Talvez você já tenha passado por algum constrangimento em público ao negar algo para seu filho e ele reagiu com choro e escândalos desnecessários. Esse pode ser um sinal de que ele não sabe lidar com a frustração, aquele conjunto de emoções como a raiva, a ansiedade ou a preocupação, que são colocadas para fora quando um desejo não é atendido.
Siga o Sempre Família no Instagram!
Mas é possível aproveitar essa oportunidade para transformar esse sentimento em algo positivo. De acordo com a psicóloga Mariangela Gasparin, o indivíduo adquire experiência para lidar com decepções ao longo da vida. E ele pode aprender isso sozinho, mas se ainda na infância tiver a ajuda de um adulto, como seus pais, a tarefa fica mais fácil.
“Trabalhar as frustrações, desde tenra idade, auxilia a lidar melhor com situações que na vida futura não podem ser controladas”, diz. A especialista explica também, que a maneira como os pais devem orientar os filhos precisa levar em conta a fase de vida em que ele está e, jamais, fazer deles o centro da casa.
Mariangela reforça que é responsabilidade dos pais impor aos filhos rotina, regras e limites de forma que eles entendam que não são os donos do universo. Ou seja, não podem ter e nem fazer tudo o que querem no tempo deles. “A importância da correta formação da criança se mostra já na adolescência, quando diante das inúmeras dúvidas que o afligirem estará pronto para enfrentá-las, sem receio de fracassar. E assim, também será na vida adulta”, conclui a psicóloga.
Para a psicanalista Juliana Arrais, a frustração pode inclusive ser saudável durante o desenvolvimento da criança. Mas ela lembra que não é necessário que os pais causem propositalmente algum tipo de frustração em seu filho.
“A frustração é importante, mas vai acontecer diariamente de maneira natural e é preciso deixar que vivam a experiência. Ensinamos algo quando auxiliamos a criança a passar por esse momento da melhor maneira possível”, comenta. “Uma criança poupada das frustrações, que tem todos os seus apelos e desejos atendidos, tende a se desorganizar emocionalmente, pode desenvolver dificuldades no trato social e até se deprimir”, adverte.
A frustração faz parte da vida e a maneira como os pais lidam com esse sentimento em seus filhos, facilita o desenvolvimento da inteligência emocional e autocontrole deles. “Por si só, a frustração pode trazer bastante desorganização emocional, fazendo com que a criança entre em contato com sentimentos como a raiva e a agressividade”, diz. “Isso pode gerar choro e ‘shows’ em público. Quanto maior for o desejo da criança, maior será o escândalo”, salienta Juliane.
Para ela, isso não significa que os pais devam ceder e nem que precisem acrescentar maior carga à situação, reagindo com violência, ameaças ou promessas que não serão cumpridas. “Acolher o sentimento, validar e agir com empatia ao sofrimento que, para a criança parece real, pode ser um bom caminho”, aconselha a psicanalista.
Na prática
As especialistas indicam as devidas abordagens, de acordo com cada faixa etária, para que as crianças superem suas frustrações:
- Não compete aos pais a responsabilidade de se evitar as frustrações, mas, sim, de ensinar aos filhos como lidar com elas de maneira adequada.
- Acolher as emoções com empatia, lidando de maneira respeitosa em um momento oportuno, dependendo da idade da criança. Os pais devem conversar com a criança sobre a questão e propor condutas que sejam adequadas para os momentos de raiva gerados pela frustração.
- Para crianças à partir dos 2 anos, com linguagem e compreensão mais avançada, as conversas com frases simples e de fácil entendimento, ajudam. Oferecer duas ou três alternativas e deixar a criança escolher entre elas também traz para a criança a sensação de colaboração.
- É importante saber que se a frustração gera uma crise de birra ou choro, nada pode-se ensinar à criança. É preciso acolher com poucas palavras, tirá-la da cena, se mostrar compreensivo com seus sentimentos e, quando a crise passar, então é possível conversar e dizer para ela como se comportar quando sentir raiva.
- Acolher e direcionar as crises não significa ceder aos desejos da criança. Crianças de 5 anos em diante, tendem a ser ainda mais colaborativas se é dado a elas oportunidade. Fazer combinados com a participação da criança, ouvir seus sentimentos, compartilhar histórias suas e ajudá-las a pensar em boas alternativas para os momentos de frustração, são excelentes maneiras de ensinar resiliência, paciência, autocontrole e favorecer até a autoestima.
- Adolescentes, geralmente, são mais sensíveis e, pode ser que eles não expressem os sentimentos causados pela frustração aos pais, por exemplo. Nessa fase, poder contar com outros adultos, por quem os adolescentes desenvolvem confiança, é uma boa alternativa. Podem ser líderes de grupos (treinadores, professores, escoteiros, familiares próximos, líderes religiosos) ou podem ser amigos dos pais no auxílio com os adolescentes.