Cuidar do dinheiro se aprende desde criança
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Saber usar bem o dinheiro é uma lição que deve ser aprendida desde cedo. Pais e escola podem ajudar a educar financeiramente as crianças e prepará-las para administrarem com competência as próprias finanças no futuro.

O processo de aprendizado deve começar assim que a criança consegue entender o que é o dinheiro – um papel que ela vê os pais trocarem por alguma coisa – e a pedir para que os pais comprem alguma coisa, o que normalmente acontece a partir dos 2 ou 3 anos de idade.

A educadora financeira e diretora executiva do programa The Money Camp™ de educação financeira no Brasil, Silvia Alambert, explica que nos primeiros anos as crianças aprendem por observação e por isso é bom que elas vejam os pais poupando e gastando de forma responsável.

“Os pais devem abrir um canal de comunicação sobre como administram as suas próprias finanças, explicar-lhes que o dinheiro é fruto de seus trabalhos e que é preciso planejar-se para alcançar seus objetivos.”

Mesmo que, ao crescer, os pequenos não sigam exatamente o exemplo dos pais, a cultura de como lidar com o dinheiro permanece. Por isso, de nada adianta querer que os filhos usem bem o dinheiro e dar mau exemplo, deixando de pagar contas, comprando coisas por consumismo, etc.

Uma das lições mais básicas da educação financeira é aprender a poupar e para isso os tradicionais cofrinhos – sejam em forma de porquinhos ou não – que servem para guardar as moedinhas economizadas pelas crianças podem ser ótimos incentivos. Silvia lembra que o princípio da educação financeira é justamente de que não importa a quantia de dinheiro que se ganhe, mas sim a quantia que se guarda e por isso ensinar a criança a ter sempre uma reserva de dinheiro para eventualidades é muito importante.

Já o educador financeiro Reinaldo Domingos, autor da série de livros O Menino do Dinheiro, acredita que antes de poder passar noções de educação financeira aos filhos, os pais também precisam se educar, através de livros, palestras, workshops e cursos.

Dizer não

Outra lição fundamental é estabelecer limites às crianças. Se os pais derem tudo o que os filhos pedirem, quando for necessário negar algo, independentemente do motivo, as crianças não saberão lidar de forma saudável com a ansiedade e a frustração.

Por isso, Silvia Alambert acredita que os pais precisam ser abertos e conversar de forma franca sobre os limites e objetivos financeiros da família, o que pode contribuir para que todos trabalhem como uma equipe para conquistar esses objetivos através de ações simples, como evitar o desperdício de recursos.

Os pais podem, por exemplo, explicar aos filhos que deixar a luz acesa sem necessidade gera custos para a família, assim como desperdiçar comida e tomar banhos muito demorados. Na hora das compras no supermercado, os pais podem ensinar a criança a escolher os produtos, prestando atenção às datas de validade, estado de frutas e verduras, e buscando as melhores condições de custo benefício.

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Assim como os adultos, as crianças também sonham em possuir algumas coisas em cada fase da vida. As famílias podem aproveitar esses sonhos para ensinar que é possível transformar esses desejos em realidade. “Os pais devem abrir um canal de comunicação sobre como administram as suas próprias finanças, explicar-lhes que o dinheiro é fruto de seus trabalhos e que é preciso planejar-se para alcançar seus objetivos”, diz Silvia.

Ela sugere que os pais ajudem o filho a criar uma lista de objetivos, por ordem de prioridade, e orientem o pequeno a pensar e planejar como cada objetivo pode ser alcançado. Depois, a criança deve fazer uma pesquisa de preços para verificar quanto será necessário economizar para comprar aquilo que quer. É importante, no entanto, evitar que esse processo de economia se torne muito penoso para a criança. “Não é preciso abrir mão de outros prazeres da vida. Tudo na vida é uma questão de equilíbrio”, lembra Silvia.

