lino Vieira Rego Gaíva, de 30 anos, é formada em Administração, pós-graduada em Gestão de Pessoas nas Organizações e trabalhou pouco mais de 10 anos na área de Recursos Humanos e Desenvolvimento de Pessoas. Mãe de Maria Gabriela, de 3 anos, Isabela, de 1, e de trigêmeos que moram em seu coração (ela sofreu um aborto quando estava com sete semanas em agosto deste ano), ela largou a carreira profissional no seu auge.

Ela trabalhava como consultora regional de RH em uma multinacional e era responsável pela gestão de pessoas de oito mercados atacadistas, cada um com uma média de 300 funcionários, nos estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Os resultados e indicadores eram reportados para a matriz, localizada em São Paulo.

O que faz a decisão de deixar o mercado de trabalho para se dedicar à maternidade ser tão delicada

Feliz com sua vida profissional, a consultora gostava da empresa, do que fazia e a carreira andava de acordo com o que havia planejado quando era mais nova. “A minha vida era ponte aérea, reuniões, indicadores, treinamentos, grandes desafios e possibilidades de crescimento dentro da empresa. O salário e o pacote de benefícios eram excelentes. Por isso, optar em abrir mão daquilo que eu havia lutado para conquistar foi complicado. Parar de trabalhar com toda a certeza foi a decisão mais difícil que já tomei e, ao mesmo tempo, a mais certa”, conta.

Convencida de que o ritmo de seu trabalho, marcado por viagens constantes, era incompatível com a rotina de mãe e entendendo que deveria dar prioridade à maternidade, ela já sabia ao engravidar que não poderia mais permanecer da mesma forma. “Se eu perder dois anos da vida da minha filha, eles não voltam mais. Na empresa, o meu CPF é só mais um no meio da folha de pagamento e em casa eu tenho a graça de ser mãe”, reflete.

Além do apego à carreira, a parte financeira foi um dos obstáculos para concretizar a decisão, já que a renda de Emanuelle representava 50% dos ganhos da família. Para que ela parasse de trabalhar, o casal aproveitou o dinheiro da rescisão para se reorganizar financeiramente, cortou despesas e vendeu um carro e a casa própria para fazer investimentos financeiros.

Meio período, mal pago e sem perspectivas? É preciso repensar o mercado de trabalho após a maternidade

Com apoio total do marido – e sendo chamada de louca por outras pessoas –, agora ela já está há três anos e meio fora do mercado de trabalho e não se arrepende da escolha. “Sabe quem viu o primeiro sorriso da minha filha, ouviu as primeiras palavras e acompanhou seus primeiros passos? Eu. Nos dias de febre, eu estou cuidando dela e sou a primeira a perceber que algo não está bem”, conta. Atualmente, Emanuelle compartilha a rotina em seu perfil no Instagram, abriu uma loja virtual de bijuterias e ajuda outras mulheres a ter uma renda extra para ajudar a família.

É sempre possível se reinventar

O nascimento do primogênito mudou o destino de Rafaela Campos, de 36 anos, formada em Contabilidade, pós-graduada em Controladoria e mãe de Álvaro, de 5 anos, Maria, de 3, e Helena, de 1. Quando Álvaro completou um ano de idade, surgiu a oportunidade de trabalhar como coordenadora de RH. Mas o sofrimento do filho para se adaptar na escola em período integral a fez repensar a carreira.

Rafaela queria estar bem para o marido, para cuidar dos filhos e da casa. Para ela, ninguém poderia substituir seu papel como mãe, nem a escola mais cara, a babá mais carinhosa ou a avó mais dedicada. Mesmo com essa convicção, a vergonha de dizer que se tornaria dona de casa depois de se formar e estar crescendo profissionalmente dificultou a decisão de deixar o trabalho.

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Apoiada pelo marido, ela teve coragem e fez sua escolha. “Eu não conseguia mais ser a profissional que sempre fui. Não conseguia me dedicar 100%. Decidi pedir demissão, tirar meus currículos de todos os cadastros, não aceitar mais ofertas de emprego e me dedicar só à minha família”, declara. Sem preparo financeiro, o casal aprendeu a empreender e mudou a forma de usar o dinheiro. Ela confessa que a conta ainda não fecha, mas segue lutando para que isso não seja um impedimento para estar com a família. “Mesmo nos momentos mais difíceis, soubemos nos reinventar”, ressalta.

