Apesar dos laços sanguíneos que os unem, o fato de morarem sob o mesmo teto e terem como exemplo principal as mesmas pessoas, nenhum irmão é igual ao outro, nem mesmo os gêmeos. A forma como cada um entende a vida ao seu redor é única, por isso o tratamento dos pais a cada filho também deve ser exclusivo e eles devem estar cientes de que cobranças motivadas por comparações nunca trazem bons resultados.
Na ânsia de que um dos filhos seja tão aplicado nos estudos quanto outro, ou que este tenha um senso de organização tão desenvolvido quanto aquele, os pais podem acabar prejudicando o crescimento psicológico de seus filhos. “O discurso: ‘todos os meus filhos são iguais para mim’, não deveria existir”, aponta Graciela Sanjuta, psicóloga e professora do Centro Universitário Autônomo do Brasil (UniBrasil). Para ela, esse tipo de afirmação não é válida, e pode ser até cruel, porque tende a sempre menosprezar algum dos “avaliados”.
Um argumento comumente usado para justificar comparações é o de que “se eu não der um exemplo, como é que meu filho vai aprender?” O problema com esse raciocínio é que a criança aprende pela imitação e não pela comparação. Dar exemplo não é enaltecer a qualidade de um em detrimento de outro. “A imitação é um processo de aprendizagem e ela precede o carinho, o amor e o gostar”, diz Rafaela Teixeira, psicóloga do Paraná Clínicas. A criança tende a aprender com quem ela admira e não com quem lhe parece inatingível, explica a psicóloga.
Uma atitude perigosa
Por estarem ainda em desenvolvimento, as crianças pequenas não conseguem entender quando aquela recomendação do pai ou mãe é válida somente para aquela situação em si, ou se vale é para o todo. “Quando faço a comparação tenho que explicar em que de fato ela poderia se espelhar”, alerta Graciela. E ela pode não compreender, porque não tem bagagem para discernir uma coisa de outra e então acaba achando que é sempre pior do que seu irmão, em tudo.
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Por não se achar boa o suficiente dentro da própria família, a criança que se sente inferior aos irmãos passa a ter problemas de autoestima e autoconfiança. Ela não consegue equilibrar os sentimentos e por isso não se descobre e nem se compreende. “Não sabendo ressaltar suas qualidades e características ela não constrói sua individualidade”, diz Rafaela. Ela explica, inclusive, que essa situação pode ser um empecilho para a formação dela quando adulta.
Cultura?
Em alguns casos, pais que comparam demasiadamente os filhos o fazem por influência da cultura da família. É comum, segundo Graciela, que esses pais também tenham passado por um processo semelhante em sua infância. “Eles foram comparados a seus irmãos e se incomodaram com isso, mas do ponto de vista da repetição inconsciente, acabam reproduzindo o posicionamento dos seus pais”, diz ela, lembrando que o desejo de mudar até existe, mas na lógica do automatismo, esse pai simplesmente refaz os passos que ele viveu quando criança.
Como mudar
Ao perceber, por exemplo, que a criança passou a ser mais introspectiva do que costuma ser ou tem deixado de realizar determinadas tarefas por não se achar capaz, sem ao menos tentar, os pais devem ficar atentos. Nesse caso convém uma autoavaliação dos métodos de educação utilizados em casa. “Não pense que está fazendo o máximo e que não precisa melhorar”, recomenda Rafaela.
Vendo que estão falhando nessa questão, cabe aos pais procurar novas literaturas, conhecer outros métodos e trocar experiências. É válido também aprender a ressaltar as qualidades de cada indivíduo, mostrando àquela criança que todas as pessoas são boas em algo e que suas habilidades são valiosas também. É muito importante estimular sua individualidade e mostrar que ela pode resolver problemas sozinha. “Trata-se de começar a lhe ensinar as coisas pela orientação. Um dia você arruma o quarto com ela olhando e no outro ela tenta sozinha”, indica Rafaela. Assim ambos aprendem que cada um tem seu modo de realizar e ter êxito nas mesmas tarefas.
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