Quantas vezes nos sentimos tocados de forma especial com uma dificuldade ou tragédia na vida de outra pessoa e, além de vivermos como se a dor também fosse nossa, buscamos ajudá-la a superar aquele momento? A compaixão é o sentimento que nos impele a um impulso altruísta para aquele que sofre e nos torna mais humanos frente aos problemas dos demais.
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“A compaixão é você olhar com carinho para o outro, para as necessidades, sofrimentos e situações que o outro vive, com um olhar afetuoso e acolhedor”, acredita Heloísa Arias, coordenadora do Programa de Formação Humana da Unidade Mananciais, do Colégio do Bosque Mananciais.
A virtude da compaixão muda a forma de enxergarmos o mundo, tornando tudo muito mais alegre e leve por sabermos que não estamos sozinhos, pois podemos dividir o fardo da vida com outras pessoas que nos amam e são amadas por nós. “Quando você olha para o outro com compaixão, você também é olhado, como um espelho. Tudo reflete: as boas atitudes que você tem com o outro refletem a você que também as recebe e é uma troca muito rica entre as pessoas”, diz Heloisa.
A psicóloga Dale Atkins e a assistente social Amanda Salzhauer, escritoras do livro The Kindness Advantage: Cultivating Compassionate and Connected Children (A vantagem da bondade: cultivando filhos compassivos e conectados, em tradução livre) demonstraram que a compaixão é inata nos seres humanos, que são programados biologicamente para escolherem o bem, em detrimento do mau.
Porém, ainda que a compaixão seja facilmente detectada na primeira infância, por estarmos imersos em uma sociedade individualista, é cada dia mais importante que as crianças sejam educadas de forma virtuosa, importando-se com as demais pessoas, buscando serem compassivas.
“Nós somos seres sociais. Nascemos dependendo de alguém e morremos dependendo de alguém. Não vivemos sozinho. Sozinho o ser humano não se cria. Então o ideal nosso é construir dentro do ser humano a capacidade de conviver bem com os outros, dividir suas coisas, acolher o outro”, destaca a coordenadora.
Educando para as virtudes
Todos nós sabemos que os filhos aprendem com o exemplo dos pais ou daqueles que os rodeiam. E, mais do que qualquer discurso, as atitudes vividas no cotidiano da família refletem diretamente no modo como a criança enxergará a vida e buscará ser virtuoso de forma natural, por isso é preciso estarmos diariamente atentos às nossas atitudes e formas de agir.
“Para criar os filhos nas virtudes, primeiramente temos que conquistar estas virtudes em nós. Cada filho traz para nós um ensinamento. A gente cresce com ele porque precisamos ensiná-lo, cada um com seu jeito próprio, sua dificuldade e sua luta distintas e nós precisamos lutar a luta de todos para poder crescer com eles”, explica Heloísa.
Ronald Pfaff acredita e diz comprovar, por meio do seu livro The Altruistic Brain (O Cérebro Altruísta), que estamos programados desde a infância para fazermos o bem. Contudo, “embora estejamos programados para isso, nós precisamos trabalhar nisso. Com a prática, podemos nos tornar realmente bons em agir com bondade”, diz o autor.
Há inúmeras situações no dia a dia que podem servir para educar nossos filhos para desenvolverem a compaixão, por meio da nossa prática de tal virtude. E para isso, Heloísa sugere que as crianças sejam incentivadas. “Ajudar para que os filhos sejam preocupados com o outro, fazer uma ligação para os avós ou para um amigo que ficou doente, fazer uma visita, convidar as pessoas para irem na sua casa ou visitá-los, tudo isso são formas de estar olhando para as necessidades do outro e exercendo a compaixão”, indica a coordenadora.
Mesmo na própria casa, em uma conversa entre marido e mulher, a compaixão pode ser exercida no interesse em saber como foi o dia do outro e se alegrar com as conquistas do cônjuge, ou oferecer ajuda frente às dificuldades, já que muitas vezes vivemos vidas paralelas que não se conversam durante boa parte do dia. “Vale a pena trocar experiências. E é assim que a gente faz com que a compaixão seja criada em nós e vivenciada pelos nossos filhos, que reproduzirão depois com os familiares e amigos".
Aberto ao outro
Dale Atkins e Amanda Salzhauer, acreditam que à medida em que modelamos a bondade para com nossos filhos e lhes oferecemos suas próprias oportunidades de praticá-la, eles se tornarão mais abertos e compreensivos com os outros. “Com essa mentalidade, é mais provável que encontremos e nos conectemos com diferentes tipos de pessoas, criando laços que de outra forma não seriam formados. Isso pode funcionar em ambas as direções, com nossa abertura atraindo outras pessoas para nós também”, citam as escritoras.
E, assim como nunca é muito cedo para motivar nossos filhos a se interessarem pela vida dos outros, se ao chegar na adolescência for observada a ausência da compaixão nas atitudes dos nossos filhos, ainda é tempo de motivá-los. Isso porque o ser humano é adaptável e sempre é tempo de aprender e recomeçar, claro que com persistência, determinação e vontade, inclusive quanto às virtudes que são um hábito criado.
“Devemos olhar a vida de outra forma, assim como na história bíblica do bom ladrão, que condenado e morrendo na cruz, no seu último minuto de vida, ganha de Jesus Cristo a oportunidade de alcançar o céu”, conta a coordenadora.