O pleno desenvolvimento de uma criança decorre de uma série de fatores. Um deles é uma rotina adequada que envolva estudo, atividades de lazer, auxílio nas tarefas domésticas e, principalmente, um tempo de convivência com os pais.
O problema é que muitos pais se perdem um pouco na dose desse tempo. No anseio de tentar compensar o período em que ficam longe dos filhos – no caso dos pais que trabalham fora o dia todo, por exemplo – alguns pais se esforçam para passar uma maior quantidade de tempo com as crianças, mas nem sempre se atentam à qualidade desse tempo.
Quando o tempo em família é vivido pelos pais com desatenção e falta de exclusividade, os filhos crescem mais inseguros e têm dificuldade de amadurecer. Em muitos lares, essa espécie de compensação que, de certa forma, alivia a consciência de pais ausentes, também vem disfarçada de presentes, excesso de zelo e permissividade, fazendo com que essas crianças se tornem também excessivamente mimadas.
Definitivamente, não é disso que as crianças precisam. Lucinéia Percigili, mãe, professora e diretora de uma escola da rede municipal em Curitiba, atua no ensino público há 26 anos e, por conhecer a realidade de muitas crianças, afirma o quanto é essencial que o momento em que toda a família está reunida em casa seja bem aproveitado, mesmo sendo curto.
Aproximação através da rotina
Segundo a diretora, isso não significa que esse momento será apenas de lazer. Ela sugere que as tarefas domésticas, por exemplo, sejam realizadas com a colaboração de todos os integrantes da família. A preparação do jantar, a arrumação da mesa, a limpeza do espaço, tudo isso pode ser vivido como uma oportunidade de aproximação entre os filhos e os pais.
Após a refeição, os pais podem solicitar às crianças os materiais escolares e a agenda para tomarem conhecimento de como foi o dia na escola. “Esse é um bom momento para o diálogo e para os pais também conversarem sobre o seu dia de trabalho”, explica Lucinéia. Atividades de lazer, como um jogo, a leitura de um livro, assistir a uma série juntos ou mesmo uma brincadeira no quintal podem finalizar esse curto período de tempo dos pais com seus filhos.
“Muitos pais podem dizer: ‘Ah! Mas é tão pouco tempo!’ Mas, se usado com produtividade e estabelecendo regras e limites de convivência será o tempo suficiente e necessário para que a criança perceba que ela é importante, que pessoas como seu pai e sua mãe valorizam sua ajuda, sua presença e aquilo que elas produzem longe deles, na escola”, afirma a diretora. “São atitudes simples, no entanto, rotineiras que fortalecerão o vínculo entre pais e filhos”, completa.
Tecnologia como obstáculo
É preciso que os pais estejam atentos também aos fatores que atrapalham a convivência familiar. Nos últimos tempos, a tecnologia tem se tornado uma verdadeira vilã dessas relações. A criança aprende mais pelo que ela observa do que pelo que a mandam fazer. Se em casa, ela vê os próprios pais distanciados pelo uso excessivo da tecnologia, consequentemente, ela irá repetir esse padrão de comportamento.
“Esse tipo de pai negligencia seus filhos emocionalmente e o resultado no futuro é uma geração nada resiliente, sem tolerância alguma à frustração, ou seja, pessoas que não conseguirão colaborar para uma sociedade saudável”, conta Lucinéia.
“Melhor uma ou duas horas diárias com atividades compartilhadas, diálogo sobre o dia de cada um, uma atividade lúdica, como algum jogo, pintura, massinha, etc., cumprimento de tarefas escolares, do que quatro horas juntos no mesmo ambiente nos quais a criança é colocada diante de um aparelho eletrônico para jogar, assistir vídeos e não é envolvida em nenhuma situação que a fortaleça e a ensine o valor das ações de cada um naquele ambiente”, alerta a diretora.
O ideal é que cada família aprenda a organizar sua rotina diária pensando no desenvolvimento das crianças e principalmente no fortalecimento do vínculo familiar. Estabelecer e cumprir horários tais como hora de comer, de estudar, de tomar banho, de dormir e de levantar são imprescindíveis.
Mas, segundo Lucinéia, a dica principal para os pais é ser presente com verdade e intensidade. “Pais, seus filhos não querem os presentes mais caros, nem os melhores celulares, nem as viagens aos lugares mais incríveis. Esses desejos são uma tentativa de suprir um espaço que está vazio dentro delas e que elas, por sua pouca idade, não conseguem definir o que falta ali. Esse espaço vago no sentimento dela deve ser ocupado por você com a sua presença”, orienta.
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