A amizade é como um tesouro que não pode ser roubado, não envelhece e pode durar pelo resto da vida. Ainda pequenas, as crianças já começam a se relacionar com seus pares e a criar laços tão fortes que superam o tempo e a distância. Segundo a psicóloga Michelle Tesch, especialista em psicoterapia cognitiva-comportamental na infância e adolescência, as amizades propiciam às crianças oportunidades de desenvolvimento de competências, criam um campo em que elas podem expressar suas emoções e promovem apoio e segurança.
Yasmim Corrêa Bezerra, psicóloga especialista em psicoterapia analítico-comportamental, acrescenta que o ser humano tem necessidade de interagir para evoluir biologicamente e emocionalmente e a aquisição psicossocial durante a primeira infância é primordial para o seu desenvolvimento global. Ela explica que entre 3 e 5 anos de idade há um aumento sistemático de comportamentos pró-sociais e a criança passa a apresentar maior facilidade de se aproximar e interagir com umas com as outras. Porém, de 5% a 10% delas têm dificuldade no relacionamento com seus pares.
As causas para esse comportamento estão, por vezes, no ambiente familiar restrito, o que gera pouco contato com outras crianças; na falta de incentivo para frequentar espaços públicos de diversão; e nos pais com personalidade mais fechada e poucos amigos, o que dificulta a observação de um modelo para aprender as habilidades em fazer e manter as amizades.
“Características individuais da criança poderiam ser a causa, como uma baixa tolerância à frustração ou timidez excessiva. Todavia é importante também avaliar os contextos nos quais a criança está inserida, pois não podemos apenas individualizar a causa na criança, que pode por exemplo estar sofrendo bullying ou uma rejeição por parte de um grupo”, destaca Michelle.
Rede de apoio
Fernanda Volpi Grande, psicóloga de família e infantil, esclarece que a timidez pode colaborar para o isolamento social, contudo, não é determinante. “Neste caso, os pais e a escola precisam respeitar a característica da criança e oferecer, de um modo mais sistemático e mediado, a oportunidade de socialização e estimular o enfrentamento das situações aversivas gradualmente”, sugere.
O sentimento de solidão é apenas uma das consequências de não se ter amigos. De acordo com Michelle, estudos apontam que a ausência de amizades está associada ao estresse, que por sua vez pode provocar sintomas físicos, como dores de barriga e de cabeça, e problemas psicológicos. Fernanda ressalta que as dificuldades de relacionamento ainda podem provocar dificuldades escolares e até desencadear ansiedade e depressão. “A falta de amizades na infância não é favorável ao desenvolvimento infantil e pode impactar a adolescência e vida adulta de diversas maneiras”, observa.
A rede de apoio é muito importante para a criança, por isso os pais devem interferir quando identificarem comportamentos de isolamento. As especialistas aconselham os pais a:
- Estarem atentos as mudanças de humor e comportamento;
- Destinar um tempo para conversar com seus filhos, escutá-los para acolher suas dificuldades e elogiar seus esforços e conquistas;
- Ensinar habilidades como empatia, autocontrole, regulação emocional e resolução de problemas;
- Lembrar da própria infância e se colocar no lugar da criança para validade suas emoções;
- Promover oportunidades de interação social, como visitar parentes ou frequentar espaços públicos;
- Reforçar comportamentos e habilidades sociais importantes para se fazer e manter os amigos. Os pais podem elogiar o filho por ter brincado com outras crianças, por respeitar as diferenças ou até mesmo resolver um conflito com um amigo;
- Verificar se a dificuldade de relacionamento da criança está associada à exclusão por parte dos colegas, bullying, falta de habilidades sociais, timidez, entre outros fatores;
- Buscar o apoio de um especialista que irá identificar a razão de não ter amigos e traçar estratégias e ações de socialização conjuntas entre escola e família;