Na rotina familiar de Marcos e Daniela, hábitos simples são cultivados desde o nascimento dos filhos, pois fazem parte intrínseca da vida espiritual do casal.| Foto: Arquivo pessoal/Daniela Charamba
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Muitas famílias seguem a mesma fé que lhes foi transmitida por várias gerações e outras pessoas iniciaram no caminho de vida interior após adultos, sem qualquer herança familiar, buscando por si próprios tal vivência. Independentemente do momento quando a prática espiritual iniciou na família, é unânime o desejo de que os filhos a sigam desde criança, buscando a repercussão em sua vida adulta.

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Escolas confessionais, grupos de jovens, congregações religiosas, catequese ou escola bíblica são meios que podem contribuir para a formação dos jovens na fé. Entretanto, não superam a influência dos pais com a prática da fé pessoal na transmissão da espiritualidade para os filhos, por meio da prática religiosa diária na rotina familiar.

A transmissão da fé pode se dar de inúmeras formas. Mas existem atitudes que os pais podem tomar e que contribuem para que ela seja assumida de forma autêntica pelas próximas gerações, ultrapassando as dificuldades que a sociedade atual pode apresentar, conforme acredita Christian Smith, sociólogo, estudioso da educação religiosa e autor do livro Handing Down the Faith: How Parents Pass Your Religion to the Next Generation.

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  • Ser autêntico: as crianças conseguem distinguir a realidade da farsa, portanto é importante que os pais acreditem, pratiquem e vivam a própria religião de forma autêntica e verdadeira, sem querer demonstrar uma vida espiritual diferente daquela que é a praticada.  
  • Modo de relacionar-se: o modo que os pais constroem relacionamentos afetuosos e de autoridade com os filhos é primordial para a transmissão de qualquer ensinamento e formação do desenvolvimento infantil, devendo ser adotadas condutas afetuosas e de empatia, acrescido de limitações e ordens das tarefas diárias, passando segurança aos menores.
  • Conversas rotineiras sobre a fé: diálogos sobre a fé e vida espiritual devem ser uma prática habitual da vida familiar, presentes em qualquer momento do dia, de modo que os filhos se sintam à vontade para conversarem e questionarem quando quiserem, sobre o que acreditam, e sem o receio de serem julgados.
  • Meios facilitadores para internalização: embora as influências não familiares, como congregações, grupo de jovens e escolas confessionais não interfiram de maneira significativa para transmissão da fé, podem contribuir para formação do indivíduo, possibilitando a troca de experiências com outras pessoas da mesma profissão religiosa e ajudam a personalizar a religião internamente.

Além destas atitudes, o sociólogo destaca que a transmissão da fé deve ser realizada de modo natural. Isso influencia para que, à medida em que as crianças se tornam adultas e pensam por si mesmas, elas decidam acreditar e praticar sua própria fé, mais do que apenas seguir os mesmos passos que seus pais.

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A palavra convence, o exemplo arrasta

Desde o nascimento do primeiro filho, Daniela Charamba, psicóloga de formação e mãe de três em tempo integral, e Marcos Farias, desenvolvedor de software, buscaram transmitir a fé que possuem para os filhos Beatriz, de 9 anos, Miguel, de 7, e João com 4.

Embora ambos sejam católicos praticantes atualmente, não receberam a mesma formação católica pelos seus pais quando eram menores. Marcos, ainda que não possuísse o incentivo dos pais, teve contato com a fé católica através dos colégios em que estudou e pela participação na preparação dos primeiros sacramentos (primeira comunhão e crisma). Quando adolescente, por convite da sua irmã, participou de encontros de jovens, tomando a decisão de seguir a fé católica.

Daniela, por meio do exemplo e incentivo materno, sempre participou de celebrações religiosas. Mas sua fé só se solidificou com o auxílio do mesmo grupo de jovens que frequentava seu marido. Ali foi o lugar em que puderam formar amizades que se tornaram bons exemplos de fé até hoje.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]

O casal acredita que a vivência da religião transforma e molda a relação entre pais e filhos. “A vivência da caridade e generosidade, a prática das virtudes, o espírito de serviço, o zelo e a noção de que amor e sacrifício estão interligados, estreitam os vínculos e o elevam a outro nível, no qual a felicidade do outro passa a ser mais importante que a própria”, destacam.

Daniela conta que desde que seus filhos nasceram, sempre acompanharam o casal nas atividades religiosas. E isso, ainda que as crianças não estivessem no melhor humor ou com a melhor concentração, pois nunca lhes foi dada a opção de não ir. O casal sempre explica aos filhos, que a prática espiritual vai além da disposição e dos caprichos pessoais. “Para eles é natural ir à missa toda semana, não nos questionam e fazemos questão de começar o nosso domingo com a celebração pela manhã, para que eles estejam descansados e possam oferecer o seu melhor a Cristo”, diz.

"Se os direcionarmos bem, vão chegar à idade do entendimento com uma base, com a vivência de bons hábitos, cultivando virtudes e sabendo o que realmente importa", diz Daniela Charamba. Foto: Arquivo pessoal

Segundo eles, as crianças nunca estranharam a prática religiosa, já que desde cedo estão em contato com a doutrina católica. E isso agora foi intensificado pelo país em que passaram a residir há três anos: a Polônia, no qual a cultura também contribui para tanto. Além disso, quando surgem dúvidas a respeito da fé, Daniela explica que sempre procura responder de maneira simples, numa linguagem em que as crianças possam entender, aprofundando as respostas de acordo com a idade de cada uma.

Na rotina familiar, alguns hábitos simples são cultivados desde o nascimento das crianças, pois fazem parte intrínseca da vida espiritual do casal, como rezar antes das refeições e à noite, participar da missa aos domingos e celebrar datas festivas da igreja. E tão importante quanto ensinar, Marcos e Daniela buscam ser exemplos para seus filhos, porque entendem que as crianças aprendem por imitação. “Quanto mais pudermos dar testemunho da fé, mais incentivo real os nossos filhos terão e assim poderão aprender que a fé não só se prega, mas se vive, como Cristo o fez”, comentam.

Além disso, o casal cuida para que seus filhos não se sintam pressionados na vivência da fé, motivando-os a buscarem a veracidade do que sempre lhes dizem. “Claro que enquanto são novos irão nos acompanhar por obrigação, mas se os direcionarmos bem, vão chegar à idade do entendimento com uma base, com a vivência de bons hábitos, cultivando virtudes e sabendo o que realmente importa”, conclui Daniela.

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