Todo pai sabe que seu filho vai tropeçar, cair e chorar diversas vezes até aprender a caminhar. No entanto, poucos percebem a importância que as primeiras quedas têm para ensinar uma das lições mais importantes da vida: resiliência. “Acabam ficando em cima da criança o tempo todo e, quando veem que dá uma escorregadinha, já erguem o filho e não o deixam cair”, comenta a mestre em psicologia Iara Laís Raitz Baratieri.
Segundo ela, essa proteção excessiva impede que o pequeno aprenda a lidar com dificuldades e desafios que a vida apresentará e ainda afeta negativamente sua autoestima. “Isso porque, ao mesmo tempo em que os filhos percebem que os pais estão ali para ajudá-los, também entendem que não dão conta de fazer aquilo sozinhos”, explica a especialista, que aponta o mesmo erro na educação de adolescentes. “Nessa idade, o filho pensa que os pais não acreditam nele porque, se acreditassem, não fariam aquela tarefa em seu lugar”.
Para evitar essa mensagem equivocada na educação da pequena Valentina, a curitibana Manoela de Souza Castro decidiu abrir espaço para que a menina enfrentasse “riscos calculados” e aprendesse, desde cedo, a lidar com problemas, adaptar-se a mudanças e superar obstáculos. “Quando ela cai e chora, por exemplo, eu não digo que ‘não foi nada’, mas valido o sentimento dela, falo que logo vai passar e que precisamos levantar para continuar tentando”, relata a assistente de parto de 30 anos.
Essa atitude, de acordo com a psicóloga, é essencial para ensinar resiliência à criança e ainda fortalece sua saúde emocional, pois demonstra que a tristeza e dor que está sentindo são importantes, mas também passageiras. “Você mostra que cair, chorar e sofrer fazem parte do caminho e que não é preciso desistir por causa disso”.
“Você mostra que cair, chorar e sofrer fazem parte do caminho e que não é preciso desistir por causa disso”
A mesma sensibilidade é necessária para ajudar os filhos a vencerem seus medos. Então, Manoela e o marido Thomas Selmer procuraram entender os motivos que levam a filha a evitar algumas brincadeiras ou situações, e apresentam argumentos que a estimulem a enfrentar suas inquietações. “Até porque sempre fui medrosa e deixava de fazer várias coisas quando era criança. Então, me esforço para não passar isso à Valentina e mostro que ela é capaz de fazer o que quiser”, afirma a paranaense, que atualmente ajuda a filha a superar o pavor de agulhas.
De acordo com ela, a garotinha de quatro anos sofreu uma grave crise de asma em dezembro de 2018 e foi internada. “Furaram ela sem eu estar junto e isso a deixou muito assustada”, recorda a mãe. “Agora, nós sempre procuramos falar quando algo pode machucá-la, pedimos que tome cuidado nessas situações e que seja corajosa quando precisar”, completa a doula, que já percebe certa resiliência nas atitudes da filha e vê que ela realmente confia nos pais.
Além disso, o incentivo para enfrentar dificuldades e alguns “riscos calculados” também prepara a criança para educar seus filhos no futuro. De acordo com a mestre em psicologia Iara Laís, isso ocorre porque a superproteção que muitos pais demonstram hoje é, na verdade, um reflexo da forma que foram criados. “Ou seja, aquilo que esses pais viveram na relação com seus pais aparece nas dificuldades e facilidades que encontram na educação de seus filhos”.
Por isso, é necessário uma autoavaliação para verificar se suas atitudes são superprotetoras e decidir acompanhar a próxima geração durante o percurso , sem carregá-la o tempo todo. “Não faça as coisas por seu filho para preservá-lo das dificuldades, mas esteja ao lado para orientar, acolher e permitir que ele viva suas dificuldades e erros”, aconselha a especialista. “Assim, a criança perceberá que é capaz de enfrentar as dificuldades e estará preparada para isso”.
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