Durante todo o processo, os pais devem incentivar a criança a manter o foco e o entusiasmo em alcançar os objetivos, revendo periodicamente o que a criança está fazendo e ajudando-a a fazer ajustes no plano. “É importante que os pais motivem seus filhos a ir em busca de seus objetivos, sem desistir, simplesmente porque julgam que demorará demais.”

Hábito de dar mesada ajuda a desenvolver responsabilidade

Um ótimo meio de ensinar às crianças como administrar dinheiro é através da mesada, desde que o repasse não comprometa as finanças da família. Ter algum dinheiro para gastar como bem entender estimula a criança a ter responsabilidade com as próprias finanças. Mesmo assim, os pais não podem abrir mão de acompanhar as ações das crianças.

O ideal é começar com a mesada quando a criança dominar bem algumas noções de matemática, por volta 6 anos de idade, por exemplo. Inicialmente, o melhor é oferecer quantias semanalmente, pois será mais fácil para a criança administrar o dinheiro. Com o tempo, o repasse pode ser transformado em quinzenal (a partir dos 9 anos) e depois em mensal (depois dos 14 anos).

Em qualquer caso, os pais devem estabelecer uma data, o valor da mesada e cumprir com o que for acordado. Deixar de fazer o repasse do dinheiro ou atrasá-lo pode passar à criança a ideia errônea de que compromissos como pagamentos em dia não precisam ser levados a sério. Adiantamentos e repasses extras também devem ser evitados.

“Uma criança que só estuda para garantir a mesada no fim do mês poderá ter um rendimento muito baixo e, se, por algum motivo, a família deixar de ter condições de oferecer o dinheiro, isso afetará o desenvolvimento intelectual. Isso vale para outras obrigações também.”

Valores

Se os pais não sabem como definir o valor da mesada, Reinaldo Domingos orienta os pais a anotarem, sem que a criança perceba, todo o dinheiro dado para a criança durante o mês, incluindo lanche escolar, passeios, compra de jogos, enfim, todos os gastos da criança. A mesada deverá corresponder a 50% desse valor.

Na hora de orientar os pequenos, os pais devem lembrá-los de guardar parte do dinheiro recebido, independentemente do valor da mesada, para eventualidades. A criança também deve ser orientada a gastar bem o dinheiro, sem se deixar levar pelo mero consumismo.

Um erro muito comum, segundo Reinaldo, é vincular o recebimento da mesada à execução de tarefas ou desempenho escolar. “Uma criança que só estuda para garantir a mesada no fim do mês poderá ter um rendimento muito baixo e, se, por algum motivo, a família deixar de ter condições de oferecer o dinheiro, isso afetará o desenvolvimento intelectual. Isso vale para outras obrigações também”, diz Reinaldo.

Espírito empreendedor

Faz parte da educação financeira incentivar a criança ou adolescente a buscar a independência financeira. Isso não significa fazê-la trabalhar – no Brasil, apenas jovens a partir dos 16 anos podem trabalhar formalmente – mas estimular a criança a pensar no futuro, em possíveis profissões a seguir e formas alternativas para conseguir dinheiro, como vender roupas e objetos que não usa mais, fazer peças de artesanato, digitar trabalhos escolares, etc.

É importante que esses pequenos empreendimentos sejam acompanhados pelos pais e – desde que lícitos e condizentes com os valores da família – recebam apoio. Isso alimenta o espírito empreendedor e a criatividade da criança, trazendo aprendizado, mesmo que o negócio acabe fracassando.

Outra dica útil é mostrar aos pequenos alguns exemplos de crianças que apostaram numa ideia e conseguiram fazê-la prosperar, como o menino britânico Harli Jordean, que com 8 anos criou um site para vender bolinhas de gude, ou a americana Kylee Majkowski, que aos 7 anos fundou a Tomorrow’s Lemonade Stand para ajudar outras crianças a serem empreendedoras.

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