De uma hora para outra, pais do mundo inteiro tiveram que se tornar os professores dos filhos. E diferentemente dos pais que já praticavam o ensino domiciliar, conhecido como homeschooling, os pais de crianças e adolescentes que frequentam a escola viram sua rotina virar de cabeça para baixo. Agora, o desafio é conciliar a educação dos pequenos, as horas de home office e as incessantes tarefas da casa, sem deixar de lado os momentos de descanso, lazer e descontração – ainda mais importantes para a saúde mental da família em tempos de isolamento social.
E não é só isso. Além de ter que dar conta de todas essas tarefas dentro de 24 horas, a família toda ainda precisa aprender a lidar e a respeitar o tempo de adaptação de cada um a essa nova realidade. É uma novidade tanto para os pais quanto para as crianças. Afinal, o ambiente que, antes, era um refúgio para descansar ao final de um dia cansativo de trabalho ou então um lugar onde as crianças passavam o dia brincando durante as férias, agora também é local de trabalho e de atividades educacionais. Mas o que fazer para virar essa chave?
A consultora educacional e coordenadora de EaD da Escola de Educação de Humanidades da PUCPR, Katia Ethiénne Esteves dos Santos, trabalha com educação há quase 40 anos e afirma que, antes de mais nada, é preciso olhar para tudo isso como uma oportunidade única e especial de aprender coisas novas de formas diferentes.
“Todo mundo colocou esse momento como um momento ruim, como um momento desfavorável à aprendizagem e é o contrário”, afirma Katia. “Essas crianças e adolescentes estão tendo uma oportunidade que nunca se pôde imaginar, de ter que realmente aprender de diferentes formas, de serem autônomos, de fazerem sua gestão de tempo, de ter que se organizar, seguir um cronograma, um horário para cumprir as atividades, então os pais têm que usar isso a seu favor”.
A beleza do cotidiano
Pensando em ajudar essas famílias, o Sempre Família também conversou com algumas mães que já conhecem os desafios e as alegrias de educar os filhos em casa: a pedagoga e mestre em Educação Kelli Fernanda Roznowski Göttems, que é mãe de seis filhos, e a também pedagoga e pós-graduada em desenvolvimento social e familiar Cibele Scandelari, mãe de quatro meninas. Ambas optaram, já há alguns anos, pelo método de ensino domiciliar, o homeschooling.
Muitos podem pensar que a rotina das famílias “homeschoolers” não foi muito afetada com a realidade da pandemia, mas segundo Cibele isso não é verdade. “Para nós, o mundo é a nossa sala de aula, então não poder sair, não poder encontrar os amigos, frequentar museus, praças, feiras, etc., afetou bastante nossa rotina”, explica. “O que não afetou foi o fato de que nossas aulas, aquelas aulas mais teóricas e o aprendizado em si continuou”.
E é aí que esses pais e mães podem ajudar as famílias que agora têm o ensino em casa como desafio durante a quarentena. Qual a rotina ideal de estudos? Como organizar o tempo? Como conciliar com o home office? Como lidar com as dificuldades de aprendizado ou com as birras durante os estudos?
Para começar, é importante lembrar que cada família tem seus hábitos, seus deveres, seus compromissos e suas prioridades, afirma Kelli. E por isso, “a rotina ideal é a que a própria família cria e que dá resultado”. Mas o fato de ter que pensar em uma nova rotina e ainda lidar com o estresse que tudo isso provavelmente irá causar – pelo menos no início – pode ser um pouco assustador para muitos pais.
Por isso, Cibele alerta sobre a importância de olhar para tudo isso com outros olhos. “Apesar das incertezas que esse momento de pandemia traz, é sempre bom tentar lembrar da beleza do cotidiano. Pode parecer teórico, mas não é”, explica a pedagoga. “Nossos filhos serão crianças por um curto espaço de tempo e serão adultos para sempre. Se os pais olharem para essa realidade com esse olhar, pode ser que o estresse do dia a dia tenha um outro sentido”, afirma.
Dicas
Reunimos as dicas e orientações da consultora educacional Katia, das mães Kelli e Cibele e preparamos essa lista para você que é pai ou mãe e está com dificuldades na educação dos pequenos. Lembre-se: mesmo nesse momento que parece desfavorável, os filhos estão aprendendo muito mais do que os pais possam imaginar. Confira as dicas das especialistas:
- Monte um quadro de rotina: pode ser em um papel, em um quadro ou até com lembretes em uma parede. É importante mostrar para as crianças que esse quadro é flexível, que ninguém está ali para obrigar ninguém a fazer nada, mas sim para ajudar. Anote os horários para alimentação, estudo, trabalho, banho, diversão, tudo!
- Faça testes para descobrir o melhor horário de estudo e trabalho: pode ser que seus filhos estejam mais atentos pela manhã e mais dispersos a tarde. Você só vai descobrir experimentando.
- Separe um local da casa para o estudo: se for possível, escolha um ambiente bem iluminado e arejado. Organize o local de uma maneira que as crianças se acostumem a colocar os materiais sempre no mesmo lugar. A ordem contribui para a concentração.
- Acorde antes das crianças: isso ajudará você a planejar melhor o dia sem interferências.
- Cuide das necessidades básicas da criança: alimentação, sono e saúde. Com isso atendido, a criança deve manter-se calma.
- Caso a criança ainda esteja manhosa, chorosa ou até muito brava por ter de fazer as atividades, dê a ela alguns minutos de atenção, normalmente ela está precisando que você a escute ou apenas a pegue no colo.
- Crianças adoram ajudar em casa: defina um horário para a limpeza e organização da casa e conte com a ajuda delas, mesmo com pequenos trabalhos elas podem contribuir muito. Além disso, as atividades da casa também podem ser utilizadas para ensinar. Enquanto elas põem a mesa, por exemplo, incentive-as a contar os lugares, os pratos, os talheres, etc.
- Não fiquem de pijama o dia todo: arrumem-se ao levantar, porque isso dá um ânimo especial para toda a família.
- Faça listas de tudo que precisa fazer no dia, por ordem de prioridade. Isso ajuda na organização e alivia a pressão de ter tanta coisa para fazer.
- Evite uso excessivo de eletrônicos, isso deixa as crianças irritadas. Estudar com a televisão ligada, nem pensar!
- Pesquise técnicas de foco e atenção que possam ajudar: Katia sugere a técnica Pomodoro, que consiste em deixar 25 minutos marcados no relógio para foco total em uma atividade e, depois, a criança tem 5 minutos para brincar, comer e fazer o que quiser. Depois de 4 sequências de 25 minutos de foco e 5 de intervalo, faça uma hora de descanso. “Essa técnica já é usada há muitos anos e realmente funciona”, afirma a educadora.
- Lembre-se também que as escolas estão dispostas a ajudá-los em qualquer dificuldade. Se for preciso, peça para diminuírem a demanda das disciplinas e atividades até que todos se adaptem.