Para que a criança desenvolva o autocontrole ela precisa de recursos emocionais e cognitivos que devem ser ensinados pelos pais
Para que a criança desenvolva o autocontrole ela precisa de recursos emocionais e cognitivos que devem ser ensinados pelos pais| Foto: Nagesh Badu/Unsplash

Você já deve ter visto um destes vídeos circulando nas redes sociais ou aplicativos de mensagem: o pai, ou a mãe, pega a guloseima que a criança mais gosta, coloca na frente dela e diz que ela só poderá comer quando ele autorizar. Nesse momento, o adulto sai do ambiente – avisa que já volta – e deixa o telefone gravando para ver a reação da criança. É o chamado “desafio do autocontrole”. Quem não come até o retorno do desafiante, costuma ganhar o doce e ainda um belo elogio por ter esperado.

Siga o Sempre Família no Instagram!

A brincadeira, na verdade, é parte de um experimento realizado, entre os anos de 1960 e 1970, nos Estados Unidos, o Teste do Marshmallow. O objetivo era saber se a paciência dos pequenos traria benefícios quando se tornassem adultos. Como resultados, os pesquisadores – que acompanharam 600 crianças – concluíram que aqueles que resistiram mais tempo sem comer o doce eram pessoas que depois tinham melhores salários, melhores habilidades emocionais e mais sucesso profissional.

“O autocontrole é um componente de inteligência emocional que faz com que a gente não seja vítima, ou um mero espectador, das próprias emoções. Ele permite que a gente saiba ouvir e acolher os nossos sentimentos, mas sem o agir por impulso”, define a psicóloga Sabrina Leva, especialista em Saúde Mental e terapeuta cognitivo-comportamental.

Segundo ela, é por meio do autocontrole que conseguimos dominar nossas ações diante de uma situação de estresse e transformar o que sentimos em algo útil. “Ou seja, saber refletir, pensar antes de falar, se acalmar antes de agir”, explica. E algumas técnicas podem ajudar a desenvolver essa virtude, como exercícios de respiração e de yoga, técnicas de meditação e a própria psicoterapia. “Quanto mais a gente aprende isso quando criança, mais fácil fica aprimorar na vida adulta”, avalia Sabrina.

Caminho das pedras

Pelo que afirma a especialista, o primeiro passo tem que ser o limite. “Dar limites para a criança vai fazer com que ela aprenda a lidar com a frustração, que nem sempre ela vai ter as coisas que quer na hora que quer e a lidar com as emoções [boas e ruins]”, diz Sabrina, ao reiterar que os limites precisam ser passados de forma saudável e reflexiva. “Essa reflexão vai fazer com que ela tenha o tempo que precisa para encontrar o equilíbrio emocional novamente”, argumenta.

Com relação à idade para começar a pôr em prática esses ensinamentos, a psicóloga defende que os pais comecem desde muito cedo, mas avisa que os resultados levam um tempo para se tornarem visíveis. “É só a partir dos 5, 6 anos que a criança começa a ter maturidade neurológica para ter um controle maior dos seus impulsos. Tanto que a alfabetização começa nessa fase. Justamente porque já tem uma capacidade maior do controle, do impulso, da vontade”, esclarece Sabrina.

Ressalvas

Já a doutora em Educação e supervisora do Serviço de Psicologia Escolar do Colégio Positivo, Maísa Pannutti, alerta que os pais não podem exigir que uma criança pequena tenha autocontrole. “Ela ainda não tem recursos emocionais e cognitivos para isso. E, exatamente por não ter, que o adulto tem que ensinar”, considera. A especialista também enumera aspectos que favorecem a prática dessa virtude:

  • “Em primeiro lugar, os pais devem validar os sentimentos da criança, as emoções que elas expressam. Porque muitos adultos desqualificam. O adulto nomear para a criança o que ela está sentindo e validar ajuda nesse processo de autoconhecimento. Ele pode dizer: “Eu sei que você está brabo. Eu estou vendo”. E aí vem e dá o limite, a explicação. Não quer dizer amolecer, mas nomear para a criança saber o que está sentindo”, sustenta Maísa.
  • Já quando a criança estiver em pleno ataque de birra, o melhor a fazer é dizer: “Estou vendo que você está brabo, então vamos fazer assim: Você vai lá para o seu quarto (ou outro lugar que a criança goste) e se acalma. Desse jeito não dá para gente conversar”. Veja que não é um castigo. Quando o adulto faz isso, está mostrando para a criança que ela tem que se controlar para ser atendida. Ou seja, dar espaço e tempo, sem castigo.
  • Por último, consistência. A psicóloga orienta manter os limites e as regras que já foram estipuladas em casa, sem afrouxar. “É preciso deixar muito claro, também, as consequências caso ela extrapole o que for combinado”, ressalta.
Deixe sua opinião