O vocalista do AC/DC, Brian Johnson, disse que foi o automobilismo e não o rock que o deixou à beira da surdez. Mas a sua saída recente de uma turnê pela América do Norte é um alerta para qualquer um que gosta de ouvir música alta, dizem especialistas.
O cantor foi diagnosticado com perda de audição induzida por ruído, uma condição que ameaça mais da metade dos jovens do mundo todo, segundo a Organização Mundial da Saúde. A OMS informou no último ano que 15 minutos de exposição a sons altos já são o bastante para causar danos e que o uso repetido de fones de ouvido coloca em risco a audição de adolescentes e jovens.
Para os pais isso representa um desafio: como controlar os hábitos dos filhos quando não está claro quando um som alto se torna alto demais? Os médicos sabem que um som acima de 85 decibéis pode danificar a audição em 8 horas de exposição (acima de 100 decibéis, bastam 15 minutos), mas sem um decibelímetro – os mais baratos dificilmente saem por menos de 200 reais – como medir o som?
“Nem um audiologista comum sabe”, diz o doutro Brian Fligor, audiologista-chefe da empresa Lantos Technologies, ao Deseret News. Inevitavelmente ocorre alguma perda de audição com a idade. Mas algumas orientações podem ajudam a prevenir que o seu filho de 15 anos chegue aos 25 com ouvidos de 55.
E não culpe o rock. “Música clássica é tão perigosa quanto heavy metal”, diz Fligor.
Como o som pode causar danos
A orelha humana, que está completamente desenvolvida antes do nascimento, consiste de três partes: a externa, a média e a interna. É na interna – o popular ouvido – que está a cóclea, um órgão em formato de espiral, cheio de fluido. Ali, estruturas microscópicas chamadas células ciliadas atuam no estímulo do nervo auditivo, disse ao Deseret a doutroa Melissa Tribble, audiologista pediátrica de Stanford.
“Explicando de modo simples, quando somos expostos a sons excessivamente altos, essas células ciliares e outras estruturas da cóclea podem se sobrecarregar, e quando elas se sobrecarregam com frequência, podem ocorrer danos nessas delicadas estruturas”, diz ela.
Quando o som é alto o suficiente para causar estrago, é game over: as células morrem e não podem ser regeneradas nem substituídas. Nós já nascemos com todas as que podemos ter.
“Perda de audição causada por excesso de barulho é algo que pode ser totalmente prevenido, mas é também totalmente irreversível”, diz Barbara Kelley, diretora-executiva da Hearing Loss Association of America.
O som não precisa ser doloroso para causar dano, explica Kelley. Um bebê exposto a música alta em uma festa de casamento pode ter a sua audição prejudicada mesmo se estiver dormindo, diz ela.
É claro que muitos adolescentes e jovens percebem que estão ouvindo música alta demais. O fato é que eles gostam de ouvir dessa forma. “Soa muito bom para eles; quanto mais alto, melhor”, diz Kelley. “E quando se é jovem você pensa que nada ruim vai acontecer”.
“Há um bom tanto de ciência por trás do nosso gosto por música alta”, diz Fligor. “Há uma dose a partir da qual a endorfina é liberada. E enquanto as consequências negativas não vêm tão cedo, as recompensas são imediatas”.
Quando fica perigoso
Quando se trata de identificar se uma música está alta demais, os pais devem se lembrar de um liquidificador e de um cortador de grama.
Geralmente, sons abaixo de 80 decibéis – mais ou menos o equivalente a alguém gritando – não causam danos, diz Fligor. “A maioria pode ouvir sons nesse volume o dia todo e tudo bem. Quando o volume sobre para 85 decibéis, mais ou menos o som que um liquidificador faz, é possível estar exposto por oito horas e ainda está tudo bem. Mas acima disso, o tempo seguro de exposição cai abruptamente”, diz ele.
O dano é cumulativo. Ouvir música por oito horas a 85 decibéis (ou por 15 minutos a 100 decibéis) pode causar perda de audição temporária ou zumbidos no ouvido, mas também provoca desgastes na orelha interna, diz Fligor.
“Dependendo do desgaste já existente, danos futuros podem ser permanentes. É por isso que geralmente demora alguns anos para que a exposição a ruídos gere uma perda auditiva perceptível, mas é claro que o que você já perdeu não se recupera mais e o dano só tende a se acumular a partir daí”, diz ele.
O que fazer
Tentar ouvir música em meio a outros sons – por exemplo, um adolescente com fones de ouvido no banco de trás do carro enquanto o resto da família conversa – pode aumentar os riscos, porque o ouvinte precisa aumentar o volume para superar o som que está competindo com a sua música. Fones com tecnologia redutora de ruído (noise-cancelling, NC) podem ajudar.
Shows ao vivo, no entanto, são especialmente perigosos, podendo emitir sons acima de 110 decibéis por horas. Mesmo que Johnson, do AC/DC, diga que teve a audição prejudicada devido a uma corrida automobilística, e não a quarenta anos de shows de rock, as pesquisas mostram que músicos sofrem perda de audição em maior proporção que a população em geral, incluindo musicistas clássicos.
Se o seu filho toca algum instrumento, é possível comprar tampões de ouvido com design específico para músicos. Qualquer pessoa regularmente exposta a sons altos deveria investir em proteção para os ouvidos.
Nos Estados Unidos, o National Institute on Deafness and Other Communication Disorders quer que as famílias passem a ver tampões e ouvido como tão necessários quanto capacetes. A instituição oferece recursos para pais em seu site, incluindo uma régua de sons interativa que ajuda a criança a entender o nível de decibéis de sons comuns como sirenes. É também uma boa ideia pedir ao pediatra um exame de audição, diz Keller.
Com informações do Deseret News.
Colaborou: Felipe Koller