Comunicativa, aplicada nos estudos e com um senso de organização impecável. É dessa maneira que Estefani Eloise, de 10 anos, é conhecida pela família e também na escola. “Quem convive, não sabe de onde vem tanta informação e dedicação”, diz a mãe da menina, Elisangela Novaes.
Ela é tão obcecada com as atividades escolares e tarefas de casa que ganhou essa fama de “perfeccionista”. “Minha filha é detalhista em tudo, com dever de casa e trabalhos escolares. Se ela não gosta do resultado, tenta mais duas vezes. É brilhante, mas perfeccionista demais, às vezes”, observa a mãe.
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Não é o caso da Estefani, mas algumas crianças por vezes exageram nessa disciplina, e acabam sofrendo com toda a situação. Em um primeiro momento essa situação pode parecer boa aos olhos dos pais, mas, por outro lado, esse comportamento pode gerar consequências sérias, gerando uma carga de estresse insuportável e se tornando até algo crônico.
“Não é uma questão natural e nem uma característica inata do ser humano”, aponta Naim Akel Filho, professor em psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). “Geralmente, a criança com um comportamento desse tipo é exposta a algum modelo ou processo de condicionamento em que recebeu uma carga extra de exigência”, diz . Isto é, durante seu desenvolvimento a criança incorpora padrões de aprendizagem vindos de um exemplo maior.
Ao perceber sinais de como irritabilidade, estresse e ansiedade na criança, partindo dessa busca por uma perfeição inatingível, é hora de os pais buscarem a ajuda de especialistas para inclusive, iniciar um processo terapêutico. “Esse comportamento perfeccionista faz a pessoa sofrer demais e não é um processo adaptativo, mas, sim, que a expõe a frustrações”, esclarece o especialista.
Cultura familiar
De acordo com a psicóloga Gleice Justo, o ambiente em que a criança vive influencia muito em traços de sua personalidade. “Algumas características surgem, geralmente, em seu primeiro grande meio social, que é a família“, diz. “Muitas vezes, os pais não reconhecem que têm esses traços de comportamento. Fazer uma autoanálise facilita na tentativa de ajudar a criança a reduzir os excessos de perfeccionismo que podem fazer mal e atrapalhar a vida”, orienta.
“Algumas características surgem, geralmente, em seu primeiro grande meio social, que é a família”
Os erros são passos necessários para o aprendizado. Reconhecer suas limitações é parte fundamental do desenvolvimento humano. Mas, no caso de um perfeccionista, não é tão simples assim. Nesse aspecto, Estefani tem um pouco de dificuldade e segundo Elisangela a menina tem para quem puxar. “Sou o tipo de pessoa que está na fila do supermercado e fica organizando as coisas por perto. Em casa somos todos ‘cricas’ com bagunça, até mesmo os homens da família”, reconhece.
Como evitar o perfeccionismo
Com as questões escolares, por exemplo, toda vez que Estefani recebe um boletim da escola ou vai fazer um trabalho de casa sempre se frustra com algo, comum para quem desenvolveu esse comportamento baseado em muita cobrança. As frustrações são bastante frequentes, segundo a mãe. “Ela está fazendo aulas de inglês e fica até tarde quando tem trabalho para entregar. Se não consegue terminar, fica triste”, explica Elisangela. “Mas essas pequenas frustrações ela tem tirado de letra, porque conversamos sobre o assunto em família”.
Quando os pais são muito exigentes com a criança, não toleram erros, são impacientes e superprotetores, eles acabam incentivando esse tipo de característica infantil. “A primeira dica é evitar, ou seja, prevenir o problema instalado. Os pais precisam descobrir com a criança essa característica”, explica Naim. “A mãe, por exemplo, é o maior modelo para a criança, um agente reforçador do comportamento infantil. Ela precisa aprender a lidar com sua autoexigência e, uma vez percebido, tem que modificar imediatamente”, aconselha Naim.
“O perfeccionismo está diretamente ligado a uma tentativa de controle, de manter tudo minimamente dentro de um contexto seguido”, afirma Gleice. “Quando passa dos limites, além da ansiedade, causa em casos mais graves até mesmo crises de pânico, que ocorrem quando a pessoa perde a sensação de que está no controle”, reitera a especialista.
Elisangela sabe que precisa passar para a filha que todo mundo tem suas limitações. Mas em algumas situações a menina passa dos limites. “A avó passa parte do tempo mimando ela, então ela tem a forma dela de arrumar tudo. Ninguém pode tocar nas coisas dela e se pegar algo tem que colocar no lugar”, revela Elisangela.
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