A leitura é um importante indicador do desempenho acadêmico futuro em todas as disciplinas e em todos os níveis de escolaridade. A Organização Mundial da Alfabetização observa que habilidades fracas de leitura estão ligadas a menor renda na idade adulta, aumento dos custos com assistência médica, diminuição da produtividade e aumento do envolvimento com o sistema de justiça criminal. É muito mais difícil resolver dificuldades de leitura em estudantes mais velhos do que nos pequenos – e isso sublinha a importância da intervenção precoce.
Em minha rotina como psicopedagoga, vejo na prática o que dizem as pesquisas: o desempenho escolar e a saúde mental tem uma relação de duas mãos. Alunos que não desenvolvem sólidas habilidades de leitura têm maior risco de desenvolver sintomas de ansiedade, depressão, problemas de comportamento e ideação suicida.
Estudos já mostraram que entre os meninos não só há uma relação entre dificuldades na leitura e depressão, mas que baixos níveis de habilidades de leitura podem mesmo predizer sintomas de depressão que aparecerão mais tarde. Alunos que reportaram níveis baixos de bem-estar também disseram ser leitores abaixo da média. E mesmo quando ler mal não leva a diagnósticos ligados à saúde mental, pode intensificar sentimentos como a vergonha e o fracasso e promover a exclusão do acesso ao conhecimento através de livros e textos.
A maior parte de nós evita tarefas em que não somos bons, especialmente se não encontramos apoio para melhorar. Mas exigimos das crianças que leiam em todas as áreas acadêmicas e também em outras esferas da vida. Não podemos esperar que elas leiam se não as ajudarmos a aprender a ler bem.
Intervenção precoce
Vinte anos atrás, um grupo de pesquisadores norte-americanos encarregados pelo Instituto Nacional de Saúde Infantil e Desenvolvimento Humano de revisar mais de 100 mil estudos sobre leitura resumiu décadas de pesquisas sobre como ensinar melhor as crianças a ler.
Pesquisas recentes continuam apoiando suas descobertas de que os melhores resultados para ensinar as crianças a ler são encontrados por meio de instruções e intervenções diretas e sistêmicas, com foco em cinco áreas:
- Consciência fonêmica (saber que as palavras são compostas por sons)
- Decodificação (conectar letras a sons para emitir palavras)
- Fluência (ler de forma rápida, precisa e expressiva)
- Vocabulário (saber o que muitas palavras significam)
- Compreensão (entender tanto informações diretas e simples quanto inferências menos diretas em um texto)
Infelizmente, os alunos nem sempre recebem essa instrução sistêmica. Por exemplo, a Comissão de Direitos Humanos de Ontário está atualmente investigando se os alunos que têm dificuldades de leitura sofrem violações dos direitos humanos quando as escolas não rastreiam as dificuldades e não fornecem intervenções precoces.
Uma pesquisa de 2019 realizada pela Associação Internacional de Alfabetização com 1.443 especialistas em alfabetização (incluindo professores) de 65 países mostrou que 60% deles não considera que os programas de treinamento de professores estejam “equipando os educadores com as habilidades necessárias para o ensino eficaz da leitura”.
Para ajudar o seu filho
Se seu filho está tendo alguns percalços para ler bem, aqui estão algumas dicas para ajudá-lo:
- Faça jogos de palavras: ensinar seu filho a rimar e a separar os sons das palavras desenvolve a consciência fonêmica, que é fundamental para o desenvolvimento de habilidades de decodificação.
- Leia para seu filho e com seu filho: isso ajuda as crianças a associar a leitura aos sentimentos positivos de passar o tempo com os adultos que cuidam dela.
- Use seu próprio tempo livre para ler: dê exemplo de que a leitura é agradável e vale a pena.
- Converse com seu filho: conversar com seu filho sobre o mundo ao seu redor, sobre ciência e sobre literatura o ajuda a desenvolver fortes habilidades de vocabulário.
Se as dificuldades de leitura persistirem
Às vezes, as crianças apresentam problemas para aprender a ler mesmo quando têm um bom suporte. Por exemplo, crianças que estudam em escolas bilíngues ou crianças que são escolarizadas em outro idioma que não o materno geralmente apresentam um atraso na habilidade de leitura que é considerado normal nesses casos. Além disso, um grande número de crianças com atrasos na fala também tem dificuldade em aprender a ler.
Se seu filho parece ter dificuldades para progredir no currículo escolar apropriado para a idade dele, converse sobre suas preocupações com o professor. Considere também inscrevê-lo em programas de reforço oferecidos por sua escola ou outras instituições, ou procure por aulas particulares. E não espere o seu filho ficar para trás para reivindicar o suporte da escola em que ele estuda. A intervenção precoce tem altas taxas de sucesso no desenvolvimento de habilidades de leitura, mas é muito mais difícil melhorá-las em alunos mais velhos.
*Psicopedagoga e professora da Universidade de Calgary, no Canadá.
©2020 The Conversation. Publicado com permissão. Original em inglês.