Ainda que os professores se esforcem para criar aulas online super criativas e pensem em maneiras diferentes de interagir com os alunos por meio do computador, a saudade do ambiente escolar e dos colegas têm deixado muitos alunos desanimados na hora de fazer atividades acadêmicas em casa. “Eles ficam com preguiça e, toda noite quando vamos rezar antes de dormir, pedem para o coronavírus ir embora porque querem voltar a frequentar a escola”, relata a fonoaudióloga Mayara Traci.
Mãe dos pequenos Miguel e Gabriel, de quatro e nove anos, ela percebeu durante o período de isolamento o quanto as crianças valorizam a companhia dos professores e amigos, e como isso os estimula no aprendizado. Segundo a psicopedagoga Luciana Brites – autora de diversos livros na área de educação e responsável pelo Instituto NeuroSaber –, isso acontece porque o ambiente escolar é mais que um espaço para a criança aprender Língua Portuguesa ou Matemática. “É ali que os pequenos têm suas relações de amizade e disputas, exercitando habilidades sociais importantes para seu desenvolvimento cognitivo e emocional”, explica.
Além disso, a rotina de preparo para ir ao colégio e o período do dia que passam no ambiente escolar ajudam a criança no entendimento de que aquelas horas estão separadas para o aprendizado, algo que não é possível na quarentena. “Aí os pequenos acabam ficando desmotivados e podem tentar atrair a atenção dos pais de forma inadequada”, afirma a especialista, ao citar brigas frequentes entre irmãos e a chance de os filhos “aprontarem” mais dentro de casa. “É uma tentativa ruim de conseguirem que o adulto olhe para eles”.
Para evitar isso, é necessário que pais e educadores mantenham o vínculo da criança com o ambiente estudantil, unindo alunos e professores em ações presenciais que atendam aos critérios de prevenção à Covid-19. “No nosso caso, por exemplo, a Escola Dunamys promoveu o Dia da Panqueca, em que passávamos por uma espécie de drive thru no estacionamento do colégio para receber a refeição especial”, conta a curitibana Karina, que se emocionou ao ver a alegria dos filhos quando chegou a vez deles. “Os meninos adoraram o lanche, mas a reação que tiveram ao ver os professores foi a melhor parte”.
Segundo a mãe dos pequenos Arthur e Guilherme, de seis e nove anos, cada carro foi recepcionado por todos os colaboradores da instituição, e isso fez com que os alunos se sentissem mais próximos da escola. “Percebo como eles estão tristes nesses dias, então ver os funcionários sorridentes e carinhosos foi uma ótima maneira de matarem a saudade”.
Carreata solidária
Além de as famílias irem de carro na instituição de ensino para receber um presente, é possível também incentivá-las a trazer algo para doação, envolvendo cada estudante em uma campanha social durante o passeio. “Foi o que fizemos na carreata organizada dia 23 de maio”, relata Esther Cristina Pereira. Diretora da Escola Atuação, de Curitiba, ela convidou pais e alunos para entregarem as doações de carro, em frente ao colégio.
Para isso, uma equipe do Programa do Voluntariado Paranaense (Provopar) recebia as sacolas pelo vidro dos veículos, ao mesmo tempo em que a criançada acenava e mandava beijos para os funcionários da escola enfileirados na calçada. “Arrecadamos uma tonelada e meia de alimentos, e nos emocionamos com a alegria dos estudantes ao verem seus professores ali pertinho”, comenta Esther. “Com certeza, foi o resgate do olho no olho”.
Ações em casa
Só que, infelizmente, não é possível realizar atividades assim todos os dias. Então, cabe aos pais manter os filhos acostumados com relacionamentos, mesmo sem poder sair de casa. “Aí vale fazer videochamadas com amigos, realizar jogos online sob a supervisão de um adulto ou ainda contar histórias”, sugere a psicopedagoga Luciana Brittes, que incentiva a participação dos filhos neste momento especial. “Não deixe que a criança fique quieta no momento da leitura. Então, à medida que você for lendo, converse com ela para saber o que está entendendo”, orienta.
Outra sugestão, de acordo com a especialista, é usar fantoches para brincar com os pequenos, dedicar tempo para o diálogo em família e incentivar os filhos de todas as idades a demonstrarem, de alguma forma, a saudade que estão sentindo. No caso da Escola Grace, por exemplo, esse carinho contido devido ao isolamento foi transformado em vídeos que emocionaram os educadores da instituição curitibana. “Eles não são apenas nossos professores, mas nossos amigos. Então, decidimos gravar mensagens de agradecimento para eles”, conta a estudante Sara Fogaça dos Santos, de 14 anos.
Diversos alunos como ela aderiram à ideia e, além de aliviarem o estresse ao relatar seus sentimentos, também transmitiram força àqueles que têm se dedicado tanto em prol da educação deles neste momento. “Nosso trabalho tem sido bem pesado e com um aumento significativo na carga horária”, afirmou o professor de Ciências Felipe Dobuchak de Oliveira. “Por isso, quando a gente tem um retorno assim dos alunos, com falas de reconhecimento, carinho e saudade, recebemos muita força para continuar”.