Nos momentos de cansaço, ela lembra que, se estivesse trabalhando, teria que ficar mais de 10 horas longe dos filhos e não conseguiria vê-los crescer. Questionada sobre o que ganhou ao optar por ser mãe em tempo integral, ela responde: tudo. “Sou a pessoa mais realizada do mundo! Eles me ensinam dia a dia. Cada descoberta, cada vitória, ninguém me conta: eu faço parte. Muitas vezes peço a Deus que não me permita esquecer tudo isso, porque nem sempre temos câmera para registrar tudo. E mesmo que tivesse, tem coisas que só os olhos e o coração captam e isso não tem salário que pague”, salienta.

Rafaela ainda conta que amadureceu muito neste processo e acredita que, se não fosse pelos filhos, jamais veria a vida como vê hoje. Por isso, ela encoraja outras mulheres a não terem medo, pois não há recompensa maior. “Tudo, absolutamente tudo que você fizer para seus filhos ficará gravado pra sempre. Estamos trabalhando dentro de nossos lares construindo catedrais, como aquelas que levaram dezenas de décadas para ficarem prontas. Ninguém sabe quem construiu, mas transmitem por séculos sua missão. Somos construtoras silenciosas de grandes obras-primas”, finaliza a mãe, que compartilha seus conhecimentos maternos no blog Ser Mãe.

Nem menos e nem mais do que quem trabalha fora

O quarteto Maria Clara, de 9 anos, Helena, de 6, Ana Cecília, de 4, e Carolina, de 2, foi o que motivou a professora e coordenadora pedagógica Cibele Scandelari, de 39 anos, a mergulhar no mar profundo da maternidade. Formada em Comunicação Social e Pedagogia e pós-graduada em Desenvolvimento Pessoal e Familiar, ela se espelhou no exemplo da mãe, que esteve sempre presente na sua infância e fez a diferença na formação do seu caráter. “Comecei a perceber que eu estava dando mais atenção pra fora da minha casa do que pra dentro, mesmo trabalhando na escola onde minhas filhas estavam. Eu acabava me afastando e queria estar presente”, diz.

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A decisão de deixar o trabalho foi tomada junto com o marido. Eles se deram conta da importância da presença de Cibele em casa para que pudessem exercer suas responsabilidades como pais da melhor maneira possível. O propósito seria propiciar uma infância proveitosa e que gerasse memórias afetivas nos filhos. Hoje ela conta sobre a vida em casa com os filhos em seu blog Família Barlavento e em seu perfil no Instagram.

Porém, como estava preparada psicologicamente para estar no mercado de trabalho e não em casa, Cibele teve que vencer o medo de ser considerada preguiçosa ou incapaz intelectualmente. “Percebi que estar com as minhas filhas exigiria muito da minha parte intelectual e de preguiça não tem nada. Isso é o que as pessoas veem. Eu tive que aprender a deixar de lado aquilo que os outros pensam para realmente fazer aquilo que eu achava que era importante”, enfatiza.

A questão financeira também foi um fator relevante. Todo o salário de Cibele era destinado ao pagamento da mensalidade da escola das filhas e por isso o casal decidiu fazer homeschooling. Ela conta que a rotina é cansativa e exigente, mas nunca se arrependeu da escolha e não pretende voltar ao mundo corporativo. “Eu ganhei a infância das minhas filhas, uma época que não vai mais voltar, e a oportunidade de ser uma mãe presente. Minha presença em casa fez muito a diferença”, assegura.

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A experiência ensinou Cibele a ter outro olhar em relação ao mercado de trabalho. Para ela, a mulher que está em casa não é menos nem mais do que quem está trabalhando. E para as que trabalham, não se pode exigir uma carga horária que impeça elas de serem mães. “A sociedade precisa de crianças que mais tarde vão ser adultos competentes, emocionalmente equilibrados, pessoas honestas e caridosas. Eu não acho que toda mulher tenha que ficar em casa, mas mesmo estando fora, a família tem que estar em primeiro plano”, defende.

Para as mães que estão pensando neste assunto, ela sugere refletir sobre o que poderá ser vivenciado com os filhos e lembra que a vida profissional sempre estará aberta para quem estiver disposto a se empenhar, independentemente da idade. Cibele aponta ainda que existem diversas alternativas para trabalhar em casa, sem perder a convivência familiar. “Quando a gente pensa no que realmente importa, naquilo que é para sempre, o que não vai mudar, vemos nossos filhos. E a gente começa a ter uma mudança, tanto se quiser ficar dentro de casa, quanto se for partir para o mercado de trabalho”, acrescenta.